Inteligência Artificial

No Brasil, a Databricks mira os grandes clientes enquanto caminha para IPO nos EUA

A empresa de inteligência artificial, que vale US$ 43 bilhões, abriu escritório em São Paulo no ano passado e formou um portfólio robusto com nomes como iFood, PicPay e Quinto Andar. Com possível IPO no radar, o vice-presidente Marcos Grilanda vê o Brasil como vital para a expansão do negócio

Marcos Grilanda: vice-presidente e general manager da Databricks

Marcos Grilanda: vice-presidente e general manager da Databricks

André Lopes
André Lopes

Repórter

Publicado em 25 de março de 2024 às 16h12.

Última atualização em 27 de março de 2024 às 15h44.

Em 2023, a americana Databricks surfou a onda da inteligência artificial (IA) como poucas empresas. Fornecedora dos sistemas e dados que possibilitam que uma IA funcione ao nível de desempenho do famosos ChatGPT, a empresa, que viu a demanda crescer vertiginosamente, decidiu adotar práticas típicas de quem está listada na bolsa: divulgar voluntariamente seu desempenho financeiro.

A postura, segundo Ali Ghodsi, cofundador e CEO da companhia, é um sinal de que a Databricks está pronta para uma oferta pública inicial (IPO) em termos de operações, auditorias, estrutura financeira, CFO e conselho administrativo, aguardando apenas o momento adequado para agir.

Com 11 anos de mercado, a empresa atingiu receita superior a US$ 1,6 bilhão no último ano fiscal, encerrado em 31 de janeiro, marcando um aumento de mais de 50% em relação ao ano anterior. Atualmente, é a quarta maior empresa privada dos Estados Unidos com financiamento de capital de risco, segundo a PitchBook, e já havia reportado em agosto de 2022 receitas anualizadas superando US$ 1 bilhão.

Com sede em São Francisco, foi avaliada em US$ 43 bilhões em setembro do ano passado após arrecadar mais de US$ 500 milhões em uma rodada de financiamento. No Brasil, a empresa também vai bem e tem criado uma estrutura corporativa mais presente e atuante. Em 2023, abriu um escritório para atendimento comercial na Faria Lima, no coração financeiro de São Paulo, e junto disso, trouxe o ex-Oracle e AWS Marcos Grilanda como vice-presidente regional.

No escopo do executivo, expandir a adoção da Plataforma de Inteligência de Dados da Databricks entre as empresas brasileiras. Segundo Grilanda, a plataforma da Databricks suporta todas as cargas de trabalho de dados e IA para empresas, incluindo análise de streaming em tempo real, business intelligence, machine learning e inteligência artificial generativa.

Entre os componentes dessa ferramenta, o Databricks SQL, que permite às empresas armazenar e coletar seus dados na plataforma de gestão "lakehouse" da Databricks, agora representa mais de 10% dos negócios da empresa, com uma receita anual recorrente de US$ 250 milhões.

É a partir deste produto que a Databricks gera seu principal ativo, alugando softwares de análise, inteligência artificial e outras soluções que criam sistemas tecnológicos empresariais.

"Ao chegar na Databricks em 2024, fiquei surpreso ao ver que a necessidade de convencer as empresas sobre a importância dos dados e da inteligência artificial já não era mais um desafio. O foco havia mudado completamente para o 'como' — como as empresas podem aproveitar ao máximo o potencial de seus dados para impulsionar a inovação", afirma Grilanda.

Inteligência artificial é o norte

Analistas apontam que empresas que oferecem infraestrutura de IA, como centros de dados e chips especializados, estão em rápida expansão e bem posicionadas para uma nova onda de IPOs. Sendo assim, a Databricks estaria no lugar certo na hora certa.

Mas, com a possibilidade da janela para IPOs se fechar antes das eleições americanas de 2024, a Databricks, com sua sólida posição financeira, não demonstra pressa, continuando a investir em jovens empresas e expandindo seu portfólio de produtos de IA generativa, seguindo uma estratégia de gastos cuidadosa de seu capital.

Em junho do ano passado, fechou um acordo de US$ 1,3 bilhão com a startup de IA generativa MosaicML, que ajuda empresas a construir seus próprios modelos de linguagem de baixo custo com dados proprietários.

Com a promessa de garantir eficiência operacional e economia, a empresa conta com grandes clientes brasileiros para ganhar tração, empresas como iFood, PicPay e Quinto Andar são exemplos notáveis, onde a análise de dados e a inteligência artificial não apenas otimizaram operações, mas também criaram novas oportunidades de negócios e receitas.

No caso do iFood, um dos mais recentes negócios a adotar as soluções da Databricks, o app detentor de 80% do mercado de entrega de comida, e que gerencia 65 milhões de transações mensais, aplicou IA para aprimorar seu algoritmo logístico.

"Com a capacidade de realizar até 10 mil simulações, baseadas nos comportamentos de milhões de usuários, o iFood conseguiu reduzir o custo por entrega em 10 centavos", diz Grilanda.

Embora possa parecer um valor nominal pequeno, quando multiplicado pelo volume massivo de transações, o impacto financeiro para os clientes justifica a proporção que está tomando os negócios da Databricks.

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