Citigroup promove ADRs de títulos para impulsionar mercado
Empresa quer introduzir recibos de depósito que permitam que debêntures sejam comercializadas em mercados globais
Da Redação
Publicado em 18 de junho de 2012 às 08h39.
São Paulo - O Citigroup Inc. negocia com reguladores permissão para introduzir recibos de depósito que permitam que debêntures sejam comercializadas em mercados globais. Isso ocorre num momento em que o governo tenta impulsionar os negócios nesse mercado atraindo investidores estrangeiros.
O volume médio negociado diariamente no mercado brasileiro de dívida corporativa foi de R$ 1,25 bilhão em maio, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, Anbima. O volume diário negociado no mercado de dívida de alto rendimento nos EUA foi de US$ 4,3 bilhões em 13 de junho, segundo a Trace.
O aumento de impostos sobre aplicações de estrangeiros, adotado pelo governo para conter a valorização do real, prejudicou a meta de incentivar empresas a trocarem empréstimos subsidiados de bancos estatais e fomentar um mercado local de financiamento de longo-prazo. O real acumula baixa de 9 por cento neste ano em meio às medidas do governo adotadas para protejer a indústria local. Notas de depósito global, ou GDNs na sigla em inglês, segem o mesmo princípio dos American depositary receipts, ou ADRs, de ações, que permitem que estrangeiros negociem ativos locais sem ter que aportar dinheiro no País.
Os GDNs “permitem que a negociação de títulos locais seja tão fácil quanto a de títulos em moeda forte”, disse Joe Kogan, chefe de estratégia para mercados emergentes da Scotia Capital, em entrevista de Nova York. Para investidores “que não são tão grandes ou são novos num determinado mercado, isso faz muito sentido”, disse.
As discussões com o Citigroup estão em fase preliminar, de acordo com a Comissão de Valores Mobiliários no Rio de Janeiro. Nina Das, uma porta-voz do Citigroup em Nova York, se recusou a fazer comentários para esta reportagem.
Diferencial de rendimento
As debêntures da Vale SA, a maior produtora mundial de minério de ferro, com vencimento em 2013 rendem 0,48 por cento do Certificado de Depósito Interbancário, ou 8,34 por cento, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Os títulos denominados em dólar da Vale negociados no exterior rendem 2,5 por cento, segundo dados compilados pela Bloomberg. O rendimento médio dos títulos corporativos brasileiros em dólar caiu 10 pontos-base para 204 em 15 de junho, segundo o JPMorgan Chase & Co.
O Citigroup, que criou o primeiro GDN em 2007, fez a estruturação desses papéis em nove países, incluindo uma oferta de 10 bilhões de pesos (US$ 694 milhões) pela estatal Petróleos Mexicanos em novembro e três colocações para o governo peruano. Os investidores podem usar GDN para comprar bônus na ocasião da emissão ou títulos já em circulação.
O Citigroup pretende expandir negócio de GDN para o Brasil num momento em que o governo tenta atrair capital estrangeiro para ajudar a financiar R$ 955 bilhões em gastos de infraestrutura até 2014. Em dezembro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, isentou da alíquota de 6 por cento do Imposto sobre Operações Financeiras as debêntures ligadas a infraestrutura, como parte de uma série de medidas elaboradas para impulsionar o crescimento econômico.
"Principal premissa"
Com a crise da dívida na Europa levando investidores a rejeitar moedas de nações em desenvolvimento, o governo da Presidente Dilma Rousseff está revertendo medidas implantadas no começo do ano para enfraquecer o real e proteger a indústria local. Na semana passada, o governo eliminou um tributo sobre captações externas que fazia parte de uma série de medidas anunciadas nos últimos 19 meses que colaboraram para o real ter o pior desempenho entre as 25 moedas de mercados emergentes monitoradas pela Bloomberg.
“Se a principal premissa do GDN for expandir a base de investidores para emissões de dívida em moeda local, acho que serviriam como ponte temporária”, afirmou Robert Abad, que ajuda a supervisionar US$ 41 bilhões em ativos de mercados emergentes na Western Asset Mangement em Pasadena, na Califórnia, em e-mail enviado em resposta a perguntas da reportagem. “A melhor forma de um mercado de dívida em moeda local se desenvolver pelas próprias pernas é quando os investidores ficam mais à vontade com a gestão da taxa de câmbio em mercados emergentes e com a volatilidade relativa associada a esses mercados.”
Rodovias do Tietê
No mês passado, a Concessionária Rodovias do Tietê SA cancelou planos de executar o que seria a primeira emissão de títulos tirando vantagem dos incentivos fiscais. O cancelamento veio na esteira da queda da demanda por ativos de maior rendimento por causa da crise da dívida na Europa. A companhia adiou um eventual retorno ao mercado de bônus até 2013, de acordo com uma pessoa a par da situação que solicitou anonimato por não ter autorização para falar publicamente.
Pablo Cisilino, que ajuda a supervisionar cerca de US$ 35 bilhões em dívida de mercados emergentes na Stone Harbor Investment Partners em Nova York, promete não comprar debêntures brasileiras enquanto valer o IOF sobre as aplicações de investidores estrangeiros.
“Não vamos comprar dívida corporativa local no Brasil até eles removerem o IOF e pararem de brincar com a moeda”, escreveu Cisilino em e-mail enviado em resposta a perguntas da reportagem.
O real ficou praticamente inalterado no pregão de sexta- feira, em 2,0638 por dólar.
São Paulo - O Citigroup Inc. negocia com reguladores permissão para introduzir recibos de depósito que permitam que debêntures sejam comercializadas em mercados globais. Isso ocorre num momento em que o governo tenta impulsionar os negócios nesse mercado atraindo investidores estrangeiros.
O volume médio negociado diariamente no mercado brasileiro de dívida corporativa foi de R$ 1,25 bilhão em maio, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, Anbima. O volume diário negociado no mercado de dívida de alto rendimento nos EUA foi de US$ 4,3 bilhões em 13 de junho, segundo a Trace.
O aumento de impostos sobre aplicações de estrangeiros, adotado pelo governo para conter a valorização do real, prejudicou a meta de incentivar empresas a trocarem empréstimos subsidiados de bancos estatais e fomentar um mercado local de financiamento de longo-prazo. O real acumula baixa de 9 por cento neste ano em meio às medidas do governo adotadas para protejer a indústria local. Notas de depósito global, ou GDNs na sigla em inglês, segem o mesmo princípio dos American depositary receipts, ou ADRs, de ações, que permitem que estrangeiros negociem ativos locais sem ter que aportar dinheiro no País.
Os GDNs “permitem que a negociação de títulos locais seja tão fácil quanto a de títulos em moeda forte”, disse Joe Kogan, chefe de estratégia para mercados emergentes da Scotia Capital, em entrevista de Nova York. Para investidores “que não são tão grandes ou são novos num determinado mercado, isso faz muito sentido”, disse.
As discussões com o Citigroup estão em fase preliminar, de acordo com a Comissão de Valores Mobiliários no Rio de Janeiro. Nina Das, uma porta-voz do Citigroup em Nova York, se recusou a fazer comentários para esta reportagem.
Diferencial de rendimento
As debêntures da Vale SA, a maior produtora mundial de minério de ferro, com vencimento em 2013 rendem 0,48 por cento do Certificado de Depósito Interbancário, ou 8,34 por cento, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Os títulos denominados em dólar da Vale negociados no exterior rendem 2,5 por cento, segundo dados compilados pela Bloomberg. O rendimento médio dos títulos corporativos brasileiros em dólar caiu 10 pontos-base para 204 em 15 de junho, segundo o JPMorgan Chase & Co.
O Citigroup, que criou o primeiro GDN em 2007, fez a estruturação desses papéis em nove países, incluindo uma oferta de 10 bilhões de pesos (US$ 694 milhões) pela estatal Petróleos Mexicanos em novembro e três colocações para o governo peruano. Os investidores podem usar GDN para comprar bônus na ocasião da emissão ou títulos já em circulação.
O Citigroup pretende expandir negócio de GDN para o Brasil num momento em que o governo tenta atrair capital estrangeiro para ajudar a financiar R$ 955 bilhões em gastos de infraestrutura até 2014. Em dezembro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, isentou da alíquota de 6 por cento do Imposto sobre Operações Financeiras as debêntures ligadas a infraestrutura, como parte de uma série de medidas elaboradas para impulsionar o crescimento econômico.
"Principal premissa"
Com a crise da dívida na Europa levando investidores a rejeitar moedas de nações em desenvolvimento, o governo da Presidente Dilma Rousseff está revertendo medidas implantadas no começo do ano para enfraquecer o real e proteger a indústria local. Na semana passada, o governo eliminou um tributo sobre captações externas que fazia parte de uma série de medidas anunciadas nos últimos 19 meses que colaboraram para o real ter o pior desempenho entre as 25 moedas de mercados emergentes monitoradas pela Bloomberg.
“Se a principal premissa do GDN for expandir a base de investidores para emissões de dívida em moeda local, acho que serviriam como ponte temporária”, afirmou Robert Abad, que ajuda a supervisionar US$ 41 bilhões em ativos de mercados emergentes na Western Asset Mangement em Pasadena, na Califórnia, em e-mail enviado em resposta a perguntas da reportagem. “A melhor forma de um mercado de dívida em moeda local se desenvolver pelas próprias pernas é quando os investidores ficam mais à vontade com a gestão da taxa de câmbio em mercados emergentes e com a volatilidade relativa associada a esses mercados.”
Rodovias do Tietê
No mês passado, a Concessionária Rodovias do Tietê SA cancelou planos de executar o que seria a primeira emissão de títulos tirando vantagem dos incentivos fiscais. O cancelamento veio na esteira da queda da demanda por ativos de maior rendimento por causa da crise da dívida na Europa. A companhia adiou um eventual retorno ao mercado de bônus até 2013, de acordo com uma pessoa a par da situação que solicitou anonimato por não ter autorização para falar publicamente.
Pablo Cisilino, que ajuda a supervisionar cerca de US$ 35 bilhões em dívida de mercados emergentes na Stone Harbor Investment Partners em Nova York, promete não comprar debêntures brasileiras enquanto valer o IOF sobre as aplicações de investidores estrangeiros.
“Não vamos comprar dívida corporativa local no Brasil até eles removerem o IOF e pararem de brincar com a moeda”, escreveu Cisilino em e-mail enviado em resposta a perguntas da reportagem.
O real ficou praticamente inalterado no pregão de sexta- feira, em 2,0638 por dólar.