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Campeão mundial de xadrez faz IPO mais badalado do Japão

Em abril, a empresa abriu o capital em um mercado de startups na Bolsa de Valores de Tóquio

Takahiro Hayashi: ação da Heroz quase quadruplicou desde abertura de capital (Kentaro Takahashi/Bloomberg/Bloomberg)

Takahiro Hayashi: ação da Heroz quase quadruplicou desde abertura de capital (Kentaro Takahashi/Bloomberg/Bloomberg)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 18 de agosto de 2018 às 06h29.

Última atualização em 18 de agosto de 2018 às 06h29.

(Bloomberg) -- Takahiro Hayashi conquistou seu primeiro título nacional de shogi - a versão japonesa do xadrez - quando ainda estava no colegial e, aos 22 anos, ele era o campeão mundial amador. Seus treinadores insistiam para que ele se tornasse profissional.

Mas Hayashi queria ser empreendedor, não jogador de xadrez. E assim, em 2009, ele se viu em uma sala com alguns capitalistas de risco locais, apresentando um discurso de 120 páginas sobre sua empresa de jogos sociais. Os financistas nem prestaram muita atenção.

"Um dos investidores me disse que não tinha escutado atentamente a explicação de nosso plano de negócios", disse Hayashi, de 41 anos, em uma entrevista na sede da Heroz, em Tóquio. "Ele me disse: ’Você é um campeão mundial, então você vai se sair bem.’"

Hayashi conseguiu o financiamento. "Isso me surpreendeu", disse ele. Mas, pelo menos até agora, a aposta do executivo de capital de risco foi lucrativa. A Heroz, que passou a desenvolver tecnologias de inteligência artificial por meio da criação de jogos on-line, como o shogi, e depois a usar a inteligência artificial para uma série de outros serviços, agora é uma empresa de capital aberto e suas ações estão prosperando.

Estreia recorde

Em abril, a empresa abriu o capital em um mercado de startups na Bolsa de Valores de Tóquio. Foi uma estreia recorde. As ações abriram 11 vezes acima do preço do IPO, o melhor início de negociação já registrado por uma companhia japonesa de capital aberto. A ação quase quadruplicou desde a abertura de capital e chegou a cair 3,9% na quinta-feira em Tóquio.

"Eu não imaginava que a companhia seria tão bem-sucedida", disse Hideto Fujino, um dos mais famosos analistas de ações do Japão, que tinha adquirido uma participação na empresa como investimento pessoal antes de a Heroz abrir o capital e agora é um dos 10 principais acionistas. Fujino, que também adora jogar shogi, diz que havia comprado as ações para encorajar a empresa, não porque esperava lucrar. "Foi mais uma forma de apoio", disse ele.

Deep Blue

A Heroz lançou seu jogo "Shogi Wars" em 2012. No ano seguinte, um motor de inteligência artificial desenvolvido por um engenheiro da empresa se tornou o primeiro a derrotar um jogador profissional de xadrez japonês. Isso aconteceu cerca de 16 anos depois de o Deep Blue, um computador de xadrez criado pela International Business Machines, ter vencido o então campeão mundial, Garry Kasparov. O shogi é mais complexo que o xadrez, porque as peças retornam ao tabuleiro após serem capturadas, o que aumenta o número de permutações de movimentos que devem ser consideradas.

Depois de construir o novo Deep Blue, a Heroz usou as habilidades de aprendizagem profunda e aprendizagem de máquina que adquiriu para incursionar por diversas outras áreas, como a construção civil e os serviços financeiros.

O momento é extremamente oportuno. O setor de inteligência artificial está se expandindo rapidamente no Japão, onde a constante redução da força de trabalho resulta no mercado de trabalho mais apertado em décadas, o que representa uma oportunidade para que as empresas usem a tecnologia para ajudar a preencher vagas e melhorar a eficiência. O mercado japonês de inteligência artificial pode chegar a mais de US$ 18 bilhões até o ano fiscal de 2030, um aumento de mais de sete vezes em relação ao ano fiscal de 2016, segundo estimativas da Fuji Chimera Research Institute. "Há um enorme potencial", disse Hayashi.

 

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