Terras raras: Brasil surge como uma das apostas mais relevantes fora da Ásia (Germano Lüders/Exame)
Repórter de Mercados
Publicado em 4 de dezembro de 2025 às 10h37.
O Brasil possui a maior reserva de terras raras fora da Ásia e pode se tornar um dos principais fornecedores globais de minerais críticos, segundo relatório do BlackRock Investment Institute. O documento insere o país no centro da disputa geopolítica por recursos essenciais à infraestrutura de inteligência artificial (IA) e à transição energética.
Segundo a gestora, as terras raras são hoje tão estratégicas quanto o lítio e o cobre. “As terras raras são a prima donna dos minerais críticos”, disse Axel Christensen, estrategista-chefe de investimentos da BlackRock.
A demanda acelerada por IA colocou esses materiais no topo da cadeia de valor industrial e digital, reforçando o papel de países com grandes jazidas.
O alerta da BlackRock parte da constatação de que a China domina mais de 70% do processamento global desses materiais. A concentração é tratada como um vetor de risco comercial e estratégico, em especial nas relações com os Estados Unidos.A busca por fornecedores alternativos se tornou uma prioridade. E o Brasil surge como uma das apostas mais relevantes fora da Ásia, ainda que sua produção atual seja modesta diante da dimensão das reservas.
O país ainda não explora comercialmente a maioria de suas jazidas, mas passou a atrair atenção crescente de investidores e governos estrangeiros. “O interesse dos EUA em reduzir a dependência chinesa coloca o Brasil em uma posição muito atraente”, afirma o estrategista-chefe da BlackRock.
Além da questão energética, as terras raras são consideradas fundamentais para a segurança de dados, cadeias de suprimento, críticas e defesa, ampliando seu valor estratégico no contexto atual.
A BlackRock vê nas terras raras um componente central da infraestrutura da IA. A corrida global por esses minerais pode abrir uma janela curta de oportunidade para o Brasil transformar suas reservas em ativo geopolítico e industrial. O desafio será destravar gargalos regulatórios e tecnológicos a tempo de ocupar um lugar relevante na nova geografia dos minerais críticos.
O crescimento impulsionado pela IA, que levou as ações dos EUA a máximas históricas este ano, gerou preocupações entre os investidores sobre a formação de uma bolha de IA. O índice preço/lucro de Schiller, que ajusta os lucros das empresas à inflação e à média histórica de uma década, mostra que as avaliações das ações dos EUA são as mais caras desde as bolhas da internet e de 1929.
As bolhas de mercado surgiram em todas as grandes transformações históricas, e isso pode acontecer novamente, segundo Christensen. A BlackRock permanece pró-risco e vê o tema da IA como o principal motor das ações dos EUA.
A implantação da IA é vista como uma “mega força” que está transformando a economia global e os mercados financeiros, sendo potencialmente sem precedentes em velocidade e escala.
“As decisões de investimento em IA no nível das empresas — como a compra de chips e microprocessadores, o engajamento com empresas de energia para construir data centers e a aquisição de plataformas — tornaram-se tão importantes que estão tendo implicações em fatores macroeconômicos”, diz o especialista.