Novo modelo de IA da OpenAI: revolução ou ilusão?
Lançamento do o1 gera dúvidas sobre inovação real e levanta questionamentos sobre transparência e preços elevados
Chief Artificial Intelligence Officer da Exame
Publicado em 19 de setembro de 2024 às 17h00.
Última atualização em 19 de setembro de 2024 às 22h52.
A OpenAI acaba de lançar o seu mais novo modelo de inteligência artificial, o o1, prometendo uma revolução no raciocínio das máquinas.Mas será que é realmente uma revolução ou apenas uma evolução incremental com uma nova embalagem?
O conceito central desse novo modelo gira em torno de uma técnica chamada "cadeia de pensamentos". O que seria isso? Basicamente, é o processo que todos nós utilizamos para resolver problemas, como, por exemplo, uma equação matemática. Passo a passo, desenvolvemos o raciocínio até chegar à resposta. A OpenAI afirma que o o1 realiza esse tipo de raciocínio de forma mais avançada.
A questão, no entanto, é que essa abordagemnão é exatamente uma novidade. Outros modelos, como o Claude, assim como versões anteriores do próprio ChatGPT, já demonstravam raciocínios estruturados dessa maneira.
O mistério da "caixa preta"
Uma controvérsia importante em torno do o1 envolve a transparência do processo de raciocínio.A OpenAI decidiu não permitir que os usuários vejam como o o1 "pensa", mantendo o modelo como uma espécie de "caixa preta". Um exemplo recente chamou atenção: um usuário curioso tentou investigar diretamente a cadeia de pensamentos do o1 e recebeu um e-mail da OpenAI ameaçando revogar o acesso ao modelo se ele continuasse com a prática.
A justificativa oficial? A OpenAI alega que, após considerar "múltiplos fatores, incluindo a experiência do usuário e a vantagem competitiva", decidiu não mostrar as "cadeias de pensamento brutas". Em vez disso, o sistema gera um resumo para o usuário. Essa decisão levanta questões éticas e práticas, especialmente em um momento em que se fala tanto sobre a necessidade de transparência nas tecnologias de machine learning.
Preço alto e exclusividade
Outro ponto de atenção é o custo elevado do o1. A nova tecnologia chega com um preço significativamente mais alto que seus antecessores, o quepode limitar o acesso a pesquisadores e usuáriosque desejam estudar a fundo o funcionamento do modelo. A combinação de preço salgado e falta de transparência cria uma barreira para a comunidade científica, que depende de mais acesso para compreender e desenvolver as capacidades dessas tecnologias.
O que está realmente mudando?
Além da questão técnica, há também uma curiosidade: a mudança de nome dos modelos. O o1 substitui os famosos GPT-3 e GPT-4, e provavelmente, veremos o2, o2.5 e assim por diante. Apesar da mudança de nomenclatura, não fica claro se essa estratégia representa uma verdadeira inovação ou apenas uma renovação de imagem, como uma tentativa de gerar uma percepção de avanço.
Enquanto o o1 pode ser, de fato, um passo à frente, é necessário olhar com ceticismo para a ideia de que estamos diante de uma nova revolução tecnológica. A comparação com o iPhone, cujo impacto inicial foi gigantesco, mas cujos lançamentos anuais se tornaram incrementais, faz sentido. O GPT foi revolucionário, mas, agora, cada novo lançamento vem cercado de expectativas altíssimas que nem sempre são cumpridas.
A polêmica envolvendo o acesso à cadeia de pensamentos do o1 e as ameaças da OpenAI a usuários curiosos só reforçam a necessidade de um olhar crítico sobre as promessas da indústria de IA. Quando uma empresa se recusa a ser transparente sobre o funcionamento interno de sua tecnologia, é razoável perguntar se estamos realmente avançando na direção certa.
No fim, a verdadeira inovação pode não estar nesses modelos chamativos e caros. Ela pode surgir das melhorias incrementais ou do uso criativo das ferramentas que já possuímos. No mundo da IA, nem tudo que reluz é ouro. E às vezes, as verdadeiras inovações estão nas tecnologias que já usamos diariamente, sem tanto alarde.