Dólar se aproxima de patamar que pode levá-lo a R$ 5,88, alerta Société
Moeda americana subiu para R$ 5,67 e pode testar novo patamar se atingir R$ 5,70, segundo banco francês; real é a segunda moeda emergente com maior volatilidade
Da Redação
Publicado em 9 de abril de 2021 às 20h19.
Última atualização em 9 de abril de 2021 às 20h26.
O dólar teve forte alta nesta sexta-feira, superando 5,68 reais no pior momento do dia e oscilando mais de 11 centavos de real na sessão, com investidores temerosos sobre o rumo da política fiscal caso o Orçamento seja sancionado sem vetos.
O dólar spot (à vista) subiu 1,80%, para 5,6748 reais. A moeda variou de 5,5700 reais (-0,08%) a 5,6853 reais (+1,99%).
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Operadores do mercado comentaram sobre notícias de que pareceres da Câmara e do Senado recomendariam a sanção sem vetos do Orçamento e que, entre as opções para recompor as despesas obrigatórias, seria possível recorrer a um projeto de lei ou um decreto.
O mercado teme uma maquiagem fiscal, o que poderia colocar em xeque o teto de gastos -- e, por tabela, a permanência no cargo de Paulo Guedes, ministro da Economia, que já vem acumulando reveses em temas fiscais.
O conflito em torno do Orçamento agora acontece em meio a ruídos tanto do governo quanto dos parlamentares em relação ao STF (Supremo Tribunal Federal), cujo ministro Luís Roberto Barroso na véspera determinou a abertura de uma CPI no Senado para investigar a gestão do combate à pandemia de Covid-19 no Brasil.
"Agora pode sair qualquer coisa no fim de semana", disse Luis Laudisio, operador da Renascença, referindo-se à postura mais defensiva dos agentes que gerou nesta sessão fortes movimentos nos mercados de câmbio e de juros. As taxas de DI chegaram ao fim da tarde em rali de mais de 15 pontos-base (ou seja, de mais de 0,15 ponto percentual).
No câmbio, o real de longe teve o pior desempenho no mundo, em dia marcado por fortalecimento global da divisa americana, mas em magnitude bem mais moderada lá fora do que aqui.
O Banco Central , apesar disso, evitou anunciar operações de venda de moeda. Autoridades do BC, incluindo o presidente Roberto Campos Neto , voltaram a tratar do câmbio nesta sexta, afirmando que o BC monitora os efeitos da desvalorização cambial sobre a inflação, mas sem realizar atuações no mercado com objetivo de amenizar pressão sobre os preços.
Campos Neto chegou a afirmar que o dado do IPCA de março divulgado nesta sexta-feira corrobora a perspectiva de nova alta de 0,75 ponto percentual na taxa Selic na reunião de maio.
Para o mercado, com as leituras mais recentes de inflação surpreendendo para baixo, ainda que de forma discreta, o BC pode se sentir mais confortável para implementar um ciclo de aperto monetário menos robusto, o que teoricamente seria ruim para o real.
O juro baixo é um dos elementos citados por analistas como catalisador de maior volatilidade cambial. A volatilidade implícita das opções de dólar/real de três meses -- uma medida do grau de incerteza sobre a trajetória da taxa de câmbio -- subia nesta sexta para 18,08%. Trata-se de uma alta discreta frente à véspera, mas suficiente para manter a medida acima dos 16% do fim de fevereiro.
Testando o piso de R$ 5,70
O real é a segunda moeda mais volátil no mundo emergente, superada apenas pela lira turca.
"O Brasil virou um 'soft trading'. É muito difícil carregar posição no Brasil", disse Roberto Serra, gestor sênior de câmbio da Absolute Investimentos, que segue com posições em carteira apenas marginais no real. "Muito se fala sobre o prêmio de assimetria com os ativos do país, mas isso está aí há tempos e nada acontece", completou.
O dólar foi a uma máxima de 5,6853 reais na sessão. Estrategistas do Société Générale avaliam que o rompimento de uma resistência técnica em 5,70 reais pode abrir caminho para a moeda testar 5,88 reais.
"Um movimento além de 5,88 reais será essencial para denotar a próxima perna da tendência de alta para projeções de 5,97 reais/6,00 reais", disseram em nota.
Na semana, o dólar ainda acumulou queda de 0,69%. A cotação sobe 0,79% em abril, elevando os ganhos no ano para 9,31%.
Em 2021, a moeda brasileira tem o terceiro pior desempenho global, atrás apenas do peso argentino e da lira turca.