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Copom deixa porta aberta, mas não deve seguir ciclo de alta, diz economista-chefe do Inter

Rafaela Vitória defende que processo de desinflação deve estar mais consolidado em setembro

Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, estima que a Selic irá encerrar 2022 em 13,75% ao ano (Inter/Divulgação)

Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, estima que a Selic irá encerrar 2022 em 13,75% ao ano (Inter/Divulgação)

BQ

Beatriz Quesada

Publicado em 4 de agosto de 2022 às 15h34.

Última atualização em 4 de agosto de 2022 às 17h52.

A taxa Selic subiu pela 12ª vez e alcançou o patamar de 13,75% ao ano com a última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, tomada na noite de ontem.

A elevação já era esperada, e a grande dúvida do mercado para daqui em diante é se o ciclo de alta foi – ou não – encerrado com a última decisão. Isso porque o Copom sinalizou a possibilidade de elevar a Selic também na reunião de setembro, caso necessário.

É possível, no entanto, que a taxa já tenha chegado a seu pico. Essa é a opinião de Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter.   

“A Selic já está muito restritiva, acredito que não será necessário um novo aumento apesar do Copom ter deixado a porta aberta para uma alta residual”, afirma Vitória em entrevista à EXAME Invest.

A economista espera que, até a próxima reunião do Copom, em setembro, a inflação já tenha dado sinais de arrefecimento suficientes para que o Comitê coloque um ponto final no ciclo de alta que levou a Selic de 2% em maio do ano passado, para 13,75% um ano e meio depois.

Em entrevista, Vitória comentou as implicações do encerramento do ciclo da Selic. Confira abaixo:

Como você avalia a decisão do Copom e a sinalização de que pode haver uma nova alta na reunião de setembro? 

A decisão foi a que já era esperada pelo mercado, nenhuma surpresa. A grande questão é se o ciclo já se encerrou ou não.

Na minha opinião, acredito que não será necessária uma nova alta na Selic, que já está muito restritiva. É possível que o mercado precifique uma alta residual na próxima reunião porque, em momentos de dúvida, o mercado tem precificado para cima. Mas não creio que será preciso.

Eu esperava que o Copom já tivesse fechado as portas para novas altas. Mas acredito que devemos chegar em setembro com um processo de inflação mais consolidado, com sinais de desaquecimento mais firmes na economia, mostrando que um novo ajuste não será necessário. 

Foi uma boa alternativa o Copom deixar a porta aberta sem contratar uma nova alta?

Sim, acredito que foi uma boa alternativa considerando o cenário de incerteza atual. Não faz sentido indicar com firmeza uma próxima alta nem a magnitude. O Copom já avançou bastante no processo de aperto monetário até o momento, então é importante deixar claro que estamos muito próximos do fim do ciclo. Ainda que deixando um espaço para um novo ajuste caso ocorram surpresas inflacionárias mas, principalmente do ponto de vista da ancoragem das expectativas. 

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Pensando na ancoragem das expectativas, o último Focus mostrou a inflação em 5,3%, acima do teto da meta de inflação do Banco Central. Não seria um sinal de que a alta residual pode ocorrer?

A possibilidade de uma taxa mais contracionista seria justamente para combater o fato das expectativas não estarem ancoradas. Mas quando você olha para as projeções de inflação do Banco Central, a previsão é de 4,60% para a inflação no ano que vem é de 2,70% para 2024 – que fica, inclusive, abaixo da meta. Então do ponto de vista das projeções de inflação, considerando os fundamentos que temos hoje, no nosso cenário não haveria necessidade de um novo ajuste. 

Existem riscos que podem desancorar as expectativas até a reunião de setembro?

O que poderia fazer com que essas as expectativas continuem subindo seriam políticas fiscais mais expansionistas, o que não deve acontecer até setembro. Já tivemos a expansão fiscal proposta pela PEC, então de agora até a eleição dificilmente teremos novas medidas. Acredito que não teremos novidades que causem uma pressão inflacionária extra.

Voltando ao comunicado, o Copom introduziu uma novidade que foi o alongamento do horizonte de política monetária para 2024. O que explica a mudança?

Na avaliação do Banco Central, a mudança elimina o impacto das medidas de redução e aumento de impostos. Sob essa projeção, a inflação será de 3,5%, um pouco acima da meta de 3%. 

Na minha avaliação, é uma forma de justificar o aumento da última reunião mesmo diante de tudo que já havia sido feito. Explicar porque a taxa subiu mais 0,5 ponto depois de todas as medidas que já foram tomadas. É uma alta residual porque ainda existe muita incerteza no mercado.  

O andamento da política monetária nos Estados Unidos pode impactar a decisão do BC de encerrar o ciclo?

O Federal Reserve [Fed, banco central americano] aumentou os juros na última semana e trouxe um comunicado com diferentes interpretações. O mesmo pode acontecer por aqui: é possível que a interpretação do mercado mude com a divulgação da ata da última reunião.

A verdade é que o cenário está muito incerto, então é possível sim que a reação mude a depender dos dados que vamos receber nas próximas semanas.

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