Notas de dólar: a mais recente bateria de notícias ruins sobre a economia brasileira está por trás da busca pela moeda americana (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 1 de novembro de 2013 às 16h16.
São Paulo - Em apenas três dias, o dólar abandonou o patamar de R$ 2,18 e superou os R$ 2,25, em meio a um cenário mais negativo no Brasil e ao ambiente ainda nebuloso no exterior. Nesta sexta-feira, 1, a moeda americana oscilou em alta durante toda a sessão e terminou com ganho de 1,03% no balcão, cotada a R$ 2,2540.
Esta é a maior cotação de fechamento desde 27 de setembro deste ano. A mais recente bateria de notícias ruins sobre a economia brasileira está por trás da busca pela moeda americana, assim como a possibilidade de o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) começar, ainda em dezembro, a retirada de seus estímulos à economia.
Na cotação mínima de hoje no balcão, vista perto das 10 horas, o dólar marcou R$ 2,2380 (+0,31%) e, na máxima, às 11,27 e às 15h23, a moeda atingiu R$ 2,2590 (+1,26). O giro à vista era menor que o verificado nas sessões anteriores e, perto das 16h30, somava US$ 588,8 milhões, sendo US$ 234,2 milhões em D+2. No mercado futuro, o dólar para dezembro tinha alta de 0,78%, a R$ 2,2715.
Logo cedo, a moeda americana já registrava ganhos ante o real sob a influência do exterior, onde o dólar também avançava ante várias divisas, e da divulgação dos números da produção industrial brasileira em setembro. O fato de o comunicado do Fed divulgado na quarta-feira, 29, ter mantido a possibilidade de o programa de compra de bônus da instituição começar a ser reduzido ainda este ano - o que representaria menos dólares no mercado global - continuou dando força à moeda americana.
No Brasil, a pressão foi ampliada pela percepção de que a economia, de fato, não vai bem.
Após o Tesouro ter divulgado, na quinta-feira, 30, que o governo central teve o maior déficit fiscal para meses de setembro em 17 anos, hoje foi a vez de o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informar que a produção industrial subiu apenas 0,7% em setembro ante agosto, quase no piso das estimativas do mercado financeiro (+0,4% a +2,0%).
Além disso, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) anunciou que a balança comercial brasileira ficou negativa em US$ 224 milhões no mês passado - o pior resultado para meses de outubro desde 2000.
Números como os do déficit fiscal elevaram a percepção de que o Brasil terá seu rating rebaixando pelas agências de classificação de risco, o que pode prejudicar o fluxo de dólares para o País. Hoje, por exemplo, o chairman do Goldman Sachs no Brasil, Paulo Leme, afirmou que o Brasil pode ter o rating revisado para pior, embora tenha dito que não corre o risco de perder o grau de investimento.
"Mudou o humor do mercado em função da economia", comentou o gerente de câmbio de um banco, que prefere não se identificar. "Agora, estão surgindo uma série de sequelas em função das políticas que estes caras adotaram", comentou, em referência ao governo e ao Banco Central.
"O real acompanhou hoje o movimento das piores moedas lá fora", acrescentou profissional de um outro banco. "Além disso, enfrentamos uma série de acontecimentos: o BC não rolou todos os contratos de swap de novembro, tivemos um déficit fiscal grande e a balança comercial também veio ruim", citou.
Assim, nem mesmo o leilão de linha (venda de dólares com compromisso de recompra) no valor de US$ 1 bilhão, feito pela manhã pelo Banco Central, dentro de seu programa de "ração diária", conseguiu conter a pressão de alta da moeda americana.