Monica Long é a presidente da Ripple (Ripple/Divulgação/Divulgação)
Repórter do Future of Money
Publicado em 17 de abril de 2024 às 09h30.
O Brasil se tornou um "garoto-propaganda" quando o assunto é a regulação do mercado de criptomoedas, com uma postura mais benéfica para o setor e para a economia do país que a dos Estados Unidos. É o que avalia Monica Long, presidente da Ripple, em entrevista à EXAME durante o Web Summit Rio 2024.
Long destacou uma postura "progressista" do Banco Central e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) na comparação com reguladores de outros países "em termos de entender o potencial da tecnologia e abraçar isso". Um símbolo dessa postura é o Drex, projeto brasileiro de criação de uma moeda digital de banco central (CBDC) que é "um dos mais avançados do mundo e que pode ter um impacto mais amplo que outras CBDCs".
Apesar do Brasil já ter um ambiente financeiro altamente digitalizado com o Pix e o Open Finance, a presidente da Ripple acredita que a indústria cripto tem uma "oportunidade imediata maior de crescimento no Brasil que em outros países". Um dos principais motivos para isso é exatamente a criação de uma regulação clara para o setor.
"Ajuda muito quando o governo reconhece os criptoativos como uma classe legítima de ativos, resultando em um engajamento com as empresas do setor e criando uma regulação prática e razoável. É muito importante e cria uma onda para a indústria surfar", afirma.
Long pontua que "a regulação é o que está limitado a adoção de Web3 ao redor do mundo, mas estou otimista. Tenho visto jurisdições se movendo de forma mais favorável, muitos exemplos de avanço, e isso desbloqueia os desenvolvedores, a adoção institucional, acelera a inovação e traz segurança".
Nesse sentido, a executiva já vê outros dois elementos essenciais para o crescimento do mercado cripto no Brasil: uma grande adesão de instituições financeiras, desde as tradicionais até as fintechs, que estão "muito mais avançadas que outros países em termos de entender o segmento", e a expansão de uma "comunidade de desenvolvedores".
"Nós vemos que a inovação e a adoção de Web3 no Brasil está muito avançada que em outros mercado, e isso reflete a cultura do Brasil, de early adopters de novas tecnologias, como o Pix. Há uma cultura do governo se interessar por novas tecnologias, com parcerias entre público e privado", destaca.
Mas, se o Brasil é um exemplo positivo no tema de regulação e adoção, Long afirma que os Estados Unidos se tornaram um "garoto-propaganda de como dificultar a inovação, já que não estão proativamente desenvolvendo regras e regulações para ajudar nessa área".
A presidente da Ripple avalia que a vitória da empresa em um processo aberto pela SEC sobre a classificação do XRP como valor mobiliário "deu mais clareza ao setor e mostrou que praticamente todas as atividades que fazemos com o XRP não se enquadram na classificação de valores mobiliários".
"A estratégia da SEC de aplicação da lei pela força bruta não deixa as coisas claras, não ajuda ninguém. É algo caro e ineficiente para chegar em qualquer resultado. E os Estados Unidos já estão perdendo investimentos, talentos e empresas de cripto para outros países, incluindo os da América Latina", destaca.
Ainda falando sobre o Pix, Long acredita que a contribuição da tecnologia blockchain para o sistema financeiro do Brasil está exatamente na capacidade de "conectar internacionalmente todos os sistemas de pagamento em tempo real". "Isso seria um milagre, e para dar certo é preciso ter uma clareza regulatória. Esse tema é um dos focos da Ripple e queremos atuar como uma camada de conexão para concretizar isso".
Outro foco da empresa no momento é o próprio XRP, a criptomoeda criada pela Ripple. Long explica que a companhia está se dedicando para criar novos casos de uso para o ativo, em especial sobre "como as instituições podem usar blockchain para caso de uso do mercado financeiro, incluindo em crédito e no mercado de capitais".
Os próximos passos deverão envolver a integração do XRP Ledger, a rede da criptomoeda, com corretoras centralizadas e a possibilidade de criação de stablecoins na rede por diferentes emissores. A meta é dar à rede, e à sua criptomoeda, um "papel centro no futuro dos pagamentos".
Ainda em 2024, a Ripple deverá lançar sua stablecoin própria pareada ao dólar. Long explica que o projeto surgiu da necessidade da própria empresa em usar stablecoins nos seus produtos, e agora há uma "oportunidade de combinar diferentes stablecoins. O mercado de stablecoins poderá valer US$ 3 trilhões em alguns anos, é um crescimento potencial grande, com espaço para muitos integrantes e ganhadores. Queremos ser um deles".
Uma das prioridades para a nova stablecoin deverá ser a adoção no mercado da América Latina, região em que as stablecoins estão entre os criptoativos mais populares entre investidores. "As stablecoins são incríveis, é uma forma eficiente de pagamento e, no fim, uma forma alternativa de ter uma conta bancária", duz a executiva.
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