(coffeekai/Getty Images)
Enquanto os predadores, ao estilo das cavernas, caçam o fundo do bitcoin, vamos seguir evoluindo com os aprendizados dessa temporada de tombos no mercado cripto. Esse “filme”, eu só tinha visto uma vez, em 2018, assim como, provavelmente, alguns de vocês que me leem agora, e estudei muito depois para não aprender só na dor, mas também com os livros, as análises e os relatos das experiências de quem assistiu à estreia, o bear market lá de 2014.
A minha trajetória envolvendo as criptomoedas foi salpicada de quedas e assim certamente serão as trajetórias de 51% dos investidores cripto no Brasil, que só entraram no mercado de ativos digitais no ano passado. O dado é de uma pesquisa global realizada recentemente pela exchange Gemini. A boa notícia é que, se essa galera trabalhar com seriedade daqui para a frente, pode ter sucesso em amortecer os choques com air bags de conhecimento e prática.
Não tenho bola de cristal, mas posso dizer com muita assertividade que quem passou a investir em criptoativos apenas em 2021 já iniciou com um problema. Grande parte dessas pessoas foi atraída pela adrenalina dos ralis espetaculares que pudemos presenciar na bull run, realmente hipnotizantes. Só que, passada a euforia, elas estão se dando conta de que o touro, na verdade, era mecânico, aquele que progressivamente se torna impossível de ser dominado e o estabaco é certo.
A primeira grande lição que tiramos de um bear market é que muitos de nós não estamos treinados o suficiente para enfrentar oscilações emocionais bruscas. Ironicamente, nossa natureza resvala no extremismo, ou medo ou euforia. Em menor proporção, são os que ficam confortáveis com o caminho do meio. Inclusive, é por isso que os ciclos existem, porque os investidores em geral reagem aos acontecimentos de forma sentimental, ditando os rumos do mercado. Um exemplo emblemático é o número de vezes que o bitcoin já foi declarado morto desde 2010: 455 vezes. Se isso não é uma prova de que estamos despreparados para lidar com as vulnerabilidades, eu nada sei.
Geralmente, o que embala esses movimentos de desespero ou grande excitação é o que a gente absorve por aí: seja um conselho daquele amigo que ganhou muita grana com as máximas históricas ou um lamento raivoso do seu tio que sapecou dinheiro em uma criptomoeda aleatória uma vez e perdeu tudo. Tem também alguns veículos de notícias que se esqueceram de que tem coisa boa rolando no mundo e é só abrir para o sangue respingar na tela. Saber filtrar o que se lê ou se escuta vai determinar se você terá ou não um futuro de sucesso no mercado cripto, eu posso te garantir.
O tamanho da sua resistência a essas influências externas vai fazer de você uma pessoa “cíclica” ou “anticíclica”, como eu costumo classificar. O cíclico sente da seguinte forma: quando cair, eu não quero perder dinheiro e vendo, e quando subir eu quero ganhar dinheiro e compro. São formas intuitivas de atuar, mas completamente equivocadas. Os motores do cíclico são o medo e a euforia, duas sentenças de morte para investidores.
O anticíclico, por sua vez, já tem conhecimento suficiente para saber que a lógica é contraintuitiva. Em uma tendência de alta, o preço de uma criptomoeda costuma ser maior do que o seu valor e essa dinâmica, naturalmente, tende ao equilíbrio. Para que essa compensação aconteça, a tendência precisa se inverter e, assim, o preço passará a se aproximar do valor. Melhor do que isso para nós investidores é quando o ativo passa da conta e fica subvalorizado, em promoção, a hora perfeita para acumular. Nossa outra lição para o bear market: compre enquanto os outros vendem.
Para acumular, no entanto, é preciso ter recursos guardados. Outro ensinamento que podemos tirar do ciclo de baixa é o de não deixar de aproveitar as fases de alta para rebalancear a carteira e fazer caixa. Assim, você garante que terá capital disponível quando a oportunidade bater à sua porta.
Neste momento, estamos assistindo a um grande ajuste preço-valor. Pode ser doloroso para muitos, mas sem dúvida essencial para manter o mercado saudável. É neste período de intensas desvalorizações que ficamos sabendo quais projetos, de fato, vinham se preparando com antecedência para sobreviver ao inverno. Basta fazer um retrospecto desses poucos mais de dez anos e detectar o número enorme de criptomoedas que não resistiram ao abraço do urso. Nesta estação, não será diferente, muitas das 19 mil criptos que estão por aí vão dar seus últimos suspiros.
Quem permanecer terá o seu mérito e aqueles que, além de sobreviver, ainda crescerem no período terão a minha atenção, e sugiro que a sua. Anote os nomes no seu caderninho e estude cada um deles. Alguns projetos conseguiram se organizar para surfar o ciclo e, mesmo na baixa, seguem capitalizados, com poucas trepidações, no volante de seus roadmaps. São os testes de estresse que tornam evidente quem está com os fundamentos em dia.
Peço uma licença poética para o ensinamento final, já que ele independe de temporadas e, até certo ponto, do seu nível de expertise. Sei que tem muita gente no perrengue neste exato minuto com seus saldos e recursos travados em plataformas que oferecem serviços de criptomoedas. Por isso, a lição do meu adeus é: esteja no controle dos seus ativos. Lembre-se: “Sem suas chaves, sem suas moedas”.
*Felippe Percigo é um investidor especializado na área de criptoativos, professor de MBA em Finanças Digitais e educa diariamente, por meio da sua plataforma e redes sociais, mais de 100.000 pessoas a investirem no universo cripto com segurança.
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