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Com maior rentabilidade na carteira de ações em 2023, gestor revela qual foi a estratégia

Em entrevista exclusiva à EXAME Invest, especialista conta que, na contramão do mercado, está mais cauteloso sobre a queda de juros dos EUA

Maior rentabilidade: João Lucas Tonello, analista CNPI-P e responsável pela carteira da Benndorf Research (Beendorf Research/Divulgação)

Maior rentabilidade: João Lucas Tonello, analista CNPI-P e responsável pela carteira da Benndorf Research (Beendorf Research/Divulgação)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 29 de dezembro de 2023 às 17h18.

Última atualização em 29 de dezembro de 2023 às 17h45.

Durante o ano, a EXAME Invest realizou um levantamento mensal das carteiras recomendadas de 12 bancos, corretoras, gestoras e casas de análises. No fechamento de 2023, a carteira recomendada da Benndorf Research foi a que mais rendeu, apresentando valorização de 43,80%.

Na sequência, aparece a carteira de ações do BTG Pactual (mesmo grupo controlador da EXAME), com rentabilidade de 28,32%. O terceiro lugar fica para a Planner, com rendimento de 26,73%. Das 12 carteiras, cinco apresentaram rendimento abaixo da taxa Selic, que fechou o ano em 11,75%.

Em entrevista exclusiva, João Lucas Tonello, analista CNPI-P e gestor responsável pela carteira recomendada da Benndorf, revelou qual foi a estratégia da asset para a boa rentabilidade, além de contar quais são as perspectivas para 2024.

Um balanço de 2023

Um dos principais drivers para a Benndorf foi a taxa de juros, especificamente, a taxa de juros dos Estados Unidos. Segundo Tonello, por ser a maior economia, todo o mercado acompanha de perto os juros americanos que, em 2023, subiram no primeiro semestre. A consequência foi a quebra de alguns bancos, como do Silicon Valley Bank (SVB), que impactaram o mercado.

Mas o cenário mudou e dados melhores da inflação americana fizeram o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), aparentar que pode vir uma política menos contracionista em 2024, onde alguns agentes econômicos já precificam o corte de juros para março. Por aqui, o Comitê de Política Monetária (Copom) iniciou o corte em agosto, também impulsionado por dados mais positivos da economia brasileira.

“Não sabíamos até quando iria ser suficiente essa alta de juros para conter inflação nos Estados Unidos. Mas nós acompanhamos a forma com que eles cobriram os bancos que quebraram, além de dados de uma inflação melhor, apesar de uma taxa de emprego alta. Então em 2023 apostamos em empresas mais sensíveis à queda de juros, com a carteira durante todo o ano baseada em seguir a taxa dos EUA”, comenta o especialista, explicando ainda que apesar dos juros americanos ainda não terem sido cortados, a bolsa precifica o futuro.

Aposta em Light?

Dado este cenário para os juros, o analista diz que a estratégia da Benndorf foi preferir empresas do setor de construção e tecnologia que se beneficiam do movimento. Mas, para além dos juros, o especialista destaca que estratégias técnicas e fundamentalistas também foram aplicadas em cada escolha. Uma dessas apostas foi a Light (LIGT3), o que chama a atenção devido a sua recuperação judicial.

Para Tonello, a RJ não foi uma das melhores, o que causou um certo receio e foi, de fato, uma aposta bastante arriscada. No entanto, de acordo com especialista, a estratégia foi baseada na parte de fluxo operacional do ativo, observando os investidores que estavam vendidos.

“Para as pessoas ficarem vendidas em um ativo [acreditar que ele vai cair], precisa alugar aquele papel. O custo de aluguel estava altíssimo, na casa de 30% ao ano. Mas na medida que você aposta que algo ruim vai acontecer na empresa e essa notícia não vem tão negativa, as pessoas que estão vendidas tendem a se retirar porque o custo de manutenção de venda é muito alto — isso chama short squeeze. Nisso, as pessoas acabam desfazendo suas posições vendidas e comprando, tanto para zerar a posição quanto porque o ativo está com padrões gráficos de recuperação. Nós fomos um deles. Vimos o ativo querendo voltar graficamente, com esse custo muito alto de manutenção de venda.”

Petrobras (PETR4) foi a queridinha; varejo, nem tanto

Apesar de o varejo ser beneficiado pela queda da taxa de juros, Tonello comenta que as empresas desse segmento no Brasil precisam de uma queda maior da Selic para se valorizarem. “Temos algumas ressalvas no varejo. Como Casas Bahia (BHIA3) e Magazine Luiza (MGLU3), nós não acreditamos, por enquanto, no case deles, por conta de margens reduzidas. É um setor que ficamos ainda com o pé atrás.”

Na outra ponta, mesmo com ruídos políticos que pudessem interferir na Petrobras (PETR4), o analista afirma que ela foi a queridinha da carteira. Para ele, o papel estava barato e graficamente sempre mostrou muito mais força diante de todos os outros do setor. “Se a gente for ver pelo viés fundamentalista, 3R Petroleum (RRRP3) é um ativo mais barato, mas Petrobras, ao mesmo tempo, continuava subindo fortemente enquanto 3R não. Então, pela análise técnica, acreditamos mais na Petrobras, ficando exposto em boa parte do ano nela.”

E para 2024?

À EXAME Invest, Tonello conta que “a pergunta de um milhão” que vai decidir o próximo ano é: “Quanto a política monetária dos Estados Unidos é suficiente para conter a inflação?”. De acordo com o especialista, atualmente o país tem uma política contracionista, que está gerando resultados como o controle do consumo e de empregos, que, em tese, é bom para conter a inflação, além dos números do índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) e do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) estarem apresentando altas moderadas.

No entanto, ele questiona se a taxa atual é suficiente para chegar na meta de 2% que o presidente do Fed, Jerome Powell, deseja, ou se é tão forte a ponto de causar uma recessão. “Tem três possibilidades de resposta para essa pergunta: não ser contracionista o suficiente e parar de diminuir a inflação; chegar a convergir à meta; ou ser muito forte. Hoje, nosso mercado já está precificando como se ela já fosse o suficiente ou fosse muito forte, por isso estamos falando em corte em março de 2024.”

Mas, na contramão, com base nesta análise, ele visualiza que o mercado está muito eufórico e que, em sua visão, é necessário cuidado. “Se essa taxa de juros não diminuir em março de 2024, vamos ter uma forte realização na bolsa e vai abrir a discussão se precisa aumentar a taxa de juros novamente”. Para ter uma resposta mais certeira, o especialista explica que os dados da economia americana nos próximos três meses serão importantes para dizer como será 2024.

Para o mercado de ações, a estratégia da Benndorf será avaliar o valuation, ou seja, ações baratas que têm espaço de alta e são mais defensivas, para ter uma certa proteção caso haja essa movimentação de queda de bolsa. Como queridinha, o gestor abre a preferência: “Um ativo que eu já tenho uma aposta é Priner (PRNR3). É um papel que tem um valor de Earning Yield (rendimento dos lucros) muito baixo em relação ao que ela pode gerar, e é uma companhia que mudou um pouco a gestão, com esse espaço para alta.”

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