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Felippe Percigo: soluções de segunda camada, as novas queridinhas do mundo das criptomoedas

Projetos de Layer-2 ou Camada 2 são capazes de multiplicar o poder de blockchains principais como Bitcoin e Ethereum. Entenda como funcionam

Arm: na rota de volta para a bolsa, um choque de realidade  (Getty Images/Reprodução)

Arm: na rota de volta para a bolsa, um choque de realidade (Getty Images/Reprodução)

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Da Redação

Publicado em 17 de outubro de 2022 às 09h30.

Em abril deste ano, testemunhamos uma das maiores movimentações na blockchain da Ethereum já vistas. O lançamento dos terrenos do metaverso do Bored Ape Yacht Club, a coleção de JPEG macacos da qual você já ouviu falar exaustivamente, engarrafou a rede de tal forma que, para comprar os NFTs, os investidores desembolsaram cerca de US$ 180 milhões em taxas.

Vamos entender. Comparada à rede da Visa, por exemplo, que consegue processar em teoria 65 mil transações por segundo, a da Ethereum ainda é um bebê em formação. Atualmente, com a atualização The Merge finalizada, a projeção é de que a blockchain seja capaz de processar 3 mil transações por segundo e, no longo prazo, esse número pode chegar a 100 mil.

O que aconteceu no episódio do BAYC é que o congestionamento foi tão grande que as taxas (as famosas taxas de gás) subiram a montanha, causando altos prejuízos para os compradores.

No universo das blockchains, a rede fundada por Vitalik Buterin é classificada como Camada 1 ou Layer 1, como já falamos por aqui em uma coluna. Você pode voltar lá para ler. Como deu para perceber, as blockchains de camada 1 são bastante limitadas para processar transações.

A solução para esse gargalo foi desenvolver uma nova camada que fosse construída sobre a Layer 1, mas que tirasse o peso dela e, assim, reduzisse os engarrafamentos, agilizando as movimentações e reduzindo taxas.

Essa faixa ganhou o nome de Layer 2 ou Camada 2, hoje composta por projetos com características próprias, mas o mesmo objetivo: desobstruir a Ethereum.

(Mynt/Divulgação)

Elas oferecem uma maneira eficiente de aumentar a velocidade e escalar as transações, ao mesmo tempo em que se beneficiam da segurança da cadeia principal. Em alguns casos, são capazes de processar milhares de transações por segundo, funcionando como peças-chaves para que a Ethereum alcance uma adoção mais ampla.

Não à toa as Layer 2 se transformaram na menina dos olhos de Vitalik Buterin. Em diversas conferências ao redor do mundo, ele tem destacado o alto potencial de impacto dessas soluções no sistema financeiro como um todo, não apenas em blockchain.

Aos investidores, é um bom momento para estudar os projetos no segmento e pesar prós e contras.

Tipos de Layer-2

As soluções de Camada 2 da Ethereum se enquadram em várias categorias, e cada uma difere em sua abordagem para tornar a rede mais escalável.

Canais

Os canais oferecem aos usuários uma forma de fazer várias transações fora da cadeia, estabelecendo a ligação entre eles sem utilizar a rede principal. As operações são feitas, portanto, off-chain. Isso permite, ao mesmo tempo, alto rendimento e baixo custo.

Um exemplo emblemático é a Lightning Network, construída sobre a blockchain do Bitcoin. Só para se ter uma ideia do seu poder de processamento, o Bitcoin consegue atingir apenas 8 transações por segundo (TPS), enquanto a Lightning pode chegar a 1 milhão de TPS.

No entanto, existem limitações. Os usuários precisam ser conhecidos antecipadamente e também são obrigados a depositar fundos em um contrato multisig, ou seja, que requer assinatura digital múltipla, composta por uma combinação de várias assinaturas únicas. A multisig, ainda que bastante segura, requer maior habilidade técnica aos usuários.

Plasma

As soluções de plasma usam contratos inteligentes e as chamadas árvores Merkle para criar cadeias adicionais à camada 1. Elas ainda usam a blockchain principal como respaldo, mas limitam a interação ao concentrar boa parte da atividade. Em geral, operam com seus próprios mecanismos de validação de blocos e, assim, descongestionam a cadeia base.

O desenho da estrutura Plasma é criado para funcionar como uma árvore blockchain, organizada de forma que novas cadeias menores, que na verdade são cópias reduzidas da Ethereum (batizadas de cadeias filhas), sejam desenvolvidas com base na principal.

O arranjo acaba favorecendo transações rápidas a um custo menor. Isso porque os blocos não são liquidados na main chain e não há a necessidade de armazenar dados no livro razão.

Por outro lado, ainda existem restrições para o uso da tecnologia Plasma. A estrutura não suporta adequadamente atividades DeFi muito complexas.

Exemplos de soluções do segmento englobam OMG e Polygon (o Polygon SDK também suporta rollups ZK, rollups otimistas e cadeias independentes).

Sidechains

As sidechains são executadas separadamente da blockchain principal e operam de forma independente. Podem ter seu próprio algoritmo de consenso, como Prova de Autoridade ou Delegated Proof of Stake, por exemplo, que são desenvolvidos com o objetivo de processar as transações de forma eficiente.

Essas “cadeias laterais” se conectam à rede Ethereum por meio de pontes bidirecionais, um sistema que permite troca de informações entre blockchains. Também são compatíveis com a Máquina Virtual Ethereum, uma espécie de software global distribuído onde são executados todos os contratos inteligentes. De forma prática, a EVM permite o surgimento de aplicativos descentralizados com diversas funcionalidades úteis aos usuários.

Exemplos de sidechains são xDAI e Skale Network.

Rollups

Os rollups funcionam executando transações na Camada 2, enquanto enviam dados para a cadeia base. Isso quer dizer que se beneficiam da segurança da rede Ethereum, mas podem realizar transações fora dela.

São classificados em duas categorias. Na primeira estão os ZK rollups (zero-knowledge ou conhecimento zero), que conseguem agrupar conjuntos de informação em uma só transação.

Trocando em miúdos, um protocolo de conhecimento zero permite verificar ou provar matematicamente se determinada afirmação sobre alguém ou algo é verdadeira sem revelar muitas informações sobre este alguém ou algo. Vitalik é o maior entusiasta da tecnologia. Para ele, os ZKs podem ser os grandes trunfos para o futuro das finanças descentralizadas.

Esse tipo de rollup agrupa centenas de transferências fora da blockchain principal e gera uma prova criptográfica, chamada de ZK-SNARK (argumento não interativo sucinto de conhecimento). Ela é responsável por validar o conteúdo dos blocos. Essa evidência que garante a ocorrência das transações é despachada e postada na camada 1.

Ou seja, em vez de gerar dados de transações, os zero-knowledge rollups exigem apenas uma prova, agilizando o processo de validação de um bloco e diminuindo os custos, já que menos dados são incluídos.

Exemplos de ZK-rollups são StarkNet, Loopring e ZKSync.

Já o segundo tipo de rollups, os otimistas, como o próprio nome diz, consideram que as informações contidas no agrupamento são válidas até que se prove o contrário. A proposta é de que o processo de suposição de veracidade acelere a operação.

No entanto, os rollups otimistas exigem um tempo para que suspeitas de operações falsas sejam analisadas e contestadas. Um saque, por exemplo, pode demorar 7 dias para ser concluído.

Optimism e Arbitrum são dois projetos de rollup otimista que estão na crista da onda.

*Felippe Percigo é um investidor especializado na área de criptoativos, professor de MBA em Finanças Digitais e educa diariamente, por meio da sua plataforma e redes sociais, mais de 100.000 pessoas a investirem no universo cripto com segurança.

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