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Ações de construção são as mais arriscadas da Bolsa

Papéis apresentam até 440% de potencial de alta, mas para analistas, não é um bom momento para correr o risco do investimento

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 10h25.

São deslumbrantes os potenciais de valorização do setor de construção civil. As corretoras chegam a projetar alta de até 440% para os papéis ainda em 2008, percentual que salta aos olhos de qualquer investidor. E, considerando a queda de até 67% no preço das ações neste ano, não é difícil acreditar que os papéis estariam entre as pechinchas da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).

Mas os mais desavisados que não se enganem. No mercado financeiro, a possibilidade de ganho em uma aplicação é diretamente proporcional aos riscos nela embutidos. O setor de construção civil é um dos mais voláteis da Bolsa, apresentando grau de risco acima do dobro do Ibovespa. As empresas do setor que fazem parte do índice ocupam quatro das cinco primeiras posições do ranking dos papéis mais arriscados do Ibovespa, segundo estudo da consultoria Cyrnel Internacional.

As 10 ações mais arriscadas do Ibovespa    
Empresa Ação Grau de risco Se o Ibovespa cair 10% Se o Ibovespa subir 10%
Rossi Residencial RSID3 2,54 -10,63 10,63
Cosan CSAN3 2,41 -11,16 11,16
Cyrela CYRE3 2,39 -12,38 12,38
Gafisa GFSA3 2,39 -12,06 12,06
CCP CCPR3 2,35 -12,41 12,41
JBS-Friboi JBSS3 2,33 -10,41 10,41
B2W BTOW3 2,27 -10,31 10,31
Lojas Renner LREN3 2,23 -9,98 9,98
Duratex DURA4 2,22 -8,99 8,99
Gol GOLL4 2,21 -7,55 7,55
Fonte: Cyrnel International    

O risco das ações do setor de construção

Empresa Ação Grau de Risco Se o Ibovespa cair 10% Se o Ibovespa subir 10%
CR2 CRDE3 2,849 -9,433 9,433
Inpar INPR3 2,696 -10,766 10,766
Agra AGIN3 2,669 -11,103 11,103
MRV MRVE3 2,575 -11,706 11,706
Eztec EZTC3 2,558 -10,255 10,255
Rossi Residencial RSID3 2,543 -10,626 10,626
Abyara ABYA3 2,505 -7,366 7,366
PDR Realty PDGR3 2,463 -10,638 10,638
Tenda TEND3 2,438 -9,145 9,145
Cyrela CYRE3 2,394 -12,38 12,38
Gafisa GFSA3 2,389 -12,063 12,063
Even EVEN3 2,378 -9,921 9,921
Trisul TRIS3 2,366 -8,454 8,454
JHSF JHSF3 2,356 -7,508 7,508
CCP CCPR3 2,354 -12,41 12,41
Klabin Segall KSSA3 2,332 -8,339 8,339
Tecnisa TCSA3 2,267 -9,661 9,661
Camargo Corrêa CCIM3 2,253 -9,414 9,414
Brascan BISA3 2,154 -7,34 7,34
Helbor HBOR3 2,072 -7,976 7,976
Company CPNY3 2,008 -7,064 7,064
Lopes LPSB3 1,922 -7,854 7,854
Rodobens RDNI3 1,827 -7,871 7,871
Grau de risco do Ibovespa: 1     
Fonte: Cyrnel International    

Os papéis sofrem com muitas variáveis, tanto macroeconômicas, quanto particulares do setor. Hoje, o cenário ainda é positivo, com procura crescente por imóveis e financiamentos abundantes. O aumento da inflação, no entanto, já preocupa o mercado, que teme uma desaceleração na demanda e um aumento nos custos de produção. Como conseqüência, as empresas veriam suas margens de lucro caírem e, o investidor, seus ganhos minguarem.  

Em suas projeções, os analistas trazem a valor presente o fluxo de caixa futuro das empresas - o chamado valuation. Esse cálculo inclui premissas que se fundamentam no cenário macroeconômico. Por isso, uma deterioração desse cenário pode alterar drasticamente as estimativas para as ações. "Como o setor de construção está em fase de crescimento, ele se torna ainda mais sensível às mudanças. De certa forma, as projeções de valorização dos papéis chegam a ser irreais", explica o analista da corretora Fator, Eduardo Silveira.

Grande parte das construtoras lançou suas ações na Bolsa no ano passado, quando o mercado vivia um período de euforia e grande otimismo em relação ao futuro da economia. Muitas delas, na visão de Fausto Gouveia, analista da corretora Alpes, tiveram seus papéis sobrevalorizados e, agora, sofrem com o ajuste. A temporada de balanços que começa neste mês deve colocar as companhias a prova. "Está na hora delas entregarem o que prometeram. Haverá uma seleção natural neste ano, que mostrará quem terá fôlego para continuar no mercado", diz Silveira.

Há, no entanto, um fator que tem forte influência sobre as ações, mas não está diretamente ligado ao desempenho das empresas: a participação dos estrangeiros. Cerca de 75% das ações negociadas nas ofertas públicas foram compradas por investidores de outros países. Num momento de instabilidade - como o vivenciado atualmente com a crise nos Estados Unidos - a tendência é de os investidores se desfazerem de ativos em mercados como o Brasil. Dada a baixa liquidez do setor de construção, o resultado é a grande desvalorização dos papéis e a dificuldade de recuperação no curto prazo.

Risco X retorno

Diante de tantas variáveis, os analistas não titubeiam ao ressaltar que existem outros setores mais atraentes que o de construção para investir, como por exemplo, o de energia.  "Não sabemos até quando vai essa instabilidade nas bolsas. Então, não é um bom momento para aplicar nas ações de construção", diz Silveira.

A esperada consolidação do setor, de acordo com os analistas, ainda deve demorar um tempo para chegar à Bolsa. A compra da Agra pela Cyrela em junho, que num primeiro momento foi vista como o pontapé inicial no processo de fusões e aquisições no setor, agora é considerada uma exceção. "A Cyrela já tinha participação na Agra, o que facilitou a operação e a tornou muito mais barata", explica Silveira.

Os especialistas acreditam que as empresas devem começar comprando companhias pequenas, de capital fechado, para somente então abordar suas concorrentes de pregão. "Há boatos no mercado sobre a fusão da Company com a Helbor, mas por enquanto, não passam disso", afirma o analista da corretora Link, Leonardo Caravarge. Portanto, comprar as ações apostando num ganho em caso de venda da companhia pode não ser a melhor estratégia.

As projeções das corretoras

Empresa Ação
Variação
no mês (%)
Variação
no ano (%)
Cotação
em 15/07/08 (R$)
Preço-alvo
Ágora (R$)
Preço-alvo
Brascan (R$)
Preço-alvo
Fator (R$)
Preço-alvo
HSBC (R$)
Preço-alvo
Itaú (R$)
Preço-alvo
Santander (R$)
Preço-alvo
Unibanco (R$)
Potencial máximo
de alta (%)
-11,60 -45,29 11,80                
-4,10 -28,21 8,40             18,00 114,29
-9,10 -27,32 7,81         15,50     98,46
-0,90 -10,78 10,65                
-12,30 -31,63 7,85     15,67   22,63     188,28
-4,30 -35,57 11,34     21,21         87,04
-13,20 -48,30 7,60             23,00 202,63
-7,40 -15,14 20,50     34,38 29,00 38,70 34,00 32,00 88,78
-15,10 -53,32 7,85         24,10     207,01
-9,60 -51,17 4,25                
-12,80 -26,87 24,12     36,55 44,00       82,42
-16,50 -31,86 7,80                
-19,00 -66,75 6,40     34,59         440,47
-5,50 34,65 7,58                
-10,90 -33,25 8,87 18,33   19,75   24,00     170,57
-12,60 -16,88 28,40 42,39              
-7,30 -13,32 32,90   52,00           58,05
-10,00 -17,16 20,60   42,00 29,16       33,00 103,88
6,10 -0,60 21,00 Em revisão   36,84         75,43
0,80 -46,23 12,10     31,33       25,00 158,93
-5,80 -32,87 7,53     15,95   15,10     111,82
-2,70 6,34 10,90   21,00     25,40     133,03
-10,60 -36,93 6,75                
Abyara ABYA3
Agra AGIN3
Brascan BISA3
CCP CCPR3
Camargo Corrêa CCIM3
Company CPNY3
CR2 CRDE3
Cyrela CYRE3
Even EVEN3
Eztec EZTC3
Gafisa GFSA3
Helbor HBOR3
Inpar INPR3
JHSF JHSF3
Klabin Segall KSSA3
Lopes LPSB3
MRV MRVE3
PDG Realty PDGR3
Rodobens RDNI3
Rossi Residencial RSID3
Tecnisa TCSA3
Tenda TEND3
Trisul TRIS3
 
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