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Brasil perde espaço e investidores preferem ações mexicanas

Brasil, a incerteza política crescente e dúvidas sobre o ritmo da recuperação econômica têm levado a uma postura mais cautelosa

O Ibovespa acumula uma queda de 3,5% em 2021, enquanto o índice Mexbol subiu 6,4% em moeda local no mesmo período (Germano Lüders/Exame)

O Ibovespa acumula uma queda de 3,5% em 2021, enquanto o índice Mexbol subiu 6,4% em moeda local no mesmo período (Germano Lüders/Exame)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 19 de março de 2021 às 11h46.

Os investidores em ações latino-americanas que buscam evitar um cenário de maior incerteza no Brasil estão mapeando oportunidades no México. As ações mexicanas têm atraído apostas otimistas em meio à visão de que o país deve se beneficiar da aceleração da economia norte-americana, que deve crescer 5,6% neste ano, de acordo com a mediana das projeções de economistas e estrategistas compiladas pela Bloomberg.

Além da perspectiva de exportações crescentes e remessas impulsionadas pelos cheques de estímulo em seu vizinho do norte, o México executou um dos orçamentos mais austeros do mundo durante a crise da Covid-19.No Brasil, a incerteza política crescente e dúvidas sobre o ritmo da recuperação econômica têm levado a uma postura mais cautelosa.

“O México está em melhor posição para um desempenho superior” na região, disse Emy Shayo, estrategista de ações para América Latina do JPMorgan, em relatório nesta semana. Ela elevou as ações do México para overweight (recomendação acima da média), citando a forte posição fiscal do país e a expectativa de crescimento mais forte dos EUA. O Brasil foi rebaixado para neutro após cerca de quatro anos de recomendação overweight.

O Ibovespa acumula uma queda de 3,5% em 2021, enquanto o índice Mexbol subiu 6,4% em moeda local no mesmo período. A bolsa brasileira vinha registrando desempenho anual mais forte em relação ao seu par regional desde 2016. Enquanto as mortes por coronavírus no Brasil estão em patamar recorde, os casos têm desacelerado no México, que busca superar a pior recessão em cerca de um século.

O apetite por Brasil também foi impactado pela inflação em alta e maior ceticismo em relação às reformas prometidas pelo presidente Jair Bolsonaro durante sua campanha eleitoral.“O forte crescimento nos EUA provavelmente beneficiará o México, que também gastou menos do que seus pares emergentes em meio à pandemia”, disse Will Pruett, gestor que administra cerca de US$ 7,4 bilhões na Fidelity Investments, incluindo cerca de US$ 400 milhões no Fidelity Latin America Fund. Pruett está ligeiramente overweight no México e neutro no Brasil.

Risco político

Um risco para a visão otimista sobre o México pode ser um cenário político mais confuso à frente, segundo Emy Shayo. O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, e o partido governante Morena enfrentarão um grande teste nas eleições legislativas no início de junho.

Neste mês, o sentimento em relação ao México e ao Chile continuou a melhorar, enquanto os investidores reduziram suas expectativas em relação aos ativos brasileiros, segundo pesquisa do BofA com gestores de fundos latino-americanos que administram cerca de US$ 86 bilhões. Cerca de 48% deles esperam que as ações superem o desempenho de outras classes de ativos no México nos próximos seis meses, acima da média histórica da pesquisa.

Pablo Riveroll, chefe de renda variável para a América Latina na Schroders em Londres, tem aumentado a exposição ao México, mas sem usar as ações brasileiras como ‘funding’. “No Brasil, esta pode ser a última chance que temos de comprar beneficiários da reabertura da economia como varejistas e shoppings, alguns dos quais estão com preços muito deprimidos”, disse.

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