Bolsonaro: os executivos estão animados com a agenda pró-mercado do presidente eleito (José Cruz/Agência Brasil)
Karla Mamona
Publicado em 9 de novembro de 2018 às 15h10.
Última atualização em 9 de novembro de 2018 às 15h10.
(Bloomberg) -- A vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais do Brasil foi o gatilho para um enorme rali nos mercados financeiros. O entusiasmo também está tomando conta dos executivos de bancos, que vêem uma bonança à frente se o presidente eleito fizer o que é necessário para consertar a economia.
Apenas dois anos depois de reduzir drasticamente sua presença no Brasil, o HSBC Holdings está acelerando as discussões sobre a volta aos mercados locais com a criação de um banco corporativo e de investimentos completo, segundo uma pessoa familiarizada com os planos. O Citigroup está preparado para aumentar contratações diante da expectativa de mais negócios com os US$ 176 bilhões em investimentos em infraestrutura que espera para os próximos cinco anos. O Itaú Unibanco, o maior banco da América Latina em valor de mercado, disse que pode aumentar seu apetite ao risco devido à melhoria das perspectivas econômicas.
Bolsonaro, um capitão da reserva do Exército e legislador pouco conhecido, provocou um surto de otimismo depois de fazer uma campanha baseada em promessas de disciplina fiscal, eficiência do governo e repressão ao crime. Os banqueiros dizem que a promessa de promover uma reforma na Previdência mostra seu compromisso em fazer o que é necessário para o Brasil recuperar a credibilidade entre os investidores locais e internacionais.
"Foi um clamor por mudanças na liderança do país e temos grandes expectativas com as modificações que precisam ser feitas", disse Marcelo Marangon, presidente do Citigroup no Brasil. “Todo banco internacional está analisando” oportunidades de crescimento.
Até agora, a volta ao crescimento dos bancos esteve mais perto de um gotejamento do que de uma inundação, mas há sinais de que, após anos de cortes, Wall Street está testando as águas para um retorno significativo.
É uma reviravolta com relação ao passado recente, quando a pior recessão na história do Brasil e um escândalo de corrupção nacional levou à fuga de muitos bancos e muitos investidores quando o país perdeu o grau de investimento, as ações despencaram e o real atingiu uma baixa recorde. O HSBC anunciou planos em 2015 para vender todo o seu negócio no Brasil para o rival local Bradesco por US$ 5,2 bilhões. No ano seguinte, o Deutsche Bank reduziu pela metade o número de funcionários locais e o Citigroup passou a vender seus negócios de varejo como parte dos esforços globais para cortar custos.
Muitos desses bancos com planos de crescimento no Brasil já haviam começado a ficar mais otimistas com o país anteriormente, mas o resultado da eleição deu a eles um novo impulso de confiança. Os executivos estão animados com a agenda pró-mercado do presidente eleito, que, segundo alguns deles, pode ajudar a estimular o crescimento e impulsionar os negócios. O time de Bolsonaro está avaliando proposta para conceder autonomia formal ao Banco Central, revisar as leis tributárias e reduzir regulamentações.
Obviamente, os objetivos de Bolsonaro são ambiciosos e não há garantias de sucesso. O novo presidente tem uma alta taxa de rejeição - quase metade dos brasileiros não o suporta - em parte por causa de seu histórico de comentários depreciativos sobre negros, comunidades indígenas, mulheres e gays. Mas ele trouxe conforto aos investidores dizendo que nomeará Paulo Guedes, mestre pela Universidade de Chicago, como um super-ministro encarregado da economia e também com afirmações tranquilizadoras sobre a necessidade de disciplina fiscal.
O presidente global do Citigroup, Michael Corbat, visitou o Brasil na semana anterior à eleição para se reunir com os clientes, em um aceno ao compromisso do banco com o país, de acordo com um porta-voz da empresa.
O banco tem investido em seu negócio de atacado para poder aproveitar qualquer aumento em financiamento de projetos, fusões e aquisições e ofertas no mercado de capitais, disse o presidente no Brasil, Marcelo Marangon. O Citigroup planeja aumentar o número de funcionários em seus negócios de infraestrutura, corretagem e middle-market, disse ele.
"Podemos precisar elevar os investimentos apenas para lidar com o fluxo de transações", disse Marangon. "Estamos em uma posição única para continuar a crescer nosso core business no Brasil de forma a manter ou até mesmo aumentar a relevância do Brasil no Citi globalmente."
Jamie Dimon, presidente global do JPMorgan Chase, viajará a São Paulo para uma reunião com clientes em 27 de novembro, como parte de uma viagem mais ampla a outros países da América Latina, incluindo Argentina e Chile, segundo uma pessoa familiarizada com sua agenda. Dimon fez uma visita semelhante no ano passado, mas desta vez terá a chance de se conectar com clientes com uma visão mais firme sobre as perspectivas do país, agora que as incertezas eleitorais já passaram.
O presidente do JPMorgan no Brasil, José Berenguer, disse no mês passado que estava otimista com o país, em parte porque a eleição de Bolsonaro pode significar mais concessões públicas e parcerias público-privadas.
Os executivos do HSBC, por sua vez, têm considerado uma maior presença no mercado de banco de investimento e corporativo no Brasil, uma vez que o acordo de não-competição com o Bradesco acaba após o final deste ano, segundo pessoas a par do assunto. A possibilidade de um retorno estava na mesa antes da eleição, mas uma perspectiva positiva após a vitória de Bolsonaro fornece outro motivo para expansão, disse uma das pessoas. O banco afirmou em 2015 que planeja manter uma "presença bancária modesta" no país e atualmente emprega cerca de 50 pessoas. Um porta-voz do HSBC preferiu não comentar.
Os bancos locais também estão considerando ajustes em suas estratégias. O Itaú pode começar a fazer empréstimos para empresas e indivíduos de maior risco de crédito, já que uma economia robusta aumentará as chances de ser pago de volta, de acordo com o presidente Candido Bracher.
"Estou muito impressionado com as primeiras coisas que estamos ouvindo" do novo governo, disse Bracher em teleconferência com investidores.
Ainda assim, Bolsonaro precisará afirmar constantemente seu compromisso de endireitar a economia, e, quando ele tomar posse, os investidores vão querer ver ações o mais rápido possível.
"Se formos capazes de ver as medidas sendo tomadas na direção certa sobre a reforma previdenciária, a tributária e a política, isso trará muita confiança", disse Marangon.