Felippe Percigo explica a relação do bitcoin com a inflação (SOPA/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 26 de julho de 2022 às 10h31.
Se você parar para pensar, o investimento mais importante da sua carteira não é nenhum daqueles ativos que estão lá. É o seu tempo. Os segundos, minutos, horas, dias, meses e anos que você precisou ocupar da sua vida, abrindo mão de tantas coisas importantes, incluindo a sua saúde, para ganhar esse dinheiro e, assim, montar um portfólio com a esperança de multiplicá-lo.
São títulos de renda fixa, ações, ETFs, fundos imobiliários, BDRs, criptomoedas e mais uma prateleira enorme de opções que existem para ajudar a neutralizar ou até mesmo, com muita diligência, superar o inimigo número 1 do bolso: a inflação. Será? Com o filme de terror que virou a macroeconomia, hoje não temos certeza de mais nada, com exceção de que a inflação pode até perder algumas batalhas de vez em quando, mas, definitivamente, no atual sistema monetário, sempre vai ganhar a guerra.
Se você for até o mercado para comprar um pacote de macarrão que custa, digamos, R$ 5 e só tiver R$ 3 disponível na sua conta, vai voltar para casa com as mãos abanando. Terá que esperar receber o próximo salário ou correr atrás de uma nova fonte de renda para garantir que você consiga comprar o macarrão da próxima vez. Ainda assim, o macarrão estará mais caro e você precisará ainda de mais grana.
Agora, veja o que acontece com o governo. Se ele quiser pagar uma conta e não tiver caixa, ele pode imprimir mais dinheiro e, assim, quitar as suas dívidas. O governo poderia também aumentar impostos, por exemplo, mas aí as pessoas não iam “curtir” muito. Imprimir, no caso, é silencioso.
Quando os governos colocam as impressoras para trabalhar, como aconteceu massivamente durante a pandemia, eles se beneficiam dos novos recursos (geralmente para tapar buracos e corrigir erros) e inundam o mercado de moedas. A sua grana do banco e aquele investimento que você fez ficam valendo menos.
De acordo com dados do Federal Reserve Economic Data, ferramenta do banco central norte-americano, 43% de todos os dólares correntes hoje na economia dos Estados Unidos foram impressos desde o início de 2020. Só naquele ano, foram produzidos mais de US$ 3 trilhões. À época, a oferta monetária do dólar saiu dos US$ 15,2 trilhões para os US$ 18,8 trilhões.
Lembro de uma carta que o Dan Morehead, CEO do Pantera Capital, um gigante de fundos cripto, escreveu para os seus investidores, na ocasião, que dizia que os EUA haviam impresso US$ 1 trilhão apenas em junho de 2020: “mais dinheiro do que nos dois primeiros séculos após sua fundação", acrescentava o texto.
Na carta, Morehead ainda fez uma comparação curiosa dos efeitos da impressão de dinheiro em junho 2020 com o desempenho da mesma quantidade de moeda no passar dos séculos. "Com esse primeiro trilhão (impresso de USD), derrotamos os imperialistas britânicos, fizemos a compra do Alasca e da Louisiana, derrotamos o fascismo, encerramos a Grande Depressão, construímos o Sistema Rodoviário Interestadual e fomos para a Lua".
Com a rotação insana da impressora na pandemia, os reflexos já eram esperados, mas os números vêm sendo piores do que se pensava. No acumulado de 12 meses (encerrado em junho), a inflação americana subiu 9,1% contra uma expectativa do Fed de 8,8%, se elevando ao maior patamar em 41 anos.
O exercício de comparação que fez o CEO do Pantera Capital, podemos trazer para o nosso microuniverso. Basta checar o quanto você pagou esta semana nas mesmas compras de mercado que fez no mês passado. Não estou falando de séculos, estou falando de um mês.
Esse controle do dinheiro pelos governos é uma forma de exterminar as nossas economias e investimentos. Mas não só isso. Aprisiona as pessoas ao trabalho condenando o nosso tempo. Quanto mais dinheiro é impresso, menos ele vale e mais esforço vamos precisar fazer para ganhar a mesma quantia. Mais esforço é igual a mais tempo. Eu diria que estamos vendendo o tempo a preço de banana, mas já viu quanto está custando a banana?
Note, então, que no sistema monetário tradicional nós entramos em um looping infinito. No vocabulário de programação, os loops infinitos acontecem quando a condição programada dentro do laço de repetição nunca é satisfeita. Deu para captar a ideia? É isso, ela nunca será satisfeita. E as pessoas seguirão aprisionadas.
Um levantamento feito recentemente pelo site Finbold mostrou que o dólar perdeu 97,5% de seu valor em comparação com o bitcoin nos últimos cinco anos. Outro dado gerado pela publicação foi a desvalorização da moeda fiduciária nos últimos 50 anos: 85%. Algo que surpreende zero pessoas.
Fico pensando: até quando os governos esperam que a população aceite ter seu dinheiro regido por eles e por uma moeda que só fica mais frágil? Nós não usamos moedas fiduciárias porque optamos por isso, mas por imposição.
Aqui por perto, na Argentina e na Venezuela, as pessoas estão recorrendo ao bitcoin para se proteger contra inflações galopantes, resultado do acúmulo de políticas monetárias desastrosas conduzidas por gestões incapacitadas. As situações na vizinhança são exemplos claros de que o bitcoin é um dinheiro de resistência. Vale lembrar aqui o exemplo da guerra da Ucrânia também.
Ao contrário do dólar e das outras moedas fiat, o bitcoin terá apenas 21 milhões de unidades, essa determinação faz parte do código original da moeda e nada pode mudar isso. A taxa de inflação atual do ativo é de 1,67% ao ano. De quatro em quatro anos, essa taxa de emissão de novas moedas é reduzida à metade, um fenômeno chamado no mercado de Halving.
Os cortes seguirão religiosamente em intervalos de quatro anos até que a inflação seja zerada, ou seja, quando atingirmos o total de 21 milhões de bitcoin. Tudo foi previsto e deve ser executado da forma como foi concebido. Não existem autoridades centrais que possam imprimir mais bitcoin quando for conveniente.
O sistema monetário atual é ultrapassado, só existe por convenção, não por ser eficiente. E ele não está em sincronia com o gigante salto tecnológico das últimas décadas, muito menos com a revolução que a blockchain veio nos proporcionar.
É apenas uma questão de tempo para as novas gerações superarem completamente o dinheiro fiduciário e seus equivalentes digitais que estão sendo forjados, as tais CBDCs, moedas digitais de bancos centrais. Elas nunca serão capazes de combater a inflação, porque a moeda fiduciária não vai mudar sua essência, apenas a forma. E isso, na verdade, não é uma mudança, é só um disfarce.
*Felippe Percigo é um investidor especializado na área de criptoativos, professor de MBA em Finanças Digitais e educa diariamente, por meio da sua plataforma e redes sociais, mais de 100.000 pessoas a investirem no universo cripto com segurança.
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