Loja da Apple na China: vendas de iPhone caem 24% no país (CFOTO/Future Publishing via /Getty Images)
Repórter
Publicado em 6 de março de 2024 às 05h55.
Última atualização em 25 de março de 2024 às 08h54.
Conseguir vender mais e mais caro que seus concorrentes em um mercado de altíssimo valor agregado foram algumas das vantagens que tornaram a Apple a empresa mais valiosa do mundo. Mas ainda que mantenha sua supremacia em smartphones, a companhia tem enfrentado ventos contrários e já não é de maior valor de mercado -- posto hoje ocupado pela Microsoft.
Outra empresa americana tomou o lugar da Apple, mas as maiores ameaças vêm do exterior, especialmente da China. Nos 12 meses findos em setembro, o país representou 19% da receita global da Apple. Mas essa proporção caiu para 17,4% no último trimestre, representando uma queda nominal de USS 3,1 bilhões na comparação anual.
Maior do que a perda de receita é a perda de valor que a companhia tem sofrido diante de seu mau momento na China. Desde o início do ano, quando as vendas mais fracas na China começaram a provocar piora de recomendações por parte dos analistas, a Apple já perdeu US$ 380 bilhões em valor de mercado.
O último baque sobre os papéis da empresa ocorreu nesta terça-feira, 5, com ações recuando perto de 3% após um relatório CounterPoint, de pesquisas no setor de tecnologia, assegurar que as vendas de iPhone desabaram 24% na China nas seis primeiras semanas de 2024. A queda foi muito superior ao declínio de 6% nas vendas de smartphones no país.
"O iPhone 15 seja um ótimo dispositivo, mas ele não tem atualizações significativas em relação à versão anterior, então os consumidores se sentem bem em manter os iPhones da geração mais antiga por enquanto", afirma em relatório a analista sênior da CounterPoint Mengmeng Zhang.
Mais do que a falta de novidades no mais novo iPhone da Apple, Zhang considera que o principal fator para a queda de vendas foi a competição com a chinesa Huawei, que no mesmo período aumentou suas vendas em 64% na China.
O aumento de participação no mercado local ocorreu após o lançamento do Huawei Mate 60 Pro. O aparelho é fruto dos esforços da companhia para driblar as sanções dos Estados Unidos impostas pelo ex-presidente Donald Trump contra o envio de chips americanos para a China.
Uma análise minuciosa realizada pela mídia japonesa Nikkei avaliou que apenas 2% das peças do Huawei Mate 60 Pro foram desenvolvidas ou produzidas nos Estados Unidos. Por outro lado, 47% dos itens foram desenvolvidas ou produzidas na China, 18 pontos percentuais a mais do que o apresentado no modelo anterior, de três anos atrás. Outros 36% dos custos de produção, ainda segundo a publicação, foram com peças feitas ou desenvolvidas na Coreia do Sul, 1% com peças do Japão e o restante com itens de outros países não especificados.
"A desmontagem mostra que a China fez rápidos avanços tecnológicos, incluindo semicondutores usando tecnologia de produção de 7 nanômetros, desde que os EUA intensificaram as restrições à exportação de equipamentos e software de ponta em 2019", revela a análise da Nikkei.
Os iPhones da Apple, em 2018, se tornaram os primeiros smartphones a virem equipados com semicondutores de 7 nanômetros. A análise apontou que esses semicondutores de 7 nanômetros, antes produzidos apenas por empresas de Taiwan, Estados Unidos e Coreia do Sul, foram desenvolvidos pela subsidiária da Huawei HiSilicon e fabricados pela China's Semiconductor Manufacturing International Corp (SMIC).
Existem questionamentos no mundo ocidental sobre como a companhia teria alcançado essa tecnologia em tão pouco tempo. Mas, entre muitos chineses, o Mate 60 Pro se tornou sinônimo de orgulho pela alta presença de peças nacionais em sua composição. Ainda de acordo com a CouterPoint, o Mate 60 Pro foi fundamental para alçar a Huawei na liderança de vendas de smartphones na China, desbancando a Apple.
"A Huawei continuou a atrair e satisfazer a forte procura pela sua série Mate 60, um dos únicos pontos positivos do início do ano", afirma o relatório da CounterPoint.
Os maiores desafios da Apple na China são acompanhados de uma maior cautela por parte dos analistas. Ainda que a maior parte do mercado seja avessa em recomendar a venda da maior empresa de smartphones do mundo, a confiança em recomendar a compra tem diminuído. De acordo com dados da S&P Global Market Intelligence, desde março do ano passado, caiu em 22 pontos percentuais (p.p.) para 48% a proporção de analistas com recomendação de compra ou outperform (desempenho acima da média) para as ações da Apple. A proporção de recomendações de venda ou underperform (abaixo da média) subiu 3 p.p. para 7% das análises levantadas e recomendações neutras subiu 6 p.p. para 25%. Aumentou em 10 p.p. para 17% a proporção de analistas sem uma opinião formada sobre as ações da Apple.
A Huawei e tornou alvo dos Estados Unidos durante o governo do ex-presidente Donald Trump, com sua CFO e filha do fundador, Meng Wanzhou, chegando a ser presa no Canadá, em 2019, antes de ser acusada pelos Estados Unidos por "conspiração para cometer fraude bancária." Meng, na China, é conhecida como a "Princesa da Huawei" por também ser filha do fundador da empresa, Ren Zhengfei.
Segundo a Justiça dos Estados Unidos, Meng teria dado "declarações falsas relevantes a um executivo sênior de uma instituição financeira sobre as operações comerciais da Huawei no Irã, em um esforço para preservar o relacionamento bancário da Huawei com a instituição financeira". Meng Wanzhou ficou presa no Canadá até 2021. Nesse período, a Huawei ainda enfrentou
A Huawei ainda enfrentou uma série de sanções que a impediram de importar peças de fabricantes americanas. A companhia chinesa começou a enfrentar seus primeiros banimentos de vendas nos Estados Unidos em 2018, durante o governo de Donald Trump. O banimento de produtos da Huawei foi mantido pelo atual presidente e adversário político de Trump, Joe Biden.