Romance com pessoas reais: no Japão, prática é vista como cara e que pode trazer mais problemas do que alegria
Repórter colaborador
Publicado em 15 de julho de 2024 às 09h44.
Última atualização em 15 de julho de 2024 às 13h49.
No Japão, um tipo de relacionamento começa a chamar a atenção: o namoro com um bot de inteligência artificial.
Segundo reportagem da Bloomberg, o aplicativo Loverse, lançado há um ano, já tem 5 mil usuários no país. Dados do governo mostram que dois terços dos homens na casa dos 20 anos não têm parceiro ou parceiras e 40% nunca foram a um encontro. Os números para as mulheres na mesma faixa etária são 51% e 25%, respectivamente.
O Loverse é a mais recente de uma longa linha de soluções digitais para a crise de solidão do Japão. Algumas são empáticas e de apoio, mas outras exploram a vulnerabilidade. Muitos dos jogos mais lucrativos do país apresentam personagens sexualizados que os jogadores podem acessar ao progredir — e pagar — no jogo.
Assim como a IA chamada Samantha no filme "Ela", de 2013, esses bots servem para preencher a lacuna na vida emocional das pessoas. Não à toa, a startup criadora da Loverse é inspirada na personagem dublada pela atriz Scarlett Johansson, a Samantha Co.
O criador da plataforma, Goki Kusunoki, disse à Bloomberg que o aplicativo é destinado a oferecer uma alternativa em vez de um substituto para a companhia real aos seus usuários, muitos dos quais são homens na faixa dos 40 e 50 anos. Sua empresa levantou 30 milhões de ienes (R$ 1,03 milhão) no início deste ano para expandir o "elenco" de personagens para atrair clientes femininas e LGBTQ.
Há uma crença amplamente difundida entre os japoneses de que um romance tradicional requer dinheiro, tempo e energia para resultados que podem trazer mais problemas do que alegria, segundo especialistas. A IA representa o risco de enfraquecer o interesse das pessoas em parceiros reais, mas também pode ser útil como exercício de treinamento para um relacionamento futuro, segundo a reportagem.
Adotar IA para auxiliar na vida cotidiana é o tema predominante deste ano, já que a Microsoft transformou seu chatbot Copilot em um recurso central do Windows, a Apple está trabalhando em iPhones com IA, e o bot de IA Replika da startup Luka com sede em San Francisco, atraiu dezenas de milhões de usuários. No Japão, o Governo Metropolitano de Tóquio está introduzindo um aplicativo de namoro (com pessoas reais) que usa IA para ajudar a unir pessoas e combater as taxas de fertilidade em queda do país.