Andrade: diversificação não é obsoleta e deve desempenhar papel essencial para trazer retornos maiores aos investidores (BTG/Divulgação)
Karina Souza
Publicado em 21 de junho de 2022 às 19h49.
“Diversificar está longe de ser obsoleto. Mas só funciona se feito ‘com D maiúsculo’”. Essa é a opinião de Gregor Andrade, head global de desenvolvimento de negócios institucionais da AQR, compartilhada com outros executivos durante o painel de alocação global de ativos do Global Managers Conference 2022, evento organizado pelo BTG Pactual. E afinal, o que isso significa na prática? Saber aproveitar o melhor que cada classe de ativos tem a oferecer diante do momento macroeconômico atual. Ele garante: “É possível encontrar muitos ativos interessantes e que estão indo bem nesse ano”.
No detalhe, o que o executivo quer dizer é que não basta diversificar apenas classes de ativos, mas diferentes estratégias ao compor um portfólio de investimentos. Não basta começar com ações dos Estados Unidos, depois incluir papéis de mercados emergentes, na opinião do especialista, uma vez que são ativos com exposição similar à situação macroeconômica. “Tem que ir lá fora e buscar outros tipos de ativos. Pensar em commodities, bonds, realmente compor uma estratégia de diversificação a vários tipos de risco”, afirmou.
Para chegar lá, é necessário definir uma estratégia a ser seguida, um objetivo claro em mente – algo que especialmente os investidores de varejo têm dificuldade quando a situação fica desfavorável, segundo Max Widmer, gestor de portfólio da Invesco. O segredo, para o executivo, está em definir uma estratégia e permanecer nela para colher os benefícios em longo prazo.
Do lado da gestora, a abordagem é construir um portfólio que mira o longo prazo com a capacidade de fazer alguns ajustes de acordo com o momento econômico atual. “Nós somos muito cuidadosos ao selecionarmos empresas que entram para a nossa estratégia, estamos de olho em companhias mais maduras e acreditamos que esse é um plano que nos leva a ter resultados significativos, especialmente dada a situação atual dos mercados”, disse.
Para encontrar o balanço correto entre as diferentes classes de ativos, Andrade explica que é necessário ter visão histórica além da atual sobre o comportamento dos mercados. O exemplo citado por ele no painel foi o de que, nos últimos dez a quinze anos, ações e títulos tiveram uma correlação negativa – quando um subia, o outro caía –, um comportamento ligado à baixa inflação em mercados emergentes. Mas, olhando em um horizonte histórico maior, a verdade é que ações e títulos têm uma correlação positiva. Essa confusão pode atrapalhar gestores e trazer resultados negativos em excesso.
“Há uma geração inteira de gestores em mercados desenvolvidos que se acostumaram à ideia de investir em títulos e ações como forma de ‘hedge’ de um para o outro. O que acontece ao assumir que têm uma correlação negativa é que acaba-se comprando demais de ambos e, quando a queda vem, o tombo é maior do que poderia ser”, afirmou. Corrigir esse comportamento, na visão dele, depende de encontrar outros ativos que tenham uma relação positiva com a inflação em alta, como commodities por exemplo, dentro de um portfólio de investimentos.
A ênfase dos executivos durante a conversa é a de que a diversificação é um pilar essencial para atravessar o futuro – mesmo em fases difíceis como a atual. Ainda no assunto de procurar uma exposição variada ao risco, Phil Lee, gestor de portfólio da Mirae Asset, destacou o papel que a Ásia pode desempenhar daqui para frente.
“Indonésia, Cingapura e Malásia são ótimos mercados em, que estamos de olho nesse momento. Têm projetos de exportação e planos de longo prazo, alguns inclusive com commodities, e junto a isso a inflação em patamares extremamente baixos na comparação com outros países como Brasil e Estados Unidos”, disse.
A China também foi apontada como um potencial destino para investimentos, com certo cuidado. Em linhas gerais, o que o executivo apontou é que a China está interessada em desenvolver o próprio ecossistema de empresas com atuação local – como a BYD, de carros elétricos, por exemplo – e que investir em companhias chinesas acaba sendo mais vantajoso na bolsa de Xangai ou de Hong Kong do que em empresas chinesas listadas nos Estados Unidos, que recebem menos subsídios.
Em relação à Índia, o que Phil afirmou é que a empresa parece estar retomando um patamar de investimentos em infraestrutura e eficiência econômica. “Depois de dez anos, parece que isso está voltando. O problema por lá também é a inflação, mas temos uma visão otimista sobre o longo prazo. Estamos acompanhando, mas ainda com cautela por lá”, disse.
Em relação às perspectivas para o futuro de investidores brasileiros, o tom dos executivos foi o de não desistir da diversificação, mesmo em meio ao ambiente de juros altos. Uma das dicas unânimes foi a de procurar por ativos em mercados de capitais estrangeiros como opção para investir.
“É importante estabelecer uma estratégia e se comprometer com ela. Vender o que está indo bem e manter o que está indo mal. É necessário ter experiência para se sentir confortável em se aventurar por diferentes países e classes de ativos, mas é uma estratégia que tende a dar o melhor retorno em longo prazo”, disse Max.
Para empresas, as preocupações ESG também devem continuar no centro dos investimentos. Apesar de ainda ser um tema em discussão sobre os efeitos que pode de fato produzir, os executivos destacaram que – especialmente na Ásia – empresas de energia limpa podem encontrar um terreno fértil para crescerem nos próximos anos.