Plataforma de DeFi entra em colapso e levanta dúvidas sobre lastro da criptomoeda Tether
Criadora da USDT, a maior criptomoeda de valor estável do mundo, Tether é uma das empresas que investe na Celsius, plataforma de empréstimos que entrou em colapso
Mariana Maria Silva
Publicado em 13 de junho de 2022 às 17h46.
Última atualização em 13 de junho de 2022 às 18h26.
O mercado de criptomoedas enfrenta um mau momento desde o início de 2022, mas que vem se intensificando nos últimos meses. Depois do colapso da rede Terra e da criptomoeda LUNA, uma outra plataforma dá sinais de crise de liquidez.
A Celsius é uma plataforma de empréstimos em blockchain que funciona de uma forma um pouco diferente: ao invés de promover os empréstimos dentro de sua própria plataforma, ela faz a gestão das criptomoedas de investidores em plataformas DeFi como a Compound, entre outras. No entanto, o projeto não se demonstrou sólido nos últimos dias, e agora ameaça ruir.
Sofrendo com a alta volatilidade do mercado cripto, o token CEL despencou mais de 60%, de US$ 0,41 para US$ 0,15, de acordo com dados do CoinMarketCap. Despertando o pânico de investidores que já estão calejados com a queda da LUNA, os saques na plataforma foram bloqueados, como uma tentativa de evitar a insolvência.
A Celsius anunciou nesta segunda uma paralisação dos saques, citando “condições extremas de mercado”. A empresa anunciou que também pausaria seus produtos de troca e transferência, de acordo com uma publicação, sem fornecer um cronograma para retomar as retiradas.
“Estamos trabalhando com um foco singular: proteger e preservar os ativos para cumprir nossas obrigações com os clientes. Nosso objetivo final é estabilizar a liquidez e restaurar saques, troca e transferências entre contas o mais rápido possível. Há muito trabalho pela frente, pois consideramos várias opções, esse processo levará tempo e pode haver atrasos”, disse a Celsius.
O fenômeno de insolvência ocorre nos mercados financeiros quando todos os investidores decidem realizar saques ao mesmo tempo. Isso faz com que a plataforma, ou instituição, não consiga honrar com os saques e se torne insolvente, gerando seu próprio colapso.
"O que está acontecendo nos últimos dias é um reflexo do que o mercado viveu no último mês com a Luna. Novamente, temos a paridade entre tokens sendo questionada, no caso do stETH e do ETH e, acima de tudo, uma plataforma de investimentos com a proposta de rentabilizar os criptoativos de seus usuários. A má gestão dos tokens em posse da Celsius, juntamente com o uso de stETH como garantia em plataformas de DeFi possibilitou uma grande alavancagem com o capital dos clientes, que agora estão em risco diante de um cenário em que talvez os empréstimos feitos pela Celsius em plataformas descentralizadas sejam liquidados", explicou o analista de Research do BTG Digital Assets, Lucas Josa.
O stETH é um token que atua como uma espécie de recibo para quem realizar o staking de ETH para a Ethereum 2.0 na Lido Finance. Ou seja, para que uma unidade de stETH seja emitida, é necessário que uma unidade de ETH fique travada dentro do contrato na Lido.
“É possível dizer que a Celsius foi negligente realizando essas alocações. Os seus erros alocando capital em outras plataformas que foram hackeadas ou que colapsaram demonstrou isso de forma muito clara para o mercado, que é e sempre será implacável com esse tipo de mecanismo de alavancagem", acrescentou Josa, em entrevista à EXAME.
Além do medo que já domina o mercado, com o Índice de Medo e Ganância indicando níveis de “medo extremo”, investidores consideram se há um risco ao USDT, principal criptomoeda de valor estável do mundo.
Isso porque a Tether, empresa por trás do USDT, possui parte de seu patrimônio alocado na Celsius, o que poderia causar efeitos negativos em sua paridade com o dólar, que é garantida pela quantidade de dinheiro presente em tais reservas. Ou seja, para cada USDT emitida, um dólar precisa estar nas reservas da Tether, mesmo que não seja exatamente em dólares e sim em outros investimentos. No entanto, a empresa é famosa no universo das criptomoedas por manter um certo mistério a cerca de suas reservas, apesar de ter apresentado uma página de transparência em seu site.
Nesta segunda-feira, 13, a Tether enviou um comunicado de imprensa à EXAME para declarar que o investimento na Celsius era muito pequeno e insignificante diante do tamanho da USDT.
“Os recentes eventos que impactaram a plataforma Celsius e seu token CEL são um resultado infeliz da volatilidade e das condições extremas do mercado”, escreveu a empresa.
“Embora a carteira de investimentos do Tether inclua um investimento na empresa, representando uma parte mínima do patrimônio líquido de nossos acionistas, não há correlação entre este investimento e nossas próprias reservas ou estabilidade. Também a atividade de empréstimo do Tether com a Celsius (como com qualquer outro mutuário) sempre foi supercolateralizada e não tem impacto em nossas reservas”, concluiu o comunicado de imprensa, que convida o leitor a acessar a página oficial da Tether para consultar os dados de transparência da empresa.
Quanto ao momento para os investimentos, o sócio fundador da BLP Crypto, Alexandre Vasarhelyi, recomendou: “Toda vez que tem muita volatilidade, temos que ficar de olho no lado operacional, então é sobrevivência: os protocolos que passam por períodos de volatilidade e continuam funcionando, eles são necessariamente mais robustos do que os outros”.
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