Ações do GPA disparam até 20% com decisão de levar Assaí à Bolsa
Acionistas do grupo varejista vão ter direito a ações equivalentes da rede de atacarejo na B3, segundo anúncio feito na noite da quarta-feira
Marcelo Sakate
Publicado em 10 de setembro de 2020 às 11h48.
Última atualização em 10 de setembro de 2020 às 12h16.
A decisão do GPA de fazer a cisão de sua unidade de atacarejo (ou cash & carry, em inglês), o Assaí, está sendo bem recebida por investidores. As ações do grupo varejista (PCAR3) na B3 chegaram a disparar 20% na abertura do pregão desta quinta-feira, 10, em decorrência do comunicado na última noite, depois do fechamento do mercado. Por volta das 11h50, a alta era de 14%.
A operação, que foi aprovada pelo conselho de administração do GPA na quarta-feira, prevê que o Assaí se tornará uma empresa independente com ações listadas no segmento Novo Mercado da B3, e ADRs na Bolsa de Nova York. Cada acionista do GPA em data a ser definida terá direito a uma ação equivalente do Assaí, com subscrição automática.
Executivos do GPA dissseram que simulações já realizadas apontam que as duas operações (GPA e Assaí) segregadas vão gerar mais valor aos acionistas do que juntas.
“Teremos também maior eficiência na alocação de capitais, uma vez que cada companhia poderá acessar o mercado com sua estratégia”, afirmou Ronaldo Iabrudi, co-vice presidente do conselho do GPA.
O Assaí é uma operação que cresce e gera caixa a um ritmo mais acelerado do que o do GPA inteiro na atual configuração. Potencialmente, pode ser negociado a preços mais elevados sozinho na B3 do que da forma como acontece atualmente.
No jargão do mercado, a cisão vai destravar valor. É uma operação que se tornou recorrente nos últimos anos. A Petrobras realizou com a BR Distribuidora, e o Banco do Brasil, com o BB Seguridade. Nos dois casos, no entanto, a listagem da então subsidiária foi feita por meio de uma oferta pública inicial (IPO) de ações na B3. Não será o caso do Assaí.
A cisão é uma estratégia, no entanto, que foi questionada não faz muitos anos, com base no entendimento de que a divisão da liquidez na bolsa tirava valor dos ativos.
Analistas do Credit Suisse estimam o valor de mercado do Assaí sozinho em 17 bilhões de reais, com base em múltiplos de concorrentes e nos resultados da operação, ligeiramente acima do valor do GPA inteiro no fechamento da quarta-feira (16,7 bilhões de reais). Isso significaria, em tese, que os demais negócios do GPA, como a rede Pão de Açúcar e o app de entregas James, não teriam valor. "Há coisas que não fazem sentido, e o valuation do GPA é uma delas", escrevem os analistas.
A cisão do Assaí se dará em quatro etapas: inicialmente, a transferência da participação acionária do Assaí na rede Éxito (da Colômbia) para o GPA; depois, a cisão do GPA e do Assaí. O terceiro passo será a listagem das ações emitidas pelo Assaí no segmento do Novo Mercado da B3 e a listagem dos ADRs na bolsa de Nova York; e, por fim, a distribuição de ações do Assaí aos acionistas do GPA.
A previsão é que a transação seja concluída até o fim do primeiro trimestre do próximo ano, segundo os executivos do GPA.
O atacarejo é um modelo de negócios que concilia características do atacado, como preços baixos e limitado sortimento (variedade limitada de produtos), com o do varejo, como atendimento ao consumidor comum (em vez de apenas lojistas).