Painel com cotações na bolsa brasileira, a B3: Ibovespa teve em novembro a maior alta mensal desde 2016 (Germano Lüders/Exame)
Da Redação
Publicado em 1 de dezembro de 2020 às 06h15.
Última atualização em 1 de dezembro de 2020 às 07h32.
A bolsa brasileira, a B3, começa o último mês do ano com queda ainda acumulada de 5,84% em relação ao patamar do fim do ano passado, mas embalada pela redução de apetite a risco por parte de investidores estrangeiros. Essa mudança de estratégia no exterior impulsionou o Ibovespa a uma alta de 15,9% em novembro, o que foi o melhor resultado mensal desde março de 2016.
Projeções para 2021 já assumem que o Ibovespa pode chegar aos 120 mil pontos ou mais ao longo do ano. E é uma trajetória que pode continuar no último mês do ano. Pela análise gráfica -- que utiliza técnicas que buscam padrões de mercado, fazendo projeções futuras com base em experiências passadas --, o próximo ponto de resistência mais forte do índice de ações será na casa dos 115.000 pontos. É o nível em que há maior chance de um movimento de realização de lucros mais significativo.
Na segunda-feira, 30, o Ibovespa fechou em queda de 1,52%, aos 108.893,32 pontos. No último dia de 2019, estava com 115.645,34 pontos.
Mas a bolsa brasileira corre o risco perder o trem da euforia global, alertam analistas. Investidores analisam o equilíbrio de forças entre um cenário externo amplamente favorável, com a a redução das incertezas e a consequente volta do apetite ao risco, beneficiando mercados emergentes como o Brasil; e um cenário interno com muitos riscos no campo fiscal e sem que o governo consiga aliviar a situação com medidas concretas.
O movimento externo pode ganhar novos impulsos com notícias positivas sobre a aprovação de uma vacina para o novo coronavírus pelas autoridades regulatórias, a começar pelo FDA nos Estados Unidos. A candidata a vacina em estágio mais avançado é a desenvolvida pela americana Pfizer em parceria com a empresa alemã BioNTech, que pode receber o sinal verde na quinta-feira da semana que vem, dia 10.
Mas investidores estarão atentos já nesta terça-feira, 1º, a uma reunião de emergência de autoridades de saúde nos Estados Unidos, que deve recomendar que o FDA autorize profissionais de saúde e pessoas hospitalizadas há muito tempo a serem os dois primeiros grupos de risco a receber a vacina. O entendimento é que a divulgação de regras sinaliza uma provável aprovação da vacina.
Também nesta terça, as duas principais autoridades americanas na economia vão depor diante do Comitê Bancário do Senado sobre as medidas de emergências para a economia americana. O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, e o secretário do Tesouro, Steven Mnucchin, podem fornecer mais informações sobre o estágio da maior economia do mundo e a continuidade de medidas extraordinárias para estimular a recuperação. E podem mostrar se ainda estão com visões divergentes sobre a necessidade de estímulos.
Por outro lado, apesar da carona que os ativos brasileiros pegaram do reposicionamento de carteira de grandes investidores globais, a bolsa brasileira corre o risco de perder o embalo a depender da agenda de medidas para o enfrentamento da crise fiscal. As eleições municipais foram tomadas como alegação para a ausência de ações concretas nos últimos meses, mas esse prazo começa a se exaurir passado o segundo turno.
Nesta segunda-feira, 30, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, abordou um ponto que tem incomodado uma ala crescente do mercado: a ausência de senso de urgência e de qualquer iniciativa do governo para amenizar a escalada da dívida, que pode chegar ao fim do ano em patamar equivalente a 100% do PIB do país.
Maia descartou a hipótese de extensão automática na Câmara do estado da calamidade pública, que se encerra em 31 de dezembro. Isso significa que o governo terá que voltar a respeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal a partir de janeiro. "Não adianta chegar o último dia do ano e querer pressionar, porque não vai funcionar", afirmou o deputado federal.
As declarações foram dadas em entrevista ao site UOL. Maia também disse que uma eventual prorrogação do auxílio emergencial será um problema a ser solucionado pelo governo, dada a limitação de recursos, e não pela Casa.