Entenda a importância do refinamento dos dados (imaginima/Getty Images)
Eu recebo diariamente uma pancada de perguntas sobre criptomoedas nascentes, se elas vão vingar, se vale a pena comprar, se dá para ganhar dinheiro com elas, se serão o novo bitcoin. O mercado cripto é cheio de tentações, ativos inflados, valorizações instantâneas, lançamentos “fantásticos” e promessas de novos candidatos a Satoshi Nakamoto, bem à moda do “melhor de todos os tempos da última semana”. A minha resposta sempre é ”me mostre os dados”.
Só há uma forma de conseguir consistência no investimento em criptoativos: estudando o projeto. Existe uma tendência do ser humano a querer gastar menos energia possível e obter o melhor resultado. Pode ser mesmo uma herança dos nossos ancestrais, que precisavam se reservar energeticamente para se dar bem em um combate, mas vamos combinar que hoje não temos mais animais ferozes nas portas das nossas cavernas querendo nos devorar. Para ter sucesso no mundo cripto, e em qualquer outra coisa, é preciso ação. E ação exige esforço, não tem como fugir.
Algo essencial que o investidor precisa ter em mente é não se concentrar em achar “o grande ganhador” ou “acertar na mosca”, também conhecidos por seus semelhantes “encontrar o grande projeto”, “surfar a próxima grande onda”.
Evite embarcar naquelas diquinhas de amigos ou se deixar levar por notícias do tipo “três moedas que vão deixar o BTC para trás”. Segure o impulso e comece a filtrar. O primeiro passo deve ser excluir os projetos ruins. Daí em diante, a eficácia da estratégia vai depender da sintonia fina que se é capaz de fazer, dos filtros a selecionar para lapidar a sua busca.
Hoje, existem cerca de 17 mil criptoativos no mercado e é impossível que todos sejam bons projetos. Se formos fazer uma comparação com a bolsa de valores, para dar uma ideia da dimensão do que estou falando, é como se tivéssemos 17 mil empresas listadas na B3. Um número absurdo e, com ele, a certeza de que muitas neste grupo não valeriam o nosso rico dinheirinho.
Lançamentos de projetos se multiplicam como pipoca estourada e costumam gerar um hype desmedido que acaba por estimular um comportamento de manada. O investidor precisa ter cuidado com isso. Essas moedas podem ser bons instrumentos para ganhar dinheiro? Sim. No entanto, é mais provável que sejam excelentes maneiras de se perder dinheiro.
Quando um ativo digital estreia, grande parte das vezes, uma volatilidade muito alta pode aparecer no start das negociações. A valorização pode ser tão rápida e tão astronômica que muita gente compra no topo e acaba saindo no prejuízo. Assim, a pessoa fica frustrada com o mercado, achando tudo uma grande furada, quando o problema foi que ela, por medo de ficar de fora, tomou a decisão errada.
Atualmente, podemos considerar que é fácil fabricar uma criptomoeda, muitas das iniciativas que debutam no criptouniverso chegam sem muita coisa para mostrar, principalmente nada concreto. Quem não tem conhecimento do mecanismo do mercado nem experiência deve evitar projetos iniciantes ou menores.
Dizer para você estudar uma criptomoeda antes de investir parece repetir o óbvio. Mas, se no mercado hoje tem mais gente interessada em ganhar dinheiro do que gente fazendo dinheiro, significa que o óbvio ainda não foi compreendido.
Comece buscando informação confiável. Fazer esse filtro é desafiador, porque existe muita notícia maliciosa por aí. Eu recomendo começar a pesquisa pelo site CoinMarketCap ou pelo CoinGecko. Procure a cripto em que deseja investir e, se ela não estiver lá, é porque provavelmente não é um bom projeto. Primeira filtragem feita.
Agora, caso a cripto esteja presente, deposite seu tempo no refinamento dos dados. O investidor deve analisar o tamanho do mercado, a trajetória do ativo, o histórico e influência de seus fundadores, e entender para que a moeda serve.
Fique atento também à comunidade de apoio ao projeto, uma das molas propulsoras do universo das criptomoedas. Isso é possível acompanhar através das redes sociais, especialmente Twitter, Reddit, Discord e Instagram. Como as pessoas nessa comunidade se envolvem com as propostas? O engajamento é realmente feito pelos próprios apoiadores ou estimulado por chatbots e coisas do tipo? A equipe por trás da iniciativa tem atividade intensa nessas redes? Essas são algumas perguntas a serem respondidas antes de tomar qualquer decisão.
Parece exagero, mas no mercado dos ativos digitais não é e eu vou te provar. Quem for até o ranking do CoinMarketCap, que organiza as criptomoedas por ordem de capitalização de mercado, vai ver, entre as 20 principais do mundo, dois exemplos icônicos de como a comunidade é capaz de criar gigantes mesmo a partir de projetos sem fundamentos. São elas a Dogecoin e a Shiba Inu, chamadas de moedas meme, que foram criadas a partir de piadas da internet. Elas não têm um propósito específico nem utilidade prática e, ainda assim, deixam para trás protocolos disruptivos por saberem como cativar o seu público.
Por fim, mas não menos importante, vem a usabilidade. Qual o problema que essa criptomoeda pretende resolver? Empresas e projetos devem ser construídos para trazer soluções aos gargalos do mundo. Se o ativo não tem um propósito claro ou plausível, não vale o seu dinheiro, porque aí não seria um investimento e, sim, uma aposta.
Se ainda há dúvida, é possível buscar perfis de pessoas que entendam do tema, conhecedores de análise fundamentalista, que consigam mergulhar mais fundo, identificar dados e fazer análises on-chain. Quanto mais refinamento, maior a chance de sucesso.
É só se ater ao processo.
*Felippe Percigo é um investidor especializado na área de criptoativos, professor de MBA em Finanças Digitais e educa diariamente, por meio da sua plataforma e redes sociais, mais de 100.000 pessoas a investirem no universo cripto com segurança.
Siga o Future of Money nas redes sociais: Instagram | Twitter | YouTube | Telegram | Tik Tok