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Mudanças no Twitter com Elon Musk devem beneficiar criptoativos, dizem analistas

Aumento de descentralização, trocas de NFTs e recompensas com criptomoedas são citadas como possíveis mudanças na rede social

Elon Musk concluiu a compra do Twitter em 27 de outubro, com alguns criptoativos reagindo positivamente (LightRocket/Getty Images)
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João Pedro Malar

Publicado em 3 de novembro de 2022 às 09h00.

Última atualização em 3 de novembro de 2022 às 15h11.

Investidores e entusiastas ligados aos criptoativos ficaram animados na semana passada quando houve o anúncio de que o bilionário Elon Musk concluiu a aquisição do Twitter. Para esse grupo, as mudanças que o empresário promete colocar em prática devem beneficiar o segmento, aumentando sua adesão e casos de uso.

Antes da compra ser concluída, Musk já havia comentado em entrevistas, publicações nas rede sociais e outros canais alguns dos seus planos para a rede social, uma das maiores do mundo. Dentre as possibilidades, estavam medidas como a criação de carteiras digitais ligadas ao site e o uso da criptomoeda dogecoin em transações.

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A animação desse segmento está ligada também à participação que o setor de criptoativos teve nesse processo. A maior corretora de criptomoedas do mundo, a Binance, contribuiu com US$ 500 milhões dos R$ 44 bilhões usados na aquisição.

O CEO da empresa, Chanpeng Zhao, reconheceu que a quantia era mais simbólica, mas que ela representa a disposição da exchange de ajudar Musk a integrar o mundo dos criptoativos ao Twitter. A FTX, segunda maior corretora do mundo, também demonstrou interesse na aquisição, mas não concretizou uma participação.

Nesse cenário, especialistas avaliaram à EXAME que as mudanças que Musk sinalizou para o Twitter até o momento tendem a ser positivas para os criptoativos, por mais que ainda esbarrem em dificuldades, como o próprio convencimento dos atuais usuários a aceitar as alterações na rede.

Novidades no Twitter

Os planos de Musk não representam exatamente uma guinada na estratégia do Twitter. Gustavo Bodra, diretor de tecnologia da plataforma StartSe, lembra que a rede “já vinha com estratégias para olhar para o mercado de cripto, não só nas moedas mas também mais à fundo, pensando em Web3, descentralização”.

Por isso, ele espera que o bilionário aprofunde esse movimento, que contou com etapas importantes como a aceitação de bitcoin e ether para pagar “gorjetas” a criadores de conteúdo e a integração com carteiras digitais para usar tokens não-fungíveis ( NFTs, na sigla em inglês) como fotos de perfil.

“Acho que o caminho é transformar o Twitter em uma plataforma mais descentralizada, e deve provavelmente começar a recompensar criadores de conteúdo com criptoativos, tanto criptomoedas quanto NFTs, até para gerar relevância pra rede”, ressalta Bodra.

-(Mynt/Divulgação)

Para o diretor, as medidas seriam uma forma de lidar com os dois pontos mais criticados por Elon Musk: o excesso de “bots”, contas não controladas por humanos, e uma baixa qualidade do conteúdo na rede atualmente.

Outra mudança que ele espera, e já foi parcialmente implementada na mesma semana da conclusão da aquisição, é a transformação do Twitter em um ambiente de negociação de criptoativos, em especial NFTs, a partir da conexão com marketplaces.

Bodra aposta em conexões do Twitter com sites de criação de imagens via inteligência artificial, permitindo a “criação de arte digital, transformação em NFT e então a sua negociação”.

Ele acredita que a posição de Musk contrária à integração do Twitter à tecnologia blockchaincompartilhada em mensagens tornadas públicas – é “um blefe”, já que o movimento será necessário “pensando na descentralização” da rede social. “Não tem como fugir da Web3”, defende.

A expectativa dele é que usuários mais ativos do Twitter entrem na onda das ideias de Musk e aproveitem a remuneração por criação de conteúdo. Já aqueles que usam a rede “para consumir notícias, se atualizar, sem criar conteúdo, ficam mais em um mundo especulativo, de entrar pra ver se ficar milionário, mas o objetivo da rede não vai ser esse”.

As iniciativas de Musk deverão ser diferentes das do Facebook, que chegou a tentar criar uma criptomoeda própria, a Libra, mas desistiu do processo, segundo Ricardo Dantas, CEO da exchange Foxbit.

“É um cenário diferente do Facebook porque o próprio Elon Musk já é um CEO muito mais arrojado, afeito a riscos, desafiador. Tem a questão do timing também. O Facebook fez esse movimento bem antes do último mercado de alta, então as criptos não estavam tão populares quanto estão hoje”, observa.

Dantas vê uma abertura muito maior no mercado a iniciativas envolvendo o setor, mas ao mesmo tempo aponta um espaço não explorado na integração entre redes sociais, meios de pagamentos e criptomoedas. Mesmo aceitando transações financeiras, o Facebook e o Whatsapp não usam ativos digitais.

“Eu acho que ele vai inserir opções de pagamento no Twitter, e usando criptomoedas. O Jack Dorsey [fundador do Twitter] também é adepto a criptomoedas, sempre foi um grande defensor do bitcoin, e acho que esse espaço, ser um superapp em criptomoedas, está bem em aberto”, afirma.

Para isso, ele acredita que as negociações e uso de NFTs na rede serão um “primeiro passo”. Citando a ideia ventilada por Musk de cobrar mensalidades para serviços premium na rede, incluindo o famoso selo de verificação de conta, ele defende que “a hora de fazer grandes mudanças é agora. É uma forma de rentabilidade para o Twitter, provavelmente vão começar a cobrar em cima de produtos ligados a isso. Existem muitas oportunidades”.

O caso do dogecoin e impacto nos criptoativos

A euforia dos investidores se refletiu na valorização de uma criptomoeda em específico, a dogecoin. Criada inicialmente como uma piada, ela acabou ganhando uma adesão entre alguns investidores, e é repetidamente citada por Elon Musk em posts no Twitter, muitos em tom de brincadeira.

Desde que a transação se concluiu, a expectativa de que o criptoativo seja usado na rede social fez com ele valorizasse 134%. Para Dantas, isso mostra como o bilionário “é bem ativo na comunidade, e hoje consegue sim manipular preços de certa forma, é um poder que ele tem”.

Na visão dele, o mais provável é que a adoção de criptomoedas pelo Twitter não se restrinja ao dogecoin, já que “não é uma criptomoeda com a melhor tecnologia, existem alternativas melhores”. Ele não descarta, ainda, a criação de uma criptomoeda própria pela rede social, por mais que Musk também tenha ido contra a ideia em conversas divulgadas.

“Eu não acho que o dogecoin perde atratividade se não for a única criptomoeda usada, é um mercado ainda pequeno e com potencial de crescimento, mas com certeza é um cenário menos positivo do que se fosse a única utilizada”, diz o CEO da Foxbit.

Cotação do dogecoin nos últimos sete dias (CoinGecko/Reprodução)

Ele acredita que as medidas de Musk devem ajudar na adoção de criptoativos pelas pessoas, com tendência de adoção conforme as vantagens vão sendo percebidas, mas isso envolverá um “desafio de comunicação” que precisará ser superado, até para trazer benefícios ao setor cripto como um todo.

“Historicamente, estamos em um mercado de baixa. O próximo momento de alta pode demorar de um a dois anos, e até lá pode desenvolver muita coisa, tecnologias, produtos, para estar pronto para um grande mercado de alta”, aposta Dantas.

Já Gustavo Bodra, da StartSe, acredita que o impacto inicial em criptomoedas observado até o momento é especulativo, sem uma consistência que indique uma estratégia de longo prazo atrelada a esses ativos. Entretanto, ele espera um impacto positivo para o setor no médio e longo prazo.

“O Musk deve começar a mostrar algumas coisas no ano que vem, mas tem um desafio de tomar controle da empresa, fazer uma revisão, que vai demorar alguns meses. Depois deve começar as coisas e o impacto no setor”, projeta.

Ele também espera um ganho de adesão por parte do público com medidas como a de Musk, apostando na criação de um “superapp” que esteja ligado à criação de um ecossistema próprio integrado ao mundo dos criptoativos.

Apesar de achar que parte do público, com visão negativa em relação ao empresário, ainda tenha um certo receio de aderir aos criptoativos, “ele tem um histórico de construir negócios que dão certo. Podem ser ideias malucas, mas que funcionam e dão dinheiro. Pode haver um receio inicial nos usuários, uma instabilidade, mas no longo prazo não deve ser um erro”.

Para isso, Bodra também destaca a importância para Musk de “conseguir convencer e entregar os usuários. É um desafio que o próprio Zuckerberg está tendo agora com o metaverso, ele não está conseguindo atrair as pessoas, mostrar o potencial, e está perdendo dinheiro. Vai ser o mesmo com Musk e criptoativos”.

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