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Nova alta de criptomoedas reforça correlação com ações de tecnologia; entenda

Perspectiva mais otimista para a política monetária dos Estados Unidos ajudou os dois tipos de ativos nos últimos dias

Bitcoin e outras criptomoedas começaram 2023 com recuperação (Namthip Muanthongthae/Getty Images)

Bitcoin e outras criptomoedas começaram 2023 com recuperação (Namthip Muanthongthae/Getty Images)

As criptomoedas começaram 2023 de uma forma bem diferente do comportamento na maior parte de 2022. Marcadas por uma valorização, as primeiras semanas do ano não foram positivas apenas para esses ativos, e acabaram indicando mais uma vez que, pelo menos até o momento, a situação do mercado de ações dos Estados Unidos, em especial na área de tecnologia, segue influenciando o mundo cripto.

O bitcoin, por exemplo, teve uma alta acumulada de mais de 20% nos últimos dias, voltando a um patamar acima de US$ 20 mil pela primeira vez desde que a crise da falência da FTX começou. Outros ativos, como o ether e a Solana, também tiveram recuperações expressivas.

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O próprio índice Nasdaq Composite, que reúne quase todas as ações listadas na bolsa de tecnologia dos Estados Unidos, chegou a subir mais de 2% em um único dia e segue com um desempenho mensal positivo, mostrando como janeiro tem sido favorável para o setor.

À EXAME, especialistas destacam que, por trás desse quadro, estão fatores em comum entre as criptomoedas e as empresas de tecnologia, além da importância do quadro macroeconômico dos Estados Unidos, que trouxe a novidade que gerou essas altas recentes.

Correlação

Para Ayron Ferreira, head de análise da Titanium Asset, há atualmente uma “correlação entre ações de empresas de tecnologia e o mercado de criptomoedas”. Ele atribui essa relação às características do mercado cripto, que é na verdade “majoritariamente de tecnologia, inovação”.

A principal diferença entre as duas áreas, na visão dele, é que o mercado cripto possui mais volatilidade que as empresas de tecnologia, então é natural que encontrar nele valorizações ou perdas que às vezes são o dobro, triplo ou quádruplo do observado no mercado de ações, mas em geral com movimentos semelhantes.

“É o caráter de tecnologia do setor de criptomoedas. As empresas de tecnologia têm capital aberto, ações, equipes estabelecidas. Em cripto, muitas vezes não tem uma empresa estabelecida por trás, daí um caráter inovador, mas também mais volátil, e isso é algo histórico”, explica. Por essas características, os criptoativos ainda são considerados um investimento de risco, se comportando como outros dessa categoria, incluindo o mercado de ações.

Na visão dele, a única forma do setor, em especial o bitcoin, perder essa correlação com as ações de tecnologia seria com um crescimento significativo e adesão maior da população, que permitiria que o segmento “andasse com as próprias pernas”: “Mais países, varejo, empresas adotando, seja como reserva de valor ou como moeda de troca. Hoje só tem US$ 1 trilhão de market cap, então vai ficar assim por um tempo”.

Mesmo assim, ele acredita que o bitcoin e outras criptomoedas possuem os fundamentos necessários para “crescer bastante” em busca desse descolamento, incluindo redes descentralizadas, difíceis de serem alteradas e com uma política monetária clara.

No momento, Ferreira destaca que a correlação mostra a importância do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, para o setor de cripto. Ele atribui a alta recente ao dado de inflação de dezembro no país, que trouxe um recuo e reforçou apostas de que o ciclo atual de alta de juros terminará em 2023 e pode até já ter cortes, o que favorece o segmento.

“As criptomoedas tiveram uma recuperação forte agora no início do ano, e acompanhou o Nasdaq, o S&P. Cripto subiu mais porque estava em níveis bem fortes de sobrevenda, então tinha mais espaço de valorização, até pelas perdas recentes com falências, que estavam precificadas. Agora, voltou para um preço mais justo, é uma chance boa de se posicionar”, observa.

Já Guilherme Novello, analista da WHG, compara o desempenho do setor com ações de empresas de tecnologia menos consolidadas que as chamadas big techs, e que são conhecidas por serem mais voláteis e ainda mais frágeis dependendo do contexto econômico.

Foram essas ações, destaca, que tiveram fortes perdas no primeiro semestre de 2022, quando o mercado começou a rever as expectativas de múltiplos e os preços justos das ações dessas empresas quando o Fed começou a subir juros. Por serem mais endividadas, o cenário é pior para elas. Um relatório recente aponta que o período de maior perda para o setor de cripto também foi no primeiro semestre.

Perspectivas para 2023

Novello diz ainda que, no segundo semestre, as ações de tecnologia foram revisadas novamente pelo mercado, dessa vez mudando as projeções de lucro devido à perspectiva de uma recessão nos Estados Unidos em 2023 com a alta de juros. Dessa vez, foram as big techs — como Google, Amazon, Twitter e Microsoft — que mais sofreram perdas.

Para 2023, ele observa que “a gente teve em 2022 a política monetária como algo que atrapalhou as empresas do ponto de vista de múltiplo e lucro, e agora os dados de inflação estão moderando conforme o esperado, e indica que esse aperto de juros vai se moderando e pode acabar”.

“Isso ajuda do ponto de vista de múltiplo, fica algo mais neutro e pode até ajudar a subir. Mas o nível de juros que está hoje ainda é alto, e isso ainda afeta o lucro das empresas”, destaca. Isso significa que as ações de tecnologia ainda podem ter novas quedas com o quadro econômico ruim, mas o ano tende a ser de lateralidade ou leve recuperação.

Por isso, Novello acredita que o 2023 tende a ser melhor para o setor, mas não com uma grande recuperação enquanto não houver uma clareza sobre o quão positiva a política monetária americana será, como o momento em que os juros começarão a ser cortados.

Ferreira, da Titanium, avalia ainda que algumas ações de tecnologia ainda estão sendo negociadas com múltiplos elevados, o que indica espaço para novas correções de preços. Entretanto, ele é otimista no médio prazo com a perspectiva de corte de juros, o que também tende a beneficiar as criptomoedas e outros ativos considerados de risco que ficam menos atraentes quando os juros sobem e melhoram os rendimentos na renda fixa.

“O segredo é quando os juros serão cortados. Quando isso ocorrer, o investidor tem de ver se vai estar bem posicionado nessa hora, não pode perder o timing. A estratégia mais difícil é acertar esse timing, o momento exato para entrar [nas ações de tecnologia e nas criptomoedas]. Para aumentar essas chances, tem de ir entrando aos poucos, buscar um bom preço médio próximo ao fundo”, recomenda.

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