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BC decidirá sobre juros diante do 'pior dos mundos', diz Carlos Kawall

Decisão do Copom será tomada em momento de alta das expectativas de inflação e de enfraquecimento da atividade, diz o diretor da Asa Investments e ex-secretário do Tesouro

Carlos Kawall: diretor da gestora ASA Investments e ex-secretário do Tesouro Nacional (ASA Investments/Divulgação)

Carlos Kawall: diretor da gestora ASA Investments e ex-secretário do Tesouro Nacional (ASA Investments/Divulgação)

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Bloomberg

Publicado em 16 de março de 2021 às 05h55.

O Banco Central ampliou as intervenções no câmbio para interromper o movimento unidirecional de alta do dólar, diz Carlos Kawall, diretor da Asa Investments e ex-secretário do Tesouro Nacional.

Segundo ele, a autoridade monetária interpretou que o câmbio estava disfuncional, movimento que pode ter sido causado pela busca de proteção para as apostas na alta da bolsa.

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“Claro que tem questões de fundamento, incerteza fiscal, mas o fato é que estava indo quase que numa trajetória solo frente aos outros emergentes e ele [BC] decidiu quebrar a dinâmica atuando de forma mais incisiva.”

O Banco Central mudou sua estratégia de atuação no câmbio na semana passada, após a moeda superar 5,80 reais, com a piora da percepção de risco sobre o país.

Desde então, o BC passou a fazer leilões de swap cambial e à vista mesmo quando o dólar registrava queda. A autoridade monetária vendeu o equivalente a 3,155 bilhões de dólares em três dias de atuação na semana passada.

O dólar acumulava alta de cerca de 12% no ano até o dia 9 de março, véspera da nova atuação do BC, no pior desempenho em uma cesta de 24 moedas emergentes. Em contrapartida, desde então o dólar caiu cerca de 3%.

Analistas enxergaram uma preocupação do BC com o nível elevado do câmbio, e não apenas com a volatilidade, como a autoridade monetária apontava até então. Além disso, o dólar alto também pressiona a inflação, com reflexos sobre a taxa de juros.

Kawall não acredita que o objetivo das intervenções esteja ligado à política monetária. Segundo ele, o Banco Central poderá dar explicações sobre a nova estratégia após passar o período de silêncio que antecede a decisão do Copom na quarta-feira, 17.

'Pior dos mundos'

Ele estima que o BC iniciará um ciclo de alta da Selic já nesta quarta-feira, 17, com elevação de 0,50 ponto percentual, para 2,5% ao ano, em decisão “bastante complexa”. Se por um lado a inflação subiu, bem como as expectativas para 2021, por outro o agravamento da pandemia de coronavírus prejudica a atividade.

“O BC está colhendo o pior dos mundos. Alta da inflação com sinais de arrefecimento da atividade que deve continuar no segundo trimestre.”

Kawall prevê que as próximas semanas serão turbulentas, com a piora da pandemia e a manutenção do prêmio de risco do país elevado.

Recentemente, o avanço do dólar foi puxado pela troca de comando da Petrobras feita pelo presidente Jair Bolsonaro e pelas incertezas fiscais.

Também pesou a decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, de anular as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tornando-o elegível em 2022.

“Isso mostrou a ideia do medo de que o governo atual exacerbe a tentação populista frente à necessidade de se contrapor eleitoralmente ao Lula”, afirmou.

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