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Após escândalo, JBS se torna 'queridinha' no mercado de dívida

Os títulos emitidos pela JBS registram, no acumulado do ano, o maior ganho entre os competidores globais.

JBS: consumo de carne nos EUA e desvalorização do real têm ajudado a empresa (Ueslei Marcelino/Reuters)

JBS: consumo de carne nos EUA e desvalorização do real têm ajudado a empresa (Ueslei Marcelino/Reuters)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 26 de agosto de 2018 às 06h24.

Última atualização em 26 de agosto de 2018 às 06h24.

(Bloomberg) -- A maior produtora de carnes do mundo está emergindo de sua maior crise como um destaque no mercado de dívida corporativa, com a companhia se beneficiando da forte demanda por carne bovina nos EUA e da desvalorização do real.

Os títulos emitidos pela JBS registram, no acumulado do ano, o maior ganho entre os competidores globais. Os papéis com vencimento em 2024, de uma emissão de US$ 750 milhões, deram retorno de 6,2 por cento até aqui, em comparação a uma perda média de 2 por cento para 450 títulos de companhias alimentícias com pelo menos US$ 500 milhões em emissões, segundo dados compilados pela Bloomberg.

O desempenho evidencia a evolução financeira da JBS desde o ano passado, quando Wesley e Joesley Batista, os irmãos bilionários que controlam a companhia, confessaram uma série de ilegalidades em um acordo de delação premiada, o que derrubou as ações e os bonds da companhia. Posteriormente, a empresa vendeu ativos, pagou US$ 2 bilhões em dívidas e prolongou o vencimento de suas obrigações, reduzindo drasticamente os empréstimos de curto prazo.

Os títulos do frigorífico se tornaram os mais atraentes para os investidores no setor de proteína do Brasil, de acordo com relatórios divulgados neste mês pela Mizuho Securities USA em Nova York e pela XP Investimentos, em São Paulo.A decisão da JBS de reduzir os níveis de endividamento diminuiu o risco de refinanciamento da companhia e fortaleceu a confiança dos investidores, de acordo com Roger Horn, analista sênior de mercados emergentes da SMBC Nikko Securities America.

"Remover o risco de liquidez ajuda com a comunidade financeira", disse Horn. "Sem dúvida, essa foi a decisão certa a tomar."

A gigante da carne também se beneficiou de um lucro recorde na JBS USA Beef - sua maior unidade, com operações na Austrália, no Canadá e nos EUA - em meio ao crescimento das exportações para Japão e da Coreia do Sul. A desvalorização de 19 por cento sofrida pela moeda brasileira neste ano também tem fortalecido os resultados, uma vez que a empresa passa a obter mais reais para cada dólar faturado no exterior. No segundo trimestre, os resultados antes de juros, impostos, depreciação e amortização aumentaram 13 por cento, para R$ 4,24 bilhões (US$ 1 bilhão), embora não tenham mudado em dólares.

"A diversificação geográfica está ajudando", disse Omar Zeolla, analista da Oppenheimer & Co., acrescentando que os resultados melhores da unidade de carne bovina da JBS nos EUA mais que compensam as margens de lucro mais fracas nas unidades de frango e suínos da companhia nos EUA e no Brasil.

No ano passado, a empresa que controla a JBS concordou em pagar R$ 10,3 bilhões no ano passado como parte do acordo de delação premiada fechado com promotores brasileiros depois que os irmãos Batista confessaram ter feito pagamentos a mais de 1.800 políticos e apresentaram uma gravação contra o presidente Michel Temer, o que causou estragos nos mercados financeiros e nos círculos políticos do Brasil. A empresa também manteve conversações com o Departamento de Justiça dos EUA para fechar um acordo nesse país.

"Ainda existem riscos jurídicos, mas a empresa é grande o suficiente para suportar quaisquer dificuldades a esse respeito", disse Zeolla.

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