PIB dos EUA: investidores temem as próximas decisões do Fed e os seus reflexos nas economias e mercados globais (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de Invest
Publicado em 26 de outubro de 2023 às 16h05.
Última atualização em 26 de outubro de 2023 às 18h13.
O PIB dos Estados Unidos é o assunto do dia nos mercados globais. Na manhã desta quinta-feira, 26, o Departamento do Comércio reportou um crescimento de 4,9% trimestral anualizado, acima das projeções de 4,3%. Três meses antes, a aceleração do indicador estava em 2,1%. Agora, investidores temem as próximas decisões do Federal Reserve (Fed, banco central americano) e os seus reflexos nas economias mundiais.
Os números surpreenderam o mercado, mas sem fazer grandes estardalhaços. Em Nova York, uma parcela dos investidores repercutiram os balanços das big techs. É o caso da Meta (M1TA34), dona do Facebook, cujas ações fecharam com queda de 3,73%, que mesmo com números melhores que o esperado ainda alertou para a fraqueza na demanda por anúncios. Com isso, o Dow Jones fechou em queda de 0,76%, o S&P 500 recuou 1,18%, e a Nasdaq teve baixa de 1,76%.
Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, explica que o indicador divulgado hoje se baseia na força da demanda do consumidor americano. Com o PIB reportados, fica claro que a atividade econômica do país permanece forte e aquecida. “Mesmo após um longo ciclo de alta de juro — que passa de 16 meses, desde o início em março do ano passado — não há sinais claros de enfraquecimento da atividade produtiva, da renda e da despesa. O Fed vai precisar reavaliar o seu balanço de riscos na sua decisão de política monetária na quarta-feira que vem, 1° de novembro.”
Os dados do PIB divulgados hoje em muito surpreenderam o mercado, sobretudo porque não faz muito tempo havia uma expectativa de recessão nos EUA. “O que acabou não se configurando. De fato, os investidores contrataram uma recessão que nunca veio. Observamos isso ao longo de 2023, com a perspectiva ‘hard landing’, que foi reduzindo para um ‘soft landing’ e depois para um ‘no landing’, pois a economia não parou e ainda continuou crescendo”, aponta William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue.
Ainda assim, para o especialista, não são os números de hoje que trarão transformações radicais na carteira dos investidores. Afinal, muitos deles já haviam feito esse movimento no ano passado. “O ano de 2022 foi muito ruim no mercado de ações e vimos alguns gestores comprando ou colocando alguma posição em ações, visto que a economia vinha surpreendendo. Então, já houve antes um pouco dessa mudança. Não diria que o PIB agora vai fazer as pessoas mudarem seus portfólios, pois essa adaptação já aconteceu”, afirma.
Mas ainda que o mercado já possa ter feito as adaptações necessárias na carteira, ainda existe o temor de como esses números vão pesar para a próxima reunião do Fomc. “Apesar de a inflação estar moderada e ter caído de maneira satisfatória, o próprio Fed admite isso, o problema é que tanto os dados produtivos quanto do mercado de trabalho continuam dando sinais de muito vigor”, aponta Mattos.
O analista de Inteligência de Mercado da StoneX lembra que na última semana os dados de pedidos de seguro-desemprego dos EUA totalizaram 210 mil, acima da projeção de 208 mil. Junto a isso, o último dado de geração de empregos, referente a setembro, ficou muito além da expectativa: as projeções apontavam para uma mediana de 170 mil vagas, mas foram gerados quase 340 mil empregos.
Segundo Mattos, por isso, a expectativa dos investidores é de que as taxas de juro devem permanecer em patamares elevados por um longo período de tempo. “Isso também pressiona os rendimentos dos títulos do Tesouro americano para patamares maiores, principalmente nos prazos de maturidade mais longa. Isso prejudica o desempenho de ativos arriscados, como ações, commodities e moedas de países emergentes — tal como o real.”
A recessão nos EUA ainda não chegou, mas o estrategista-chefe da Avenue aponta que muitos investidores acreditam que ela não está muito distante. “Atualmente, esse é o grande ponto. Cerca de 70% da economia americana deriva do consumo. E quando você tem uma taxa de juro mais elevada, tal qual temos visto hoje, em algum momento essa defasagem acaba impactando negativamente o crescimento.”
Diante disso, Alves acredita que o PIB do quarto trimestre deverá começar a demonstrar uma desaceleração econômica, mas não necessariamente uma recessão. “Alguns acreditam que a recessão ficou para 2024.”