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Empresa do criador do Twitter testa carteira de bitcoin para incentivar autocustódia

Batizada de Bitkey, carteira física busca simplificar operações para tornar uso mais fácil e atrativo para investidores

Jack Dorsey se tornou um defensor da descentralização na internet (Bloomberg/Getty Images)

Jack Dorsey se tornou um defensor da descentralização na internet (Bloomberg/Getty Images)

João Pedro Malar
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 23 de junho de 2023 às 09h00.

Última atualização em 23 de junho de 2023 às 11h51.

Desde que deixou o comando do Twitter, Jack Dorsey tem se dedicado para projetos ligados ao mundo das criptomoedas e da tecnologia blockchain por meio da sua empresa, a Block. E, recentemente, companhia avançou em uma área que ainda engatinha no mundo cripto: a autocustódia. A prática envolve um investidor ser responsável por armazenar seus criptoativos, sem contar com terceiros, como corretoras.

Batizada de Bitkey, a carteira física tem como objetivo incentivar a autocustódia e levá-la para um público mais amplo. Em entrevista exclusiva à EXAME, Lindsey Grossman, business lead da Bitkey, destaca que, atualmente, a maior parte das criptomoedas fica armazenada em plataformas de custódia, com destaque para as corretoras.

Na visão dela, as soluções atuais de autocustódia - que variam entre carteiras físicas e carteiras digitais disponíveis em aplicativos - são "difíceis de usar". "A experiência do usuário nelas é complicada, elas são muito técnicas. Você precisa quase ser um engenheiro para entender como ela funciona, e a seed phrase [frase emente] é imperfeita. Se alguém descobrir a frase, pode roubar o dinheiro e você fica desprotegido. Elas não usadas apropriadamente".

Por isso, a Bitkey foi idealizada como uma opção mais simples. Ela usa um sistema baseado em três chaves de acesso. Uma fica na própria carteira física, outra em um aplicativo e outra com a Block. O usuário precisa de no mínimo duas chaves para controlar a carteira e fazer movimentações, mas a Block não tem acesso às chaves dele, o que evita interferências da empresa e dificulta tentativas de roubo. A chave que fica com a empresa é usada apenas em casos de recuperação de acesso, como quando há a perda ou roubo de uma das outras duas.

Além disso, a carteira oferece recursos para definir regras como limites de transação, o que também busca aumentar sua segurança. Grossman resume o projeto como um "meio seguro e fácil para atrair as pessoas para a autocustódia pela primeira vez". Atualmente, o projeto está recebendo inscrições para os testes beta junto ao público - inclusive brasileiro - e permite armazenar apenas bitcoin.

Parcerias e próximos passos

Além de ter lançado as inscrições para o beta, a Block também anunciou neste mês uma parceria com a corretora de criptomoedas Coinbase e a empresa de custódia de cripto Cash App, para facilitar a conexão e transferência de fundos para a Bitkey. Grossman comenta que muitas pessoas a questionaram sobre a parceria, já que envolve uma alternativa de autocustódia e duas empresas de custódia.

Entretanto, ela explica que "a maioria do bitcoin está nas exchanges hoje. E a realidade é que acreditamos que trabalhar com elas vai ser mais fácil e seguro, a integração permite mover a criptomoeda de forma mais simples. Com alguns cliques, pela BitKey, você consegue redirecionar esses fundos. Quando compra, pode sacar imediatamente e já transferir. No momento, essas transferência demanda mais trabalho, conversões, então a ideia é deixar mais rápido, simples".

Grossman destaca que "queremos que as exchanges sejam seguras e bem-sucedidas globalmente porque elas são importante nessa função de conversão, elas ajudam a ser uma ponte entre bitcoin e moedas fiduciárias, mas a autocustódia é o melhor para armazenar e proteger os ativos". Ela afirma ainda que as corretoras já estão percebendo que "a autocustódia vai ser o futuro se ficar mais segura e fácil", e por isso estão trabalhando para se manter na dinâmica do mercado.

Bitkey

Block desenvolveu carteira física para bitcoin (Block/Divulgação)

Nos próximos meses, a Bitkey será testada por usuários em um beta global para "tornar o produto melhor". A ideia é que, até o fim de 2023, ele comece a ser disponibilizado a nível mundial, se o cronograma for bem-sucedido. Um dos aspectos que estará no foco da Block será a questão de privacidade e proteção de dados, que já mergulhou outras empresas de autocustódia, como a Ledger, em polêmicas.

Para tentar reduzir essas preocupações, a Bitkey tem uma lógica de desenvolvimento aberto, com divulgação pública dos códigos para "dar mais confiança aos consumidores": "é muito importante na indústria do bitcoin que as pessoas entendam como o produto funciona. A pessoa pode ou confiar em nós, que não temos controle no dinheiro, ou podemos efetivamente abrir os códigos e mostrar isso. Os especialistas vão poder verificar".

A executivo explica ainda que o desenvolvimento aberto incentiva o diálogo com a comunidade e implementação de novas tecnologias no futuro. É um "princípio de transparência" que envolve também dizer desde o início quais dados serão requisitados aos consumidores e quais são opcionais, permitindo também que ele tenha um controle desse compartilhamento.

Ela pontua, porém, que a filosofia de alguns investidores de não fornecer nenhum dado não é a majoritária entre usuários. Pesquisas realizadas pela Block mostraram que os usuários querem receber informações e alertas envolvendo suas carteiras e a segurança delas. A questão chave, portanto, é "dar a escolha" de quais dados serão compartilhados, e como.

Mercado brasileiro

Grossman ressalta que a Bitkey será "global desde o início", o que vai incluir uma presença no Brasil. Usuários brasileiros já podem se inscrever nos testes do beta. A executiva classifica o mercado brasileiro como "um dos maiores mercados do mundo, e especialmente para o bitcoin. Vemos o Brasil como uma grande oportunidade e um mercado único".

Apesar de pesquisas da Block terem identificado um grande interesse dos brasileiros em criptomoedas, elas também apontaram que muitos não entendem a diferença entre deixar seus ativos em corretoras e praticar a autocustódia. Ao mesmo tempo, os entrevistados dizem querer ter mais controle sobre seu dinheiro, mostrando o potencial de crescimento da prática.

Um dos elementos estudados pela empresa ao definir os países que terá como foco para o Bitkey é a regulamentação. Grossman explica, porém, que as soluções de carteiras físicas acabam tendo requerimentos diferentes: "é um produto de software e hardware que permite gerar e guardar chaves criptográficas, são requerimentos diferentes. Mas é preciso garantir que parceria com exchanges, políticos, para explicar o que é autocustódia e garantir que ela seja segura e fácil".

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