São Paulo - Apelidado há anos de “Helicopter Ben”, por defender em 2002 a famosa frase do economista Milton Friedman no qual ele sugere jogar dólares do helicóptero para lutar contra a deflação, Ben Bernanke parece convencido do efeito que os US$ 600 bilhões de injeção de liquidez
anunciados na semana passada terão na recuperação econômica americana e sobre um possível ambiente deflacionário ao estilo da armadilha na qual o Japão se encontra desde a década de 1990. Agora, tão certo quanto está de que a estratégia irá funcionar, os governos emergentes estão temerosos de que o dinheiro não encontre o seu alvo e escorregue para os mercados emergentes, atraentes com os mercados de capitais pujantes e títulos soberanos com retornos insuperáveis quando comparados aos juros próximos de zero do mundo desenvolvido.
E isso já tem acontecido. Os preços das commodities estão nas alturas e, no Brasil, o dólar caiu ainda mais em relação ao real e o Ibovespa se aproxima do recorde. “Nos EUA, os consumidores não gastam, as empresas não investem e os bancos não emprestam. Todos endividados, sem emprego e renda. Então, o melhor mesmo é investir em Brasil, China e Índia. Por aqui, a pressão no câmbio será mais violenta ainda, nossos ativos de risco (ações, imóveis, títulos) vão subir com força”, explica Paulo Gala, economista da Empiricus Independent Research. Para o Brasil, os efeitos na economia podem não ser os mais desejados agora pela equipe de política econômica. “Em termos de liquidez, o anúncio é bom, mas para a economia brasileira em particular o ponto é que precisamos segurar um pouco. O crescimento maior atrapalha porque a economia está avançando acima do potencial. E um dos efeitos do afrouxamento é sobre os preços das commodities, o que pode afetar a inflação”, ressalta Felipe Tâmega Fernandes, economista-chefe do Modal Asset.