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Dólar em queda: é hora de planejar a viagem para o exterior?

Queda na cotação da moeda americana abre janela de oportunidade para compra; veja recomendações de especialistas para gerenciar o orçamento na viagem

Famoso bonde em São Francisco, nos EUA: com alívio na cotação do dólar, brasileiro volta a planejar viagens ao exterior | Foto: Andrew Wille/Getty Images (Andrew Wille/Getty Images)
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Beatriz Quesada

Publicado em 24 de janeiro de 2022 às 06h25.

Última atualização em 24 de janeiro de 2022 às 07h23.

Depois de disparar quase 37% no acumulado dos últimos dois anos, o dólar comercial ensaia um alívio em relação ao real neste início de 2022. A moeda americana recuou 0,99% na última semana, para a casa de 5,45 reais – com queda de 2,07% em janeiro.

Para o consumidor, o dólar turismo recuou cerca de 2,4% e passou a ser vendido em torno de 5,69 reais nas casas de câmbio em São Paulo. Para quem compra no cartão pré-pago, a cotação é de 6,03 reais. Os valores foram consultados pela EXAME Invest no site MelhorCambio.com por volta das 19h da última sexta-feira, dia 21.

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O dólar turismo, que é o comprado para viagens, é negociado a uma cotação maior que o comercial, utilizado por empresas, bancos e governos para operações no mercado de câmbio. Isso porque o dólar turismo conta com custos extras das casas de câmbio – que envolvem questões logísticase de seguro. É o que explica, inclusive, porque a cotação varia de acordo com a cidade em que o comprador está.

Em momentos como o atual, de aparente alívio na cotação, o brasileiro volta a olhar com interesse para o dólar, se perguntando se é ou não a hora de comprar a moeda americana para pagar a viagem para o exterior.

Apesar da cotação mais elevada, o valor do dólar turismo também caiu. Uma pessoas que adquirisse um dólar em 30 de dezembro do último ano pagaria 5,91 reais, sem contar as taxas da casa de câmbio. Na última sexta, era possível realizar a mesma operação por 5,69 reais.

O momento de alívio pode ser uma oportunidade de compra interessante para quem tem a intenção de fazer uma viagem ao exterior no curto prazo, como, por exemplo, ainda este ano.

Os 22 centavos podem parecer uma diferença pequena, mas em uma viagem com gastos de 3.000 dólares -- contando passagem aérea, hospedagem e despesas diversas, como com alimentação --, equivalem a uma economia de 660 reais.

A principal recomendação dos especialistas é comprar dólar aos poucos, para construir o chamado “preço médio”. Ao adquirir dólar parceladamente em diversas janelas de tempo, o comprador obtém diferentes cotações e, assim, se protege da variação do câmbio. Se a compra for feita muito perto da viagem, o comprador ficará refém da cotação disponível naquele momento – o que pode acabar pesando negativamente no orçamento para o passeio.

A dica vale principalmente para períodos de alta volatilidade no mercado de câmbio, como promete ser o ano de 2022. Isso porque anos eleitorais costumam ser períodos de incerteza nos mercados, com movimentos mais acentuados de altas e baixas na cotação -- em geral, mais de altas do que de baixas. Em 2018, por exemplo, ano da última eleição presidencial, o dólar acumulou valorização de 17%.

“Existe atualmente uma melhora na taxa de câmbio que acompanha um alívio na pandemia. Além disso, a valorização das commodities impacta positivamente a cotação das divisas emergentes. Porém tudo isso pode ser revisto em ano eleitoral. São períodos em que, historicamente, ocorre a depreciação do real”, explica Cristiane Quartarolli, economista e especialista em câmbio do Banco Ourinvest.

Quartarolli destaca ainda que o quadro fiscal é outro fator de preocupação para o desempenho da moeda brasileira frente ao dólar. Isso porque ainda não se sabe o que esperar do governo em termos de aumento de gastos.

O maior risco são novamente as eleições. Com o objetivo de tentar aumentar a popularidade do presidente Jair Bolsonaro até o pleito de outubro, o governo tem emitido sinais sucessivos de propensão a elevar gastos.

O recado mais recente nessa direção foi a afirmação de Bolsonaro de que está negociando com o Congresso uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para reduzir o preço dos combustíveis e da energia elétrica. A mudança em discussão, com redução de tributos, reduziria a arrecadação federal em cerca de 50 bilhões de reais por ano.

Esses são fatores que reforçam a necessidade de comprar dólar aos poucos quando o objetivo é viajar.

Angela Nunes, planejadora financeira pela Planejar (Associação Brasileira de Planejamento Financeiro), recomenda primeiro preparar o orçamento geral da viagem para entender quanto se vai gastar em dólar. O próximo passo é calcular quanto é preciso poupar mensalmente para chegar ao valor desejado até a data da viagem.

“Com o dinheiro poupado, é possível comprar mensalmente uma parte da quantia estabelecida. Se o comprador já tem um estoque de dinheiro separado para esse fim, é possível aproveitar algumas oportunidades de calmaria no mercado”, avalia Nunes.

A planejadora financeira alerta, no entanto, que os momentos de alívio são imprevisíveis. “É possível que não ocorra calmaria alguma e que a pessoa seja obrigada a comprar de forma mais acelerada, com uma cotação pior”, diz.

Como comprar dólar para viajar?

Os meios mais comuns -- mas não necessariamente os mais vantajosos -- para comprar dólar turismo são adquirir a moeda em espécie ou carregar um cartão pré-pago com dólar. Vale lembrar que o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) cobrado nas transações com dinheiro vivo é de 1,10%; e de 6,38% no caso do cartão pré-pago.

A grande vantagem do cartão pré-pago é oferecer maior segurança em caso de perda ou roubo, já que é possível cancelar ou bloquear o cartão.De qualquer forma, a recomendação é diversificar as fontes de dinheiro na viagem.

Uma alternativa que ficou disponível há menos tempo, mas que tem vantagens, é a conta internacional com cartão de débito em moeda estrangeira -- dólar e euro são os mais comuns. O cliente paga uma alíquota menor de IOF, de 1,1%, na conversão, além do spread sobre a operação de câmbio, em torno de 2%. A cotação leva em conta o dólar comercial, mais barato. O C6 Bank e a fintech Nomad são duas instituições financeiras que oferecem esse serviço.

Existe ainda a possibilidade de uso de cartão de crédito aceito no exterior, cujas despesas também sofrem a incidência do IOF com alíquota de 6,38%. Em muitos casos, a cotação de referência é a do chamado dólar Ptax, que expressa uma média de dado período. Em geral, ele fica acima do comercial e abaixo do turismo. Por outro lado, o gasto com o cartão de crédito deixa o turista exposto à variação do câmbio até a data de fechamento da fatura.

“Se o viajante for levar dinheiro vivo, é interessante levar um cartão de crédito internacional – ainda que não faça um cartão pré-pago. Assim existe uma segunda opção caso ocorra algum contratempo com as notas”, afirma Nunes.

O limite para viajar com dinheiro em espécie é de 10.000 reais (cerca de 1.830 dólares ao câmbio da última sexta-feira). Acima disso, o viajante precisa declarar o valor à Receita Federal. A regra, no entanto, mudará no início de 2023, com a entrada em vigor de medidas do novo marco cambial, que amplia a quantia para 10.000 dólares.

Como fazer uma reserva de dólar para viajar

Se o viajante deseja juntar certa quantia de dinheiro antes de começar a comprar dólares, a planejadora financeira indica que ele procure opções de liquidez diária – ou seja, que podem ser resgatadas no mesmo dia.

O ideal seria manter o dinheiro em contas digitais e sem custos, como a do PagBank ou do Nubank, que rendem o equivalente a 100% do CDI (acima do que é pago pela poupança, por exemplo).

Outras opções dentro da renda fixa seriam os títulos do Tesouro Selic ou um CDB com liquidez diária. Vale lembrar que, em todos esses casos, existe o pagamento de Imposto de Renda (IR) sobre o rendimento. E a cobrança é maior caso o resgate seja feito em tempo reduzido. Confira aqui quais são as taxas e os tributos para investir.

Para fugir da cobrança do IR, é possível buscar opções de investimento isentas, como as LCIs ou as LCAs. São títulos que não costumam ter liquidez diária, embora existam algumas opções que oferecem um resgate mais imediato após 90 dias de investimento. Ou seja, passam a ter maior liquidez depois de três meses.

No caso dos títulos, cabe um aviso. Se o investidor quiser resgatar o título antes do vencimento, também estará sujeito à flutuação da rentabilidade dos títulos, chamada de marcação a mercado. Trata-se da atualização diária do preço de um ativo de renda fixa ou da cota de um fundo de investimento pelo seu preço de mercado naquele dia.

É possível ainda investir em um fundo cambial, que acompanha a variação do dólar. A planejadora financeira, no entanto, alerta que esse tipo de fundo não oferece uma proteção completa por causa da marcação a mercado.

Ou seja, os fundos também sofrem atualizações diárias nas cotas que podem prejudicar o investidor de curto prazo. Para apostar nessa via, o ideal seria ter um horizonte mais longo de investimento, acima de dois ou três anos, o que acaba não sendo apropriado dado que, em tese, a perspectiva de viagem ao exterior tem prazo menor.

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