Mercados

Cupom cambial sobe com especulações sobre intervenção do BC

As taxas dos empréstimos em dólar que estavam no nível mais baixo já registrado com as especulações de compra

Uma nova rodada de compra de reservas seria a retomada do esforço brasileiro para enfraquecer o real e apoiar a indústria nacional, uma política interrompida em setembro (Alex Wong/Getty Images)

Uma nova rodada de compra de reservas seria a retomada do esforço brasileiro para enfraquecer o real e apoiar a indústria nacional, uma política interrompida em setembro (Alex Wong/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 23 de janeiro de 2012 às 08h25.

São Paulo/Brasília - Especulações de que o Banco Central poderá retomar a compra da moeda americana para conter a apreciação do real elevaram as taxas dos empréstimos em dólar que estavam no nível mais baixo já registrado.

As taxas dos contratos para março, conhecidos como cupom cambial, uma medida do custo anual de empréstimos em dólar no Brasil, subiram 14 pontos-base, ou 0,14 ponto percentual, para 1,59 por cento nos dois últimos dias da semana passada, segundo dados compilados pela Bloomberg. A taxa é 103 pontos-base acima da taxa interbancária de Londres, ou Libor.

Uma nova rodada de compra de reservas seria a retomada do esforço brasileiro para enfraquecer o real e apoiar a indústria nacional, uma política interrompida em setembro, quando a crise europeia detonou a desvalorização da moeda. O país está analisando medidas para conter a valorização de 6,4 por cento este ano, a maior entre as principais moedas do mundo, disse uma fonte do governo na semana passada. Empresas estão internalizando dólares captados com a venda de títulos este mês, ampliando a oferta de moeda estrangeira e derrubando as taxas de empréstimos.

“O câmbio está chegando num determinado patamar em que o risco de intervenção do banco central aumenta”, disse Guilherme Figueiredo, diretor de fundos do M Safra & Co DTVM SA, em entrevista por telefone de São Paulo. “Quando aumenta o risco de intervenção do Banco Central, o risco de escassez de dólar spot na economia aumenta e isso faz o cupom cambial começar a subir.”

Enquanto o rendimento dos títulos denominados em real aumentou 20 pontos-base este ano para 11,54 por cento, o avanço da moeda brasileira ajudou os investidores a apurar um retorno de 6,2 por cento em termos de dólar, segundo o Bank of America Corp. Dívidas denominadas em moedas de mercados emergentes tiveram ganho de 3,5 por cento no mesmo período.

Crise europeia

O real está reagindo após uma queda de 11 por cento em 2011, quando ocorreu um movimento de venda de moedas de países em desenvolvimento impulsionado por receios de que a crise europeia pudesse levar a economia global a uma recessão.

A taxa de empréstimos em dólar na maior economia da América Latina atingiu um nível recorde de baixa a 1,45 por cento em 18 de janeiro, depois que companhias como Vale SA, Banco Bradesco SA e Banco do Brasil SA trouxeram dólares oriundos de uma venda de US$ 3,3 bilhões em títulos no mercado externo. A entrada líquida de dólares no Brasil foi positiva em US$ 3 bilhões nos primeiros 13 dias de janeiro, ante um fluxo negativo de US$ 1,9 bilhão em dezembro, segundo o Banco Central.

“Há um grande fluxo relacionado às captações do governo e das empresas”, disse Claudio Margulies, operador de câmbio do BES Investimento do Brasil SA, em entrevista por telefone de São Paulo. “Este foi o principal gatilho para a forte queda da curva.”


‘Ganhos excessivos’

O governo pode agir a qualquer momento para reduzir os ganhos do real, disse em 18 de Janeiro a fonte do governo, que pediu para não ser identificada por não estar autorizada a falar publicamente sobre o assunto. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, que acusou os Estados Unidos, Japão e a Europa no ano passado de detonarem uma “guerra cambial” ao manterem juros próximos a zero, disse em 19 de dezembro que o governo iria evitar “ganhos excessivos” do real.

O Banco Central e o Ministério da Fazenda negaram-se a comentar, em comunicados enviado por e-mail.

Alfredo Barbutti, economista da corretora Liquidez DTVM Ltda, disse que as entradas de dólar no Brasil podem se manter mesmo que o governo adote medidas para enfraquecer o real.

As aberturas de capital, conhecidas pela sigla em inglês IPO, podem ser retomadas “se as ações continuarem a subir”, disse Barbutti em uma entrevista por telefone de São Paulo. “E os IPOs podem atrair mais dinheiro do exterior.”

O Ibovespa acumula alta de 9,8 por cento este ano.

Diferença de taxa

O dólar caiu 0,6 por cento para R$ 1,7552 em 20 de janeiro e perdeu 1,7 por cento para o real na semana passada.

O rendimento extra que os ivestidores exigem para comprar títulos brasileiros em dólar, em vez de papéis da dívida americana, caiu 5 pontos-base para 215 pontos, segundo o JPMorgan Chase & Co.

O custo para proteger títulos brasileiros contra calote por cinco anos recuou 2 pontos-base para 152 pontos, segundo dados fornecidos pela CMA, que é controlada pelo CME Group Inc. A taxa do contrato de Depósitos Interfinanceiros no mercado de juros futuros para janeiro de 2013 caiu 6 pontos-base para 9,82 por cento.

Desde 2010, o governo triplicou a tributação de estrangeiros no mercado de dívida doméstica, elevou as exigências de capital em posições vendidas de dólar e aumentou o Imposto sobre Operações Financeiras em apostas contra o dólar no mercado de derivativos, como parte de um esforço para conter uma corrida que estava prejudicando a indústria nacional.


‘Ameaça de intervenção’

O Banco Central poderá decidir intervir no mercado cambial se o dólar se aproximar de R$ 1,70, disse Italo Abucater, chefe da mesa de câmbio da Icap do Brasil CTVM, em uma entrevista por telefone de São Paulo. A última vez em que o dólar caiu abaixo de R$ 1,70 foi em 28 de outubro.

“Quando há ameaça de intervenção, o cupom cambial sobe”, disse Nathan Blanche, co-fundador da Tendências Consultoria Integrada, em uma entrevista por telefone. “Eles vão comprar dólar.”

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralCâmbioDólarMercado financeiroMoedasPolítica monetáriaReal

Mais de Mercados

Goldman Sachs vê cenário favorável para emergentes, mas deixa Brasil de fora de recomendações

Empresa responsável por pane global de tecnologia perde R$ 65 bi e CEO pede "profundas desculpas"

Bolsa brasileira comunica que não foi afetada por apagão global de tecnologia

Ibovespa fecha perto da estabilidade após corte de gastos e apagão global

Mais na Exame