Dólar: com o câmbio mais alto, os juros futuros também subiram, com a percepção de que a inflação pode acelerar. (Mohamed Azakir/Reuters)
Publicado em 19 de dezembro de 2024 às 12h10.
Última atualização em 19 de dezembro de 2024 às 14h23.
A escalada recente do dólar está exigindo ação mais intensa do Banco Central. Com os dois leilões realizados nesta quinta-feira, 19, o BC já injetou US$ 20,760 bilhões no mercado de câmbio desde o último dia 12 de dezembro. Ao todo, US$ 13,760 bilhões foram injetados em leilões à vista, e o restante, em leilões de linha, com compromisso de recompra.
Só na manhã desta quinta-feira, 19, a autoridade precisou injetar US$ 8 bilhões para tentar conter a alta da divisa.
Logo nas primeiras horas da sessão, a moeda chegou a bater R$ 6,30. Para tentar conter a forte oscilação da divisa americana, o BC realizou nesta quinta, das 9h15 às 9h20, um leilão de venda de dólares à vista (o quarto leilão desde semana passada), no valor de US$ 3 bilhões, com diferencial de corte de 0,000300.
Mas a iniciativa surtiu pouco efeito. Com isso, o BC anunciou um novo leilão à vista de até US$ 5 bilhões entre 10h35 e 10h40. O segundo movimento ajudou o real a apreciar-se, levando a cotação da moeda americana a cair 1,8%, para R$ 6,156. Pouco depois, a retração diminuiu e a cotação passou a cair 1,37% a R$ 6,181.
O BC começou a vender dólares no mercado à vista na última sexta-feira, dia 13 de dezembro. Nesse período, fez também algumas atuações com leilões de linha - ou seja, quando vende dólares com compromisso de recompra.
Parte do temor do mercado com o cenário se deve à queima das reservas internacionais, uma vez que a maior parte do volume injetado foi em leilões definitivos. "Não existe um número cabalístico para as reservas. Se as reservas ficarem abaixo de US$ 300 bilhões ou US$ 250 bilhões, o mercado pode acender um alerta, porque não há uma expectativa de reposição desses dólares", diz Alexandre Cabral, professor de finanças e mercados da Saint Paul e de derivativos na B3. Mas o que tem assustando os investidores, diz o professor, é a velocidade de saída. "Foram muitos dólares em pouco tempo. O problema é o porquê de o dólar estressar."
Com reservas de US$ 364 bilhões até novembro, o BC não deve interromper as ações para conter a escalada. Em sua última entrevista a jornalistas como presidente do BC, Roberto Campos Neto afirmou na manhã desta quinta-feira que houve uma saída extraordinária de recursos do país neste fim de ano, o que motivou a intervenção. "O Banco Central tem muita reserva e vai atuar se for necessário. Vamos continuar monitorando o fluxo, que está muito acima da média."
Com o câmbio mais alto, os juros futuros também subiram, com a percepção de que a inflação pode acelerar. Perto das 11h30, o DI de 2027 passou a 16,16%, o de 2028 chegou a 16,08% e o de 2029. 15,91%.
"Tudo isso está relacionado a uma piora na percepção de risco no país. Seja por conta da questão fiscal ou de questões políticas. Isso tem trazido uma crise institucional para o país", diz Cristiane Quartaroli, economista chefe do Ouribank.