Mercados

Disparada continua pelo 6º pregão: até onde vai o rali do Ibovespa?

Especialistas veem, de forma geral, espaço para mais alta do índice, mas ressaltam que volatilidade deve permanecer elevada no mercado

Ibovespa marcou ontem sua quinta sessão seguida de alta, acumulando em novembro ganhos de mais de 10% (Amanda Perobelli/Reuters)

Ibovespa marcou ontem sua quinta sessão seguida de alta, acumulando em novembro ganhos de mais de 10% (Amanda Perobelli/Reuters)

PB

Paula Barra

Publicado em 10 de novembro de 2020 às 06h00.

Última atualização em 10 de novembro de 2020 às 10h47.

O Ibovespa engata nesta terça-feira, 10, sua sexta sessão seguida de ganhos, superando os 104.000 pontos nesta manhã, e acumulando em novembro, até o momento, alta de quase 11%. No radar, investidores respiraram aliviados com a definição da eleição americana e com os resultados preliminares positivos da última fase de testes da vacina contra Covid-19 desenvolvida pela Pfizer em parceria com a BioNTech. 

Quer saber qual o setor mais quente da bolsa no meio deste vaivém? Assine a EXAME Research.

Na visão de três dos cinco especialistas de mercado consultados pela Exame, tem mais alta ainda por vir até o fim do ano, uma vez que as incertezas que puxaram os mercados no fim de outubro -- eleições e pandemia -- foram reduzidas. 

Mas isso não significa o fim do vai e vem. Os riscos ainda permanecem no caminho, entre eles, a possibilidade de o novo pacote de estímulos nos Estados Unidos demorar mais do que o esperado para sair ou mesmo um atraso no desenvolvimento da vacina. Olhando para o Brasil, a pauta recai sobre o fiscal, ainda incerto. Com isso, embora, no geral, o cenário seja construtivo para os próximos meses, eles apontam que a volatilidade deve seguir dando as caras. 

Como define Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos: “Em linhas gerais, estamos positivos, mas sabendo que ainda há muito risco e a volatilidade deve perdurar”.  

Confira abaixo a opinião de cada um dos especialistas consultados pela Exame: 

Omninvest

“As bolsas subiram ontem em continuidade ao rali com o governo Biden. O mercado gostou da chance de os republicanos não perderem o Senado (embora ainda estejam na disputa duas cadeiras na Geórgia), o que não acarretaria em um aumento de impostos. Além disso, apesar de toda gritaria de Donald Trump, não é esperado que ele vá conseguir alguma reversão no resultado”, comenta Roberto Attuch, fundador e CEO da casa de análise Omninvest. 

Olhando para a alocação de ativos globais, Attuch comenta que os maiores beneficiados seriam papéis de empresas fora dos EUA e dentro das grandes democracias, como Europa e Japão. “Principalmente, porque Biden deve reconstruir laços com aliados tradicionais, e isso significaria mais comércio global, mais crescimento e poderia passar um pouco também por aumento de preço de commodities”, diz. Agora, nesse ambiente, o Brasil pode ser beneficiado, complementa, especialmente se for um pouco mais pragmático e mudar a condução de sua política ambiental. 

“Biden já sinalizou uma guinada de 180 graus na política ambiental, que vai entrar no acordo de Paris no primeiro dia de governo. Então, a pressão vai ser grande em torno desse assunto, mas, se o Brasil for inteligente, tem bastante potencial de valorização, até mesmo se olharmos o quanto a Bolsa brasileira está atrasada frente a outras no mundo”, comenta. 

Segundo ele, o Ibovespa tem bastante espaço para andar, mas o País precisa resolver a questão fiscal, conseguir manter algum nível de auxílio emergencial sem comprometer a trajetória da dívida e adotar uma política externa, assim como ambiental, mais pragmática. 

Por fim, ele diz que a notícia da vacina da Pfizer foi muito boa e é o que pode provocar uma grande rotação nos ativos, como visto ontem, de investidores migrando de empresas que se beneficiam do home office, ou as clássicas de tecnologia, como Netflix, Zoom, que caíram mais de 8% na bolsa americana na segunda, para companhias que ganham com a reabertura das economias (o chamado “reopening trade”), como as aéreas e empresas de turismo, que chegaram a subir mais de 20%, 30% na véspera.  

Exame Research

Para Bruno Lima, analista-chefe da Exame Research, o espaço para alta é “bem limitado”.  Segundo ele, a falta de clareza sobre como o governo irá endereçar a questão fiscal deve seguir impedindo que a bolsa alcance patamares mais elevados. “O principal retorno adicional viria da organização fiscal do Brasil ou, ao menos, com uma sinalização positiva para esse ponto. Mas a gente não vê nenhuma estratégia nessa direção”, afirma.

Lima também não acredita que o fatores externos devam seguir impulsionando o valor dos ativos no mercado local. “Na parte global, praticamente tudo de bom já aconteceu. Então, fica realmente  difícil enxergar grandes altas ou uma alta adicional para a bolsa até o fim do ano, já que a notícia da vacina já deu uma bela antecipada”, diz. “Para a gente não está muito claro que existe espaço para altas.”

Gauss Capital

Em relação à Bolsa, Guilherme Attuy, economista-chefe da Gauss Capital, ressalta que o resultado de uma vacina eficaz irá ajudar as empresas mais expostas ao universo físico, o que adicionalmente traz uma percepção de recuperação mais rápida (e reduz o risco de inadimplência dos bancos) e também parece ajudar o petróleo. Com isso, a gestora tem exposição aos papéis da Petrobras (PETR3; PETR4), que correspondem a 9,2% do índice, bancos, com cerca de 20% do índice, e consumo discricionário, com 12%. 

Para ele, em tal cenário, essas ações teriam espaço para bom desempenho até o fim do ano e empurrariam o Ibovespa para cima.

Já sobre o câmbio, Attuy aponta que vê algum espaço de apreciação do real frente ao dólar até o fim do ano, passada a eleição dos EUA e caso uma vacina seja anunciada, ainda que não tanto quanto algumas moedas possam se apreciar. 

Isso porque, se de um lado, o real descolou muito dos pares e cálculos de preço justo sugerem que a moeda estaria excessivamente desvalorizada, de outro, pesam contra uma valorização excessiva o overhedge dos bancos, que deve exercer uma força compradora no dólar até o final do ano, diz o economista. Além disso, Attuy menciona as incertezas fiscais, que devem continuar pressionando a moeda brasileira, em meio às discussões envolvendo a fonte de financiamento dos programas de renda mínima, assim como os riscos de extensão do pacote de auxílio emergencial.

Toro Investimentos

Na opinião de Paloma Brum, economista da Toro Investimentos, ainda há potencial de valorização no Ibovespa além dos 103 mil pontos observados ontem. Contudo, para que o índice brasileiro de ações continue nessa tendência de alta, é necessário que os indicadores econômicos das grandes economias e do Brasil continuem sinalizando uma retomada cada vez mais rápida e consistente, o que pode ser acelerado pela notícia de distribuição de uma vacina ou terapia eficaz contra o coronavírus. Além do mais, ela aponta a importância de haver um endereçamento claro e factível da questão fiscal no País. 

“Ou seja, avanços positivos em cada uma dessas pautas devem continuar se refletindo positivamente no mercado de ações brasileiro e, assim, fortalecendo a tendência de alta do Ibovespa”, comenta. No entanto, até que isso tudo aconteça, ela diz que espera por um mercado de ações bastante volátil no Brasil e no mundo. 

Por isso, a economista estima que o Ibovespa permaneça na região em torno dos 100 mil pontos ao final de 2020, ainda que venha a oscilar  entre os 95 mil e 105 mil pontos ao longo de novembro e dezembro. Isso porque, ressalta, a solução da pandemia continua incerta, a aprovação de novos estímulos nos EUA dificilmente irá acontecer por enquanto e a questão fiscal no Brasil é algo que não deve se resolver até o fim deste ano.

Para o câmbio, a expectativa é que o dólar finalize o ano na faixa entre 5,40 reais e 5,70 reais, uma vez que o cenário mencionado acima ainda deve trazer muita volatilidade para os mercados, diz.

Guide Investimentos

O mercado subiu com reduções de incertezas neste momento do ponto de vista eleitoral americano, tendo em vista que, com a vitória de Biden, as discussões sobre um novo pacote de estímulos devem ser retomadas, diz Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos. Ao mesmo tempo, comenta, teve a notícia da Pfizer, que traz perspectivas de que teremos uma vacina até o fim do ano, com distribuição em massa até o meio do ano que vem. “Isso reduz as principais incertezas que rondavam as bolsas no fim de outubro”, aponta. 

Já no Brasil, os debates de que o governo poderia romper com o teto dos gastos, o que trouxe bastante preocupação para o mercado, parece que não devem prosperar, o que seria também outro ponto negativo a menos, comenta. 

Com isso, ele diz que mantém a projação para o Ibovespa em 115 mil pontos até o fim do ano, o que daria um potencial de alta de mais de 10% frente ao patamar atual. No entanto, pondera, que esse pontos positivos destacados acima são também um risco, uma vez que podem não ocorrer da maneira como vem sendo desenhada pelo mercado, o que poderia trazer novamente mau humor para os ativos de risco, completa. 

“Em linhas gerais, estamos positivos, mas sabendo que ainda há muito risco e a volatilidade deve perdurar.”  

Outro ponto destacado por Esteter é a temporada de balanços do terceiro trimestre, que tem se mostrado, de forma geral, positiva, com bons números das empresas até o momento, mesmo com todos os desafios atuais. Com isso, em um cenário de retomada da economia, ele aponta que as companhias devem seguir divulgando resultados robustos e, uma hora, isso também vai acabar sendo traduzido para o preço das ações e, consequentemente, para o Ibovespa. 

É hora de seguir investindo em ações de varejo/finanças/construção/educação? Monte a melhor estratégia com os especialistas da EXAME Research.

Acompanhe tudo sobre:AçõesEleições americanasExame HojeIbovespavacina contra coronavírus

Mais de Mercados

A bolsa da América do Sul que pode ser uma das mais beneficiadas pela IA

Ibovespa fecha em queda com incertezas fiscais no radar; dólar sobe para R$ 5,59

Ações da Volvo sobem 7% enquanto investidores aguardam BCE

Reunião de Lula sobre corte de gastos e decisão de juros na Europa: o que move o mercado

Mais na Exame