Inteligência Artificial

Robôs treinados contra corrupção: como a IA pode combater crimes

Relatório aponta que órgãos de fiscalização espalhados pelo mundo utilizam cada vez mais a IA para detectar e investigar violações

O uso da IA ​​introduz novos riscos, incluindo o potencial para viés algorítmico, falta de transparência na tomada de decisões e vulnerabilidades à manipulação ou uso indevido (PhonlamaiPhoto/Thinkstock)

O uso da IA ​​introduz novos riscos, incluindo o potencial para viés algorítmico, falta de transparência na tomada de decisões e vulnerabilidades à manipulação ou uso indevido (PhonlamaiPhoto/Thinkstock)

Luiz Anversa
Luiz Anversa

Repórter

Publicado em 9 de dezembro de 2025 às 11h34.

Última atualização em 9 de dezembro de 2025 às 11h44.

O dia 9 de dezembro é marcado pelo Dia Internacional Anticorrupção. Esse é um assunto que o Brasil tem bastante conhecimento, infelizmente. Segundo dados do Índice de Percepção da Corrupção, da Transparência Internacional, divulgados no ano passado, nosso país teve 34 pontos e ficou na 107ª posição entre 180 nações pesquisadas. Foi a pior nota e pior colocação do país na série histórica do índice, iniciada em 2012.

Além do setor público, a prática de condutas irregulares também atinge o segmento empresarial - na maioria das vezes para impulsionar negócios.

Operações policiais recentes mostram que os esforços para combater a corrupção seguem, apesar das dificuldades das autoridades em mapear o real tamanho das atividades criminosas.

"No caso do Brasil, embora os últimos anos possam ter sido desafiadores, é notório este ano o aumento de operações policiais, como é o caso das Operações Carbono Oculto e Rejeito. Ainda que nem sempre as operações sejam focadas puramente em casos de corrupção, o tamanho e o desenvolvimento de tais operações de certa forma indica uma retomada nestas iniciativas. Essas operações trouxeram um alerta a respeito da preocupação de quanto as organizações criminosas estão permeando atividades lícitas, o que leva as empresas a não só se preocuparem com o combate à corrupção, mas também ampliarem seu leque ao instituir controles interno para prevenir a lavagem de dinheiro", diz Camila Pepe, do escritório Stocche Forbes.

IA transformando a dinâmica

O relatório do Business Integrity Forum do Reino Unido traz a IA como um possível fator de transformação para essa dinâmica, destacando que reguladores e órgãos de fiscalização espalhados pelo mundo utilizam cada vez mais a IA para detectar e investigar violações de compliance, o que faz com que as empresas precisem não apenas adotar essas tecnologias, mas também entender como usá-las de forma eficaz para se protegerem contra riscos legais e danos à reputação.
Segundo o relatório, a IA tem implicações importantes para a gestão de riscos anticorrupção. Por um lado, a IA aprimora a capacidade de organizações e governos de detectar, prevenir e responder a práticas corruptas com mais eficácia.
Por meio de análises de dados avançadas, aprendizado de máquina e reconhecimento de padrões, a IA pode identificar anomalias, sinalizar transações suspeitas e descobrir redes ocultas que auditorias tradicionais ou sistemas de conformidade podem não detectar. O processamento de linguagem natural também pode ser usado para monitorar comunicações ou analisar grandes volumes de documentos em busca de indícios de irregularidades.
Por outro lado, o uso da IA ​​introduz novos riscos. Estes incluem o potencial para viés algorítmico, falta de transparência na tomada de decisões e vulnerabilidades à manipulação ou uso indevido. Criminosos também podem explorar sistemas de IA para encobrir atividades ilícitas ou gerar desinformação. Além disso, a dependência excessiva da IA ​​sem supervisão humana pode comprometer a responsabilização e o julgamento ético.

Corrupção pesa para investidores

De acordo com o estudo "Corporate investment in corrupt environments: the case of the BRICS countries", o caso brasileiro ocupa uma posição intermediária dentro de agrupamentos como os BRICS, tendo em vista que, embora o país tenha marcos de integridade e mecanismos legais mais sólidos em comparação a alguns membros do bloco, a percepção internacional sobre riscos de corrupção ainda pesa nas decisões de investidores estrangeiros.

A pesquisa aponta que, quando esses riscos não podem ser mitigados por instrumentos formais de governança, algumas empresas optam por estratégias paralelas que reforçam a própria fragilidade do sistema. Um ponto destacado pelo estudo é que, em ambientes de corrupção sistêmica, empresas que dependem desses atalhos criam um círculo vicioso: quanto mais utilizam o suborno como ferramenta de viabilização de negócios, mais contribuem para manter as instituições fracas e, consequentemente, mais dependentes dessa prática elas se tornam.

Em outro estudo publicado neste ano, no Journal of Corporate Finance, especialistas analisaram leis anticorrupção em 60 países, incluindo o Brasil. Segundo os autores do documento, após a implementação dessas regras, as empresas brasileiras — assim como as de outros mercados tratados — registraram queda média de 1,3 ponto percentual na taxa de investimento (queda de 26% em relação à média), mas com ganho relevante de eficiência, indicando correção de sobre investimentos antes impulsionados por relações políticas, subsídios e contratos públicos. O efeito é ainda mais forte para companhias com negócios com o governo, cuja queda no investimento é o dobro da observada entre empresas sem contratos públicos.

"Os últimos anos certamente foram desafiadores em relação ao combate a corrupção no país, especialmente em função das decisões que anularam uma série de condenações no âmbito da operação Lava Jato, assim como a renegociação de termos de acordos de leniência. Em âmbito internacional, Trump no início do seu governo, suspendeu por 180 dias o FCPA, que é a legislação de combate a corrupção em território estrangeiro. Após essa interrupção, o Departamento de Justiça americano emitiu um memorando com novas diretrizes com prioridades das autoridades americanas que incluem temas que podem num futuro próximo ter impacto no Brasil, como o foco em organizações criminosas transnacionais e investigações que garantam oportunidades justas para empresas americanas fora de seu território", explica Camila Pepe.

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