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As apostas do mercado para maio: trade da reabertura, commodities e real

Ações que se beneficiam da retomada doméstica voltaram a ganhar destaque nas carteiras de bancos e gestoras deste mês, combinadas com papéis cíclicos globais, voltados para commodities

Fachada do prédio da B3, a bolsa brasileira, no centro de São Paulo: reabertura da economia cria oportunidades de investimento em ações (Gustavo Scatena/Divulgação)

Fachada do prédio da B3, a bolsa brasileira, no centro de São Paulo: reabertura da economia cria oportunidades de investimento em ações (Gustavo Scatena/Divulgação)

PB

Paula Barra

Publicado em 4 de maio de 2021 às 07h29.

Última atualização em 4 de maio de 2021 às 11h47.

Embora os riscos domésticos, principalmente relacionados à pandemia e aos avanços das campanhas de vacinação do país, ainda persistam, o mercado acredita que o movimento que marcou o último mês – com o Ibovespa registrando alta de 1,94% em abril, enquanto o dólar caiu 3,5% frente ao real – deva se estender para maio.

De um lado, porque o pano de fundo global segue favorável, alimentado pelos pacotes de ajuda dos governos de várias nações e perspectivas de que o Federal Reserve não retire os estímulos monetários nos Estados Unidos tão cedo.

De outro, porque, embora a situação doméstica siga mais desafiadora, sinais de melhora na saúde do país começam a sugerir que a reabertura econômica pode estar mais próxima, enquanto a aprovação do Orçamento no fim do mês passado trouxe algum alívio do lado fiscal.

Nesse sentido, ações que se beneficiam da retomada econômica doméstica voltaram a ganhar destaque nas carteiras de bancos, corretoras e gestoras; além delas, papéis cíclicos globais, relacionados à demanda por commodities, que continuam entre as apostas, mesmo com o forte rali nos últimos meses.

"Apesar do clássico 'sell in May and go away' (venda em maio e vá embora, um ditado dos mercados), este mês não deve ser ruim para os mercados. Devemos ter uma Bolsa performando relativamente bem", afirma Bruno Lima, head de renda variável da Exame Invest PRO.

"Com os números de covid melhorando, as vacinas acelerando e a temporada de balanços que tem se mostrado boa, não devemos ter nenhum cataclisma. Até porque temos um efeito-base de comparação bom, tendo em vista que o primeiro trimestre de 2020 já trouxe um impacto da covid", disse o analista.

Com a melhora no ambiente interno, os investidores estrangeiros voltaram a aportar recursos no Brasil em abril (com entrada líquida de 7,4 bilhões de reais), após dois meses de fortes retiradas, ao passo que o risco-país, medido pelo CDS, diminuiu (veja gráfico abaixo).

(Arte/Exame)

"O ritmo de vacinação ainda está lento para um país do tamanho do Brasil (com mais de 200 milhões de habitantes), mas mostra um claro progresso. Em abril, o número médio de doses de vacina por dia foi de 819 mil, contra 464 mil em março", disseram os analistas Carlos Sequeira e Osni Carfi, do BTG Pactual, em relatório do início desta semana.

"A principal preocupação é se haverá vacinas suficientes para manter o ritmo atual ou, com sorte, até mesmo acelerar a taxa de vacinação no país".

Para o portfólio do BTG de 10 ações para maio, eles optaram por aumentar exposição em ações ligadas à tese de reabertura, com a inclusão de Bradesco (BBDC4), Arezzo (ARZZ3), Iguatemi (IGTA3), Rumo (RAIL3) e CCR (CCRO3), enquanto reduziram um pouco alocação em commodities, embora tenham mantido Vale (VALE3), ainda com o maior peso na carteira, de 15%, e Gerdau (GGBR4).

O Bank of America também optou por elevar exposição em ativos que ganham com a reabertura em seu portfólio para América Latina deste mês – incluindo Lojas Renner (LREN3) e BR Distribuidora (BRDT3) –, enquanto manteve alocacação nos bancos Bradesco (BBDC4) e Itaú (ITUB4) e em commodities, com JBS (JBSS3), BRF (BRFS3), Vale (VALE3) e Klabin (KLBN11), diante de uma leitura que os preços devem seguir altos.

Bolsa está barata?

Mesmo com a recuperação nos últimos dois meses, Cristiano Pinelli, sócio e gestor da Rio Gestão de Recursos, acredita que a Bolsa brasileira segue com preços atrativos.

"Temos aumentado posição comprada em Bolsa. Estamos com um cenário mais construtivo para Brasil, principalmente olhando para os preços dos ativos. Acreditamos que a Bolsa brasileira ficou muito deteriorada frente ao resto do mundo", disse Pinelli.

Em dólar, o Ibovespa ainda segue com desempenho inferior ao de outros mercados da América Latina e dos Estados Unidos no acumulado do ano (gráfico abaixo).

(Arte/Exame)

Olhando sob a ótica de múltiplos, o Ibovespa (excluindo Petrobras e Vale) negocia em linha com sua média histórica de 12,8 vezes o múltiplo preço sobre lucro (P/L), um dos patamares mais baixos desde abril de 2020, no início da pandemia.

Para capturar esse ambiente mais favorável, Pinelli disse que tem na carteira atualmente ações de commodities, tecnologia, utilities (serviços públicos, como energia) e bancos.

"Estamos em um momento bem diversificado, num mix de ativos bons que já subiram e outros que ainda estão atrasados. Não queremos escolher uma pista que vai andar mais. Queremos surfar esse movimento com menos volatilidade", explicou.

Bancos e commodities também fazem parte do portfólio de Sérgio Zanini, sócio e gestor da Galapagos Capital.

"Gostamos bastante da história de commodities, achamos que é uma tese estrutural, com expansão monetária direcionada para a base da pirâmide e retomada robusta dos países desenvolvidos. Os Estados Unidos devem crescer 7,5% neste ano, e a China, perto de 8%. No Brasil, temos exposição em mineração e siderurgia. Temos também bancos, com expectativa de alta de juros, que deve ajudar a impulsionar os balanços". 

Dólar em baixa

Para Zanini, o Banco Central brasileiro deve precisar elevar os juros mais do que alguns pares emergentes, por pressão inflacionária, e isso deve acabar beneficiando o real frente ao dólar. "O real deve ser uma das moedas mais beneficiadas pela retomada econômica, uma vez que o cenário é favorável também para commodities. Devemos ter contas externas muito favoráveis."

Em moedas, a principal aposta de Zanini hoje é no euro contra o dólar. Ele acredita que a economia dos EUA teve seu pico de crescimento em abril e, a partir de maio, a Europa deve acelerar mais, o que deve tirar um pouco de pressão do dólar, explicou. Mas, como é otimista com commodities e vê mais alta de juros no Brasil, tem exposição também em real contra a moeda americana.

"O que mais preocupava no dólar era a incerteza fiscal e isso reduziu um pouco. A outra questão era o juro real, que estava muito negativo, mas estamos caminhando para fechar esse gap e a moeda vai voltar a ser ancorada de novo", comentou Pinelli, que também vê o dólar em patamar mais baixo.

"O BC já começou o ciclo de ajustes e, nesta reunião do Copom de quarta-feira [amanhã], devemos ter mais um aumento [da Selic] de 0,75 ponto percentual", acrescentou o gestor.

 

 

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