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Felippe Percigo: Quem é você na nova fase da internet?

A identidade descentralizada em blockchain pode acabar com a "farra" que as Big Techs fazem com os seus dados pessoais. Entenda

Identidade digital pode ser nova tendência (Getty Images/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 2 de novembro de 2022 às 10h04.

Na sociedade, tudo ainda funciona na base da confiança, uma herança histórica e que já se provou pouco eficiente. E, na raiz das interações humanas, está o reconhecimento recíproco da identidade, que funciona como condição para que a confiança mútua se estabeleça.

Nossa forma de interagir com o mundo, no entanto, mantém essa identidade muito vulnerável. Hoje, ela está “espalhada” em contas de redes sociais, no aplicativo do banco, nos endereços de e-mail que usamos. Na vida offline, a mesma coisa. Está na certidão de nascimento, no passaporte, no RG, na carteira de motorista, etc.

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Essas informações, via de regra, são armazenadas em servidores e outros ambientes centralizados, o que tira o poder dos usuários sobre seus próprios dados pessoais e o transfere para a mão de terceiros.

-(Mynt/Divulgação)

Nos piores cenários, que infelizmente não são raros, as organizações às quais você confia os seus dados podem impedi-lo de acessá-los, usá-los de forma inadequada ou até desaparecer com eles, caso a organização deixe de existir.

A boa notícia é que mais e mais pessoas começaram a despertar para a importância da privacidade e da segurança das informações pessoais. O tema também é uma das grandes bandeiras da Web3, que está usando o blockchain para acabar com a farra que as Big Techs fazem com os dados de seus usuários.

As gigantes de tecnologia conseguem coletar um volume de informações tão robusto que são capazes de compor uma representação digital muito detalhada sobre todos que navegam por suas redes. E, claro, se beneficiam disso. Não dá para confiar.

A solução considerada hoje mais promissora para combater a atuação invasiva de empresas como Google, Amazon, Meta, Apple e etc. é investir na identidade descentralizada. A Web3 comprou essa briga e já está trabalhando, com bons resultados, em cima do conceito de identificador descentralizado (Decentralized Identifiers), ou DID, que vincula um blockchain pública a uma identidade do mundo real.

A comunidade internacional World Wide Web Consortium (W3C), de desenvolvimento de padrões e diretrizes para a web, define DID como “um novo tipo de identificador que possibilita uma identidade digital verificável e descentralizada”. Entendam-se como “velhos” tipos de identificadores os tradicionais, como nome, endereço, telefone e data de nascimento, que são emitidos, mantidos e controlados por agentes centralizados.

Segundo a W3C, “O identificador descentralizado pode ser atribuído a uma pessoa, uma organização, um objeto (casa, carro), um modelo de dados, uma entidade abstrata, etc.. Diferentemente de identificadores típicos e federados, foram projetados para que possam ser desvinculados de registros centralizados, provedores de identidade e autoridades de certificação.”

É possível possuir diversos DIDs, tantos quantos forem necessários para manter a separação desejada de identidades, personas e interações, com escopos adequados para uso em diferentes contextos. Podem dar suporte a interações com outras pessoas, instituições ou sistemas que exigem identificação. Ainda sim, a soberania sobre os dados está garantida e a decisão sobre o que revelar ou não cabe ao usuário ou organização. Tudo sem depender de uma autoridade central para garantir a existência continuada do identificador.

A identidade descentralizada em blockchain tem inúmeras utilidades e, além de comprovar a validade das informações e a identidade, protege contra roubos e fraudes, e ajuda a criar uma reputação online, que poderá abrir diversas portas no mundo virtual.

O conjunto de benefícios da tecnologia para a nova geração da internet já se reflete na aposta alta que o mercado está fazendo nela.

A estimativa é que o mercado de identidade descentralizada alcance US$ 8,9 bilhões até 2028, com um CAGR de 78,5% durante o período. A informação é de uma pesquisa recente da KBV Research.

No estágio atual da Web3, os endereços de carteiras acabam funcionando como identificadores de identidade. O problema é que criar uma carteira não exige nenhum método de verificação adicional, por isso o ambiente está sujeito a um grande número de identidades falsas.

Espera-se que a maturidade da tecnologia de identidade garanta aos usuários experiências mais seguras e mais vantajosas no território da Web3. Vamos ver algumas?

DeFi

A ausência de uma certificação fidedigna de identidade inibe o potencial das finanças descentralizadas. Impede que os projetos consigam fornecer serviços mais sofisticados e tão variados quanto os do sistema financeiro tradicional.

Como os protocolos são não-permissionados, ou seja, estão disponíveis para quem quiser usar, o risco é alto. Por isso, muitos empréstimos, por exemplo, acabam sendo supercolateralizados e, assim, menos pessoas têm acesso.

Os DIDs podem ser uma resposta eficiente para isso. Um usuário ou entidade com uma boa reputação, um histórico saudável de pagamento de dívidas, tem a possibilidade de tomar dinheiro emprestado com menos ou nenhuma garantia.

Airdrops

Os airdrops são muito populares na criptoesfera. Os projetos usam a estratégia de distribuição de tokens, geralmente gratuita, para angariar uma base inicial de usuários ou engajar as comunidades. O método atrai naturalmente especuladores.

Na corrida para lucrar com airdrops, existem aqueles que começam a criar diferentes endereços de carteira para interagir com o projeto. Há também os bots que acabam tirando a oportunidade de seres humanos participarem.

Por causa de esquemas como esses, os projetos aumentaram as barreiras para se participar de um airdrop. As mudanças ironicamente acabaram afetando também a participação de investidores de verdade. Neste caso, os DIDs poderiam entrar em cena e ajudar a reverter essa situação, tornando o processo blindado contra softwares mal-intencionados e oportunistas.

NFTs

Os NFTs se tornaram um grande driver de transformação da criação artística. Não só ampliaram o alcance e estabeleceram um canal inédito de monetização da arte, como também possibilitaram uma aproximação genuína entre artistas e consumidores com a formação de comunidades independentes.

No entanto, o mercado de NFT está vulnerável a plágio e fraude, o que pode ser contido com um sistema unificado de identificadores descentralizados. Com o recurso, os artistas conseguem proteger seus direitos de autoria. Os benefícios se estendem ao mercado secundário, onde compradores e vendedores serão capazes de verificar a origem das obras.

DAO

Em geral, as Organizações Anônimas Descentralizadas funcionam a partir de sistemas de governança que privilegiam quem detém as maiores participações em tokens. A mudança proposta pelos DIDs é trocar o peso da posse de tokens pelo peso da reputação.

Ao implementar as contribuições dos participantes em DIDs, elas podem ser transferidas entre DAOs e permitir que bons colaboradores desenvolvam outros projetos ao mesmo tempo.

Fora dos limites das organizações descentralizadas anônimas, os DIDs facilitam o trabalho de qualquer projeto de Web3 em encontrar candidatos mais competentes, de forma bem mais eficiente do que a usada na atual versão da web.

A eficiência do modelo, aliás, vai muito além das quatro aplicações sobre as quais conversamos aqui. Os casos de uso propostos já são inúmeros. Quem quiser entender mais sobre os DIDs e suas utilidades pode beber direto na fonte.

*Felippe Percigo é um investidor especializado na área de criptoativos, professor de MBA em Finanças Digitais e educa diariamente, por meio da sua plataforma e redes sociais, mais de 100.000 pessoas a investirem no universo cripto com segurança.

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