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Corrupção vira obra de arte na Tailândia

O projeto é organizado pelo grupo Anticorrupção da Tailândia (ACT) e tem como objetivo mostrar para a população os males da corrupção

Arte: projeto utiliza a corrupção para fazer arte como forma de conscientização (EFE)
DR

Da Redação

Publicado em 11 de outubro de 2015 às 10h32.

Bangcoc -- A corrupção na Tailândia é tão variada e abundante que é possível até montar um museu como o que terá em Bangcoc, no qual vários artistas transformam em obras de arte alguns dos escândalos mais famosos da história recente do país.

A Anticorrupção da Tailândia (ACT) é a organização que está por trás deste projeto que foi apresentado em setembro coincidindo com um dia contra a corrupção organizado pela junta militar que governa o país há um ano e meio.

Trata-se de uma mostra com vocação pedagógica dirigida sobretudo aos mais jovens, segundo explicou Mana Nimitmongkol, o secretário-geral da ACT, que agrupa várias organizações empresariais e educativas.

"Os tailandeses esquecem com muita facilidade, o que faz com que os corruptos sejam mais atrevidos. Queremos que a corrupção seja escrita na história da Tailândia para que o público saiba e lembre os danos que (os corruptos) causaram ao país", disse Mana à Agência Efe.

A exposição , que está agora no Centro de Arte e Cultura de Bangcoc e que no final de ano se instalará de forma definitiva na sede da Comissão Nacional Anticorrupção, consta de dez esculturas que representam diferentes casos de enriquecimento ilícito.

Uma figura de um policial engolindo colunas de concreto armado alude ao contrato milionário que o governo assinou em 2012 com uma empresa para que construísse as delegacias do país, mas que até o momento não levantou um só muro.

Outra denuncia como os ricos e bem conectados evitam assumir responsabilidades embarreirando seus casos nos tribunais, mostrando uma rica mulher de pé em cima de uma tartaruga cuja cabeça encara uma montanha de papéis.

A escultura faz referência a um caso de suborno que abalou há seis anos o festival de cinema de Bangcoc, que envolveu norte-americanos que, ao contrário de uma alta funcionária tailandesa, acabaram atrás das grades nos Estados Unidos, tal como mostra um quadro no fundo do conjunto.

Dentre "o número em massa de casos" que houve no país, os organizadores fizeram uma seleção "representativa" de sua variedade e seus autores: de policiais a funcionários, passando por cidadãos comuns que utilizaram o Estado em seu benefício.

Em nenhum dos escândalos se identifica os responsáveis, o que o porta-voz justifica pelo fato de que todos eles seguem sob poder da Justiça, e quase todos eles ocorreram nos últimos 15 anos.

Trata-se do período que coincide com o da hegemonia eleitoral do movimento político do ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, confrontado com "establishment" da capital e a quem o exército tirou do poder em dois golpes de estado.

O fato de na exposição não constar nenhum escândalo que envolva militares é devido, por outro lado, a uma mera questão de espaço, segundo assegurou o porta-voz da ACT, que descarta uma interferência dos atuais gestores do país.

E isso apesar de antecedentes como o do marechal Sarit Thanarat, o ditador que, após sua morte em 1963, teve reveladas contas secretas com mais de US$ 140 milhões, que são disputadas por um filho, uma esposa e uma centena de amantes para regozijo da imprensa local.

"A corrupção ocorre a cada dia e destrói nosso futuro. Não queremos falar ao povo do passado, mas do presente", comentou o dirigente da ACT.

Também não são mencionados os militares que admitiram fortunas fabulosas e injustificáveis com seus salários na declaração patrimonial que, de má vontade, tiveram que fazer ao tomar posse há um ano no parlamento eleito a dedo pela junta.

A luta contra a corrupção foi um dos argumentos que o exército usou para justificar o golpe de Estado, após o qual fez aprovar uma constituição provisória que dá poder absoluto e imunidade aos militares.

"O poder absoluto corrompe absolutamente", admitiu Mana, que, apesar de aprovar a ação do governo dos militares, reconhece que "algum dia, quando já não estiverem no poder, todas as coisas que possam ter cometido serão reveladas e expostas no museu".

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Bangcoc -- A corrupção na Tailândia é tão variada e abundante que é possível até montar um museu como o que terá em Bangcoc, no qual vários artistas transformam em obras de arte alguns dos escândalos mais famosos da história recente do país.

A Anticorrupção da Tailândia (ACT) é a organização que está por trás deste projeto que foi apresentado em setembro coincidindo com um dia contra a corrupção organizado pela junta militar que governa o país há um ano e meio.

Trata-se de uma mostra com vocação pedagógica dirigida sobretudo aos mais jovens, segundo explicou Mana Nimitmongkol, o secretário-geral da ACT, que agrupa várias organizações empresariais e educativas.

"Os tailandeses esquecem com muita facilidade, o que faz com que os corruptos sejam mais atrevidos. Queremos que a corrupção seja escrita na história da Tailândia para que o público saiba e lembre os danos que (os corruptos) causaram ao país", disse Mana à Agência Efe.

A exposição , que está agora no Centro de Arte e Cultura de Bangcoc e que no final de ano se instalará de forma definitiva na sede da Comissão Nacional Anticorrupção, consta de dez esculturas que representam diferentes casos de enriquecimento ilícito.

Uma figura de um policial engolindo colunas de concreto armado alude ao contrato milionário que o governo assinou em 2012 com uma empresa para que construísse as delegacias do país, mas que até o momento não levantou um só muro.

Outra denuncia como os ricos e bem conectados evitam assumir responsabilidades embarreirando seus casos nos tribunais, mostrando uma rica mulher de pé em cima de uma tartaruga cuja cabeça encara uma montanha de papéis.

A escultura faz referência a um caso de suborno que abalou há seis anos o festival de cinema de Bangcoc, que envolveu norte-americanos que, ao contrário de uma alta funcionária tailandesa, acabaram atrás das grades nos Estados Unidos, tal como mostra um quadro no fundo do conjunto.

Dentre "o número em massa de casos" que houve no país, os organizadores fizeram uma seleção "representativa" de sua variedade e seus autores: de policiais a funcionários, passando por cidadãos comuns que utilizaram o Estado em seu benefício.

Em nenhum dos escândalos se identifica os responsáveis, o que o porta-voz justifica pelo fato de que todos eles seguem sob poder da Justiça, e quase todos eles ocorreram nos últimos 15 anos.

Trata-se do período que coincide com o da hegemonia eleitoral do movimento político do ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, confrontado com "establishment" da capital e a quem o exército tirou do poder em dois golpes de estado.

O fato de na exposição não constar nenhum escândalo que envolva militares é devido, por outro lado, a uma mera questão de espaço, segundo assegurou o porta-voz da ACT, que descarta uma interferência dos atuais gestores do país.

E isso apesar de antecedentes como o do marechal Sarit Thanarat, o ditador que, após sua morte em 1963, teve reveladas contas secretas com mais de US$ 140 milhões, que são disputadas por um filho, uma esposa e uma centena de amantes para regozijo da imprensa local.

"A corrupção ocorre a cada dia e destrói nosso futuro. Não queremos falar ao povo do passado, mas do presente", comentou o dirigente da ACT.

Também não são mencionados os militares que admitiram fortunas fabulosas e injustificáveis com seus salários na declaração patrimonial que, de má vontade, tiveram que fazer ao tomar posse há um ano no parlamento eleito a dedo pela junta.

A luta contra a corrupção foi um dos argumentos que o exército usou para justificar o golpe de Estado, após o qual fez aprovar uma constituição provisória que dá poder absoluto e imunidade aos militares.

"O poder absoluto corrompe absolutamente", admitiu Mana, que, apesar de aprovar a ação do governo dos militares, reconhece que "algum dia, quando já não estiverem no poder, todas as coisas que possam ter cometido serão reveladas e expostas no museu".

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