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Damodaran, da NYU: “Brasileiros, relaxem”

O professor de finanças da New York University, Aswath Damodaran, é um dos maiores especialistas mundiais sobre avaliação do preço de ações e empresas. Em entrevista a EXAME Hoje, ele analisou o cenário de empresas como Petrobras e Vale e disse que o problema brasileiro não se resolve com o impeachment, mas com a mudança […]

DAMODARAN: O problema não é estar errado, mas rejeitar a possibilidade de estar errado / Divulgação
DR

Da Redação

Publicado em 12 de junho de 2016 às 20h19.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h33.

O professor de finanças da New York University, Aswath Damodaran, é um dos maiores especialistas mundiais sobre avaliação do preço de ações e empresas. Em entrevista a EXAME Hoje, ele analisou o cenário de empresas como Petrobras e Vale e disse que o problema brasileiro não se resolve com o impeachment, mas com a mudança na estrutura política. Conhecedor da economia nacional, ele ainda tem ativos da Embraer e da Ambev e tenta acalmar os brasileiros que pensam que a economia voltará aos patamares dos anos 90: “Relaxem, tudo vai ficar bem”. A partir desta segunda, Damodaran ministra dois dias de aulas sobre avaliação e finanças corporativas em evento da HSM.

A pergunta é antiga, mas segue cada dia mais atual. Qual a diferença entre preço e valor?
O valor é guiado por quão bom um negócio é: o quanto gera em retorno, o que gera de fluxo de caixa, o quanto está crescendo e o quanto é arriscado. Então, valor é o que ensinamos na sala de aula: como olhar para uma companhia e como avaliar. Preço vem de oferta e demanda. É dado pelo mercado. Em um mercado eficiente, o preço e o valor tendem a convergir. Mas em um mercado onde muitas coisas podem acontecer – e não só em mercados emergentes, pode ser em qualquer um -, as pessoas podem ser pegas pelo humor do momento. Isso pode ser bom ou ruim, mas o preço pode ser bem diferente do valor.

As dúvidas dos investidores sobre o Brasil continuam. Tirando as emoções de momento, estamos em situação muito diferente de outros países emergentes?
Qualquer democracia em países emergentes terá altos e baixos, dá dois passos para frente e três para trás. As pessoas sempre se preocupam com a China, como se ela só desse passos para frente. Uma das razões por que nunca parece que eles estão dando um passo para trás é porque não são uma democracia. Essa é a natureza do progresso. Não é positivo ou negativo, mas é o jeito que as coisas mudam com o tempo. Sempre haverá passos para trás, e esse é um para o Brasil. Mas acho que o Brasil é forte demais para ficar para baixo. Se analisarmos o problema econômico e o político, o político sempre leva mais tempo para se resolver.

O Brasil está voltando no tempo?
Acompanho o Brasil desde os anos 90 e posso dizer que o país hoje não é o mesmo daquela época. Então não concordo quando as pessoas falam que o país vai retroceder e voltar ao patamar dos anos 90. É exagero. É um passo para trás, mas não vai apagar 20 anos de mudanças. Muitas coisas que mudaram: há uma população muito mais educada, mais profissionais em todas as áreas, há companhias em nível mundial. Pode ser o momento de respirar fundo e olhar para o que mudou em relação a 1992, por exemplo. Esse não é o Brasil que costumava ser. Para os brasileiros que acham que estão voltando para o passado, gostaria de dizer o que o meu filho de 17 anos me diz: “Relaxa, pai, vai ficar tudo bem”. É difícil se distanciar quando se está no meio dos acontecimentos.

No ano passado, o senhor disse que se alguém quisesse falir uma companhia, deveria seguir os passos da Petrobras. Ainda acha isso?
A Petrobras é um protótipo sobre como não administrar um negócio. Investir sem medir consequência, pegar dinheiro emprestado indiscriminadamente, continuar a pagar dividendos como se tivesse tamanho para fazê-lo e continuar fazendo isso sucessivamente. Chamo isso de ciclo espiral de destruição de valor. Mas consigo entender por que aconteceu. A Petrobras foi pensada para ser a maior companhia de petróleo do mundo. Não a melhor, não a mais lucrativa. Mas a maior. Não é uma missão que deve ser dada a uma empresa pública.

Apesar disso, o senhor investiu na Petrobras e na Vale em 2012. Foi um movimento correto?
Eu vendi Petrobras. Perdi dinheiro e finalmente vendi por 5 dólares. Comprei por 12,50. Perdi muito dinheiro e aprendi minha lição. O problema é político. Sempre gostei da forma como a Vale foi gerida. Diferentemente da Petrobras, não parecia destrutiva de valor. O problema para a Vale é que os preços das commodities colapsaram, especialmente os do minério de ferro. Não acho que seja necessariamente má administração. No longo prazo, coisas podem acontecer.

O senhor também é um investidor de longo prazo da Embraer e Ambev. Ainda tem elas em seu portfólio?
Ambas continuam no meu portfólio. A Ambev me rendeu muito dinheiro nos últimos 15 anos em meus investimentos na América Latina. Foi a minha forma de fazer uma aposta de longo prazo. Esse é o meu ponto: o Brasil tem investidores e companhias de nível mundial.

Todas as companhias brasileiras listadas na bolsa, juntas, valem menos que o Google. Essa avaliação é correta?
No sentido da capacidade de faturamento coletivo de todas as brasileiras juntas, é provavelmente menos que a receita do Google. Essa é a realidade. O mercado não está dizendo que o Google é maior do que a economia brasileira, mas que o Google ganhará mais dinheiro do que a economia brasileira será capaz de gerar. A economia brasileira pode ser imensa, mas a capacidade das empresas brasileiras de fazer dinheiro encolheu. O mercado está mostrando um traço da reavaliação que também acontece na China. O que está se percebendo é que se existe uma economia enorme que não é capaz a fazer dinheiro, as companhias inseridas nela têm um valor de mercado menor. Mas não penso muito no valor de mercado e tiro conclusões como: “o Google é mais valioso que o Brasil”. Essa é a conclusão errada, não é a forma de ler o mercado.

O senhor disse que pensa pouco de forma “macro”. No Brasil, é possível separar isso do planejamento de investimentos?
O que eu quis dizer é não deixar suas preocupações sobre o macro se sobreporem às preocupações com o micro. Em outras palavras, compre boas companhias, com receitas sólidas, com preços decentes. Deixe o mundo “macro” fazer o que quer que seja porque não dá para evitar que isso aconteça. Mas não se esconda em sua cama até que tudo esteja bem, porque você pode se esconder por um bom tempo.

O senhor disse que está tão frequentemente certo quanto errado. O senhor não acredita em certezas no mercado?
O mundo não está em seu controle. Para mim, é um sinal de orgulho agir como se controlasse o universo. Tudo que posso fazer é o melhor que puder com a informação que tiver disponível no momento que eu fizer meu julgamento. O problema não é estar errado, mas rejeitar a possibilidade de estar errado e então ir mais fundo por estar convencido que se está certo — e não poder admitir seu erro. E transformar seu erro em algo gigantesco. Para mim, é mais fácil do que para muitos dizer que errei.

(Luciano Pádua)

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O professor de finanças da New York University, Aswath Damodaran, é um dos maiores especialistas mundiais sobre avaliação do preço de ações e empresas. Em entrevista a EXAME Hoje, ele analisou o cenário de empresas como Petrobras e Vale e disse que o problema brasileiro não se resolve com o impeachment, mas com a mudança na estrutura política. Conhecedor da economia nacional, ele ainda tem ativos da Embraer e da Ambev e tenta acalmar os brasileiros que pensam que a economia voltará aos patamares dos anos 90: “Relaxem, tudo vai ficar bem”. A partir desta segunda, Damodaran ministra dois dias de aulas sobre avaliação e finanças corporativas em evento da HSM.

A pergunta é antiga, mas segue cada dia mais atual. Qual a diferença entre preço e valor?
O valor é guiado por quão bom um negócio é: o quanto gera em retorno, o que gera de fluxo de caixa, o quanto está crescendo e o quanto é arriscado. Então, valor é o que ensinamos na sala de aula: como olhar para uma companhia e como avaliar. Preço vem de oferta e demanda. É dado pelo mercado. Em um mercado eficiente, o preço e o valor tendem a convergir. Mas em um mercado onde muitas coisas podem acontecer – e não só em mercados emergentes, pode ser em qualquer um -, as pessoas podem ser pegas pelo humor do momento. Isso pode ser bom ou ruim, mas o preço pode ser bem diferente do valor.

As dúvidas dos investidores sobre o Brasil continuam. Tirando as emoções de momento, estamos em situação muito diferente de outros países emergentes?
Qualquer democracia em países emergentes terá altos e baixos, dá dois passos para frente e três para trás. As pessoas sempre se preocupam com a China, como se ela só desse passos para frente. Uma das razões por que nunca parece que eles estão dando um passo para trás é porque não são uma democracia. Essa é a natureza do progresso. Não é positivo ou negativo, mas é o jeito que as coisas mudam com o tempo. Sempre haverá passos para trás, e esse é um para o Brasil. Mas acho que o Brasil é forte demais para ficar para baixo. Se analisarmos o problema econômico e o político, o político sempre leva mais tempo para se resolver.

O Brasil está voltando no tempo?
Acompanho o Brasil desde os anos 90 e posso dizer que o país hoje não é o mesmo daquela época. Então não concordo quando as pessoas falam que o país vai retroceder e voltar ao patamar dos anos 90. É exagero. É um passo para trás, mas não vai apagar 20 anos de mudanças. Muitas coisas que mudaram: há uma população muito mais educada, mais profissionais em todas as áreas, há companhias em nível mundial. Pode ser o momento de respirar fundo e olhar para o que mudou em relação a 1992, por exemplo. Esse não é o Brasil que costumava ser. Para os brasileiros que acham que estão voltando para o passado, gostaria de dizer o que o meu filho de 17 anos me diz: “Relaxa, pai, vai ficar tudo bem”. É difícil se distanciar quando se está no meio dos acontecimentos.

No ano passado, o senhor disse que se alguém quisesse falir uma companhia, deveria seguir os passos da Petrobras. Ainda acha isso?
A Petrobras é um protótipo sobre como não administrar um negócio. Investir sem medir consequência, pegar dinheiro emprestado indiscriminadamente, continuar a pagar dividendos como se tivesse tamanho para fazê-lo e continuar fazendo isso sucessivamente. Chamo isso de ciclo espiral de destruição de valor. Mas consigo entender por que aconteceu. A Petrobras foi pensada para ser a maior companhia de petróleo do mundo. Não a melhor, não a mais lucrativa. Mas a maior. Não é uma missão que deve ser dada a uma empresa pública.

Apesar disso, o senhor investiu na Petrobras e na Vale em 2012. Foi um movimento correto?
Eu vendi Petrobras. Perdi dinheiro e finalmente vendi por 5 dólares. Comprei por 12,50. Perdi muito dinheiro e aprendi minha lição. O problema é político. Sempre gostei da forma como a Vale foi gerida. Diferentemente da Petrobras, não parecia destrutiva de valor. O problema para a Vale é que os preços das commodities colapsaram, especialmente os do minério de ferro. Não acho que seja necessariamente má administração. No longo prazo, coisas podem acontecer.

O senhor também é um investidor de longo prazo da Embraer e Ambev. Ainda tem elas em seu portfólio?
Ambas continuam no meu portfólio. A Ambev me rendeu muito dinheiro nos últimos 15 anos em meus investimentos na América Latina. Foi a minha forma de fazer uma aposta de longo prazo. Esse é o meu ponto: o Brasil tem investidores e companhias de nível mundial.

Todas as companhias brasileiras listadas na bolsa, juntas, valem menos que o Google. Essa avaliação é correta?
No sentido da capacidade de faturamento coletivo de todas as brasileiras juntas, é provavelmente menos que a receita do Google. Essa é a realidade. O mercado não está dizendo que o Google é maior do que a economia brasileira, mas que o Google ganhará mais dinheiro do que a economia brasileira será capaz de gerar. A economia brasileira pode ser imensa, mas a capacidade das empresas brasileiras de fazer dinheiro encolheu. O mercado está mostrando um traço da reavaliação que também acontece na China. O que está se percebendo é que se existe uma economia enorme que não é capaz a fazer dinheiro, as companhias inseridas nela têm um valor de mercado menor. Mas não penso muito no valor de mercado e tiro conclusões como: “o Google é mais valioso que o Brasil”. Essa é a conclusão errada, não é a forma de ler o mercado.

O senhor disse que pensa pouco de forma “macro”. No Brasil, é possível separar isso do planejamento de investimentos?
O que eu quis dizer é não deixar suas preocupações sobre o macro se sobreporem às preocupações com o micro. Em outras palavras, compre boas companhias, com receitas sólidas, com preços decentes. Deixe o mundo “macro” fazer o que quer que seja porque não dá para evitar que isso aconteça. Mas não se esconda em sua cama até que tudo esteja bem, porque você pode se esconder por um bom tempo.

O senhor disse que está tão frequentemente certo quanto errado. O senhor não acredita em certezas no mercado?
O mundo não está em seu controle. Para mim, é um sinal de orgulho agir como se controlasse o universo. Tudo que posso fazer é o melhor que puder com a informação que tiver disponível no momento que eu fizer meu julgamento. O problema não é estar errado, mas rejeitar a possibilidade de estar errado e então ir mais fundo por estar convencido que se está certo — e não poder admitir seu erro. E transformar seu erro em algo gigantesco. Para mim, é mais fácil do que para muitos dizer que errei.

(Luciano Pádua)

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