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Dólar recua 4 sessões seguidas, mas vai cair mais? 4 analistas respondem

Moeda americana tem menor cotação em 3 semanas, mas fatores domésticos e externos podem colocar em xeque a trajetória de queda

A moeda americana tem forte oscilações neste início de 2021; veja o que esperar nos próximos meses (Lee Jae-Won/Reuters)

A moeda americana tem forte oscilações neste início de 2021; veja o que esperar nos próximos meses (Lee Jae-Won/Reuters)

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Marcelo Sakate

Publicado em 19 de março de 2021 às 21h19.

Última atualização em 19 de março de 2021 às 21h21.

O dólar fechou na cotação mínima em mais de três semanas nesta sexta-feira, 19, engatando a quarta queda seguida. A moeda ficou abaixo de 5,50 reais ao fim de uma semana marcada pelo aumento dos juros no Brasil e pela renovação da expectativa de ampla liquidez no mundo com os estímulos monetários nos Estados Unidos.

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O dólar à vista (spot) recuou 1,50%, negociado a 5,4839 reais na venda, o menor patamar desde 24 de fevereiro. A moeda americana não caía por quatro sessões consecutivas desde o começo de novembro do ano passado. O alívio nesta sexta empurrou o dólar para desvalorização de 1,36% no acumulado da semana.

A moeda cai 2,12% em março, mas ainda sobe 5,63% em 2021.

Emergentes reagem à alta dos juros

O real revezou com a lira turca o posto de moeda com melhor desempenho global nesta sexta, depois de os bancos centrais de Brasil e Turquia surpreenderem com elevações de taxas de juros acima do esperado nos últimos dois dias.

Na Turquia, o BC local promoveu um choque de juros com o aumento de 2 pontos percentuais na taxa, o que fez a lira saltar 4,8% na semana. Também ajudou na valorização o tom mais brando do banco central dos EUA sobre inflação, o que reforçou expectativas de manutenção de juros baixos até 2023. É um cenário que favorece os emergentes.

No Brasil, o Copom elevou os juros em 0,75 ponto percentual, para 2,75% ao ano, ante taxa de 2,50% esperada. O BC indicou que vai elevar a taxa para 3,5% ao ano na reunião de maio e que deverá haver novas altas até o fim do ano.

O que vai acontecer agora? 4 especialistas respondem

Analistas e economistas avaliam que a sinalização do BC de aumento da taxa básica de juros é positiva para o câmbio, mas ponderaram que o real segue influenciado por outros fatores.

Bernardo Zerbini, um dos responsáveis pela estratégia macro da gestora AZ Quest, lembrou que o comportamento do câmbio é muito influenciado pelo desempenho da moeda no exterior.

"É difícil afirmar que o dólar (no exterior) vai se enfraquecer. Os Estados Unidos vão crescer muito mais que outros países. Sobre a Covid-19, enquanto lá fora tudo parece estar meio parado, nos Estados Unidos a vacinação está acontecendo. Os EUA estão com cheiro de que serão o primeiro país a entrar de volta em uma vida normal", disse.

João Leal, economista da gestora Rio Bravo, chamou atenção para os reveses ao câmbio vindos do lado fiscal, avaliando que esse elemento limita a queda do dólar abaixo de 5,30 reais ou 5,35 reais.

"Não deve haver grande melhora na situação fiscal do país até o fim do ano", disse Leal. "Em setembro, outubro, a discussão eleitoral vai estar bastante intensa. Isso vai contribuir para manter o câmbio (dólar) mais alto."

Para os economistas Fabio Ramos e Roque Montero, do banco suíço UBS no Brasil, o real continua a se desviar de tradicionais elementos macro e de seus pares.

Segundo eles, apenas uma vacinação em larga escala e sinais claros de compromisso com reformas por parte de todas as esferas do governo podem reverter pelo menos uma parte das posições vendidas na moeda doméstica detidas por locais e estrangeiros.

Para Ramos e Montero, que assinam relatório distribuído a clientes, mesmo a aprovação recente da PEC Emergencial --que estabelece gatilhos para limitar aumentos de gastos -- foi vista pelos mercados como "pouco demais, tarde demais", devido à sua aprovação tardia e aos novos desafios.

Diante do contexto, o UBS elevou de 4,95 reais para 5,30 reais a expectativa para o dólar ao fim de 2021. A projeção para 2022 passou de 5,05 reais para 5,15 reais.

"Com viés limitado de alta para rendimentos dos Treasuries, a menos que a inflação convença os mercados, os drivers domésticos vão dominar o destino do real", disseram Ramos e Montero, lembrando que há tempo restrito neste ano para o progresso nas reformas, dado que, para eles, em novembro começa o período pré-eleitoral de 2022.

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