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Casas Bahia reduz prejuízo e eleva margens, mas vendas seguem fracas; CEO está confiante na retomada

"Alavanca de crescimento de receita está bem endereçada, mas obviamente vai demandar um pouco de tempo para o mercado comprar a tese", diz Renato Franklin

Franklin: no online, 1P deve começar a se recuperar com esforços de UX (Arquivo Pessoal/Reprodução)

Franklin: no online, 1P deve começar a se recuperar com esforços de UX (Arquivo Pessoal/Reprodução)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 14 de novembro de 2024 às 16h11.

Nas Casas Bahia, o turnaround avança, mas não sem encontrar pedras pelo caminho.

No terceiro trimestre, a empresa conseguiu reduzir em 56% o prejuízo, para R$ 369 milhões. Ganhou 8,6 pontos de margem bruta, para 31,6%, e viu uma salto de margem Ebitda de magnitude similar, chegando a 7,7%.

Mas as vendas continuaram sem crescer. No topline, o recuo ainda foi de 2,9%, para R$ 6,4 bilhões, com o enxugamento do e-commerce para categorias core (linha branca e móveis, por exmeplo) ainda surtindo efeitos.

"Como esperado, a tendência de enfraquecimento da receita líquida continuou no 3º trimestre e, apesar de melhores margens, a rentabilidade permanece sob pressão, reforçando a perspectiva de curto prazo desafiadora", destacou o time do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME).

Nesta quinta-feira, as ações da companhia caem quase 3,2%, para um patamar abaixo dos R$ 4 por ação -- mais um recuo para um papel que tem sofrido com desvalorizações e acumula perda de 62% no ano.

O mercado, diz Renato Franklin, CEO da varejista, ainda está no modo "não vou pagar para ver", preferindo esperar mais sinais de que essa reestruturação está no caminho certo, há razões para ter confiança no ritmo de recuperação. O plano de recuperação, segundo o executivo, já está em 60%.

"A alavanca de crescimento de receita está bem endereçada, mas obviamente vai demandar um pouco de tempo para o mercado comprar a tese. Da mesma forma que foi com as alavancas operacionais: o pessoal primeiro viu, ficou um pouco cético, entendeu que o caminho era esse, precificou um risco de execução muito alto e agora está vendo que estamos conseguindo executar", diz. 

A empresa tinha um risco de desalavacagem operacional. Se a receita caísse muito mais que a despesa, perderia margem, mas conseguiu preservá-la. "Agora nós temos a oportunidade de capturar crescimento de receita", diz Franklin.

Ele destaca o aumento de vendas em mesmas lojas, que chegou a 6,5% no trimestre, mas chegou a ser negativo em 9% no começo deste ano. Em outubro, o crescimento já é mais forte, mostra a empresa em gráfico no resultado sem abrir de quanto é esse avanço exatamente.

No varejo online, o GMV (volume bruto de mercadorias) teve aumento de 18% no marktplace (3P). O GMV do 1P, que são as vendas diretas da varejista, ainda caiu 22% mas o executivo está confiante de que a trajetória já é de "pouso", com as quedas nas vendas diminuindo gradativamente.

A companhia, diz ele, tem investido em UX para poder melhorar o retorno do investimento de marketing. "O 1P vai começar a contribuir para o crescimento da receita da companhia. Obviamente num ritmo menor do que a loja física, que é prioridade", diz Franklin.

Um dos caminhos de expansão para o 1P é a operação de crediário, bastante forte no varejo físico. O crediário no online está aumentando e deve atingir 10% do volume do 1P em breve, de acordo com o executivo. No consolidado, o crediário é 17,7%, com a carteira ativa tendo crescido 7,5% para R$ 5,7 bilhões e com a inadimplência ficando sob controle. No over 90, a inadimplência ficou em 8,4%, 0,9 ponto percentual melhor do que um ano antes.

Melhora de estrutura de capital

É na força do crediário que Franklin tem apostado como antídoto para a tendência de juros em patamares elevados por mais tempo. "Conhecemos nossos clientes a fundo e conseguimos dar crédito para pessoas para as quais o sistema financeiro recalcula em momentos mais retraídos. Então esse ambiente nos ajuda a crescer o crediário."

O custo de capital para o funding, porém, fica maior, pressionando as despesas financeiras, uma frente ainda delicada para a empresa. A companhia fez sua recuperação extrajudicial, reperfilando a dívida e ganhando fôlego, com os vencimentos sendo postergardos para 2030, mas segue trabalhando na estrutura de capital.

Um dos pontos de atenção tem sido a melhora de capital de giro. No terceiro trimestre, a companhia lançou duas novidades que devem ajudar na disciplina com a estrutura de capital. Uma é a CB Full, que é a integração e unificação das operações logísticas.

A outra, conta o CFO, Elcio Ito, é um produto novo que se chama Full Cross, um estoque avançado da do fornecedor. A fabricante aluga espaço no CD da Casas Bahia para manter seu estoque. O produto não entra como inventário da Casas Bahia, mas pode ser vendido por ela. E só quando a venda acontece, o produto é faturado pela fabricante.

A iniciativa começou com fornecedores menores, mas já está negociada com um grande fornecedor de linha branca, conta o diretor financeiro. "Com isso eu preciso de menos capital investido, menos capital de giro. E isso me alivia um pouco nas despesas financeiras." 

Mas essa é uma das iniciativas. Além da disciplina de capex, a Casas Bahia vem trabalhando na monetização dos créditos tributários. Monetizou R$1,5 bilhão nos últimos meses, mas ainda tem mais R$4,8 bilhões em créditos tributários.

Além disso, no reperfilamento de dívida da companhia, dos R$ 4,1 bilhões, R$ 1,4 bilhão poderão ser convertidos em ações pelos debenturistas. A primeira janela de conversão se abre em outubro do ano que vem. Lá, os debenturistas que quiserem converter parte de seus valores em ações terão um desocnto de 20% sobre o valor médio do papel nos últimos 90 dias.

"Não é uma opção da companhia, mas é um mecanismo favorável, uma outra possibilidade de melhora da estrutura de capital."

Não tem bala de prata, e a varejista quer buscar todas as opções que tem para virar o jogo. 

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