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Criptomoedas: o melhor ou pior caso de uso inicial para o blockchain?

A primeira aplicação em massa da tecnologia blockchain ajudou o prejudicou o seu avanço ao longo dos anos? Entenda

Sol é uma das criptomoedas para ficar de olho em março (Reprodução/Reprodução)

Sol é uma das criptomoedas para ficar de olho em março (Reprodução/Reprodução)

LR
Lucas Rangel

Especialista de produtos de ativos digitais no BTG Pactual

Publicado em 21 de abril de 2023 às 09h44.

Última atualização em 5 de dezembro de 2023 às 18h35.

Esses dias eu estava conversando no trabalho e ouvi uma frase que me deu um estalo. Alguém disse “criptomoeda pode ter sido o pior caso de uso para a reputação de blockchain”. Essa afirmação ficou na minha cabeça o dia inteiro, enquanto meus pensamentos traziam tanto pontos que comprovavam essa fala, mas também pontos que contrariavam a afirmação. Então decidi escrever esse debate que tive comigo mesmo sobre esse tema.

Com a criação do bitcoin em 2008 por “Satoshi Nakamoto”, as criptomoedas se tornaram o primeiro caso de uso da tecnologia blockchain. Com o tempo ela foi ganhando popularidade, novas moedas surgiram, Ethereum nasceu em 2015 e cada vez mais as criptomoedas foram ganhando mercado. Milhares de projetos foram lançados, os tokens valorizaram e isso começou a chamar a atenção dos investidores. Tanto para o lado positivo, quanto para o negativo.

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E assim começa o debate mental que tive, primeiro trazendo os pontos que concordam com a frase que escutei. Por conta da grande valorização dos ativos, investidores de risco, especuladores e grandes detentores de moedas que podem manipular o preço de tela foram atraídos para o mercado que está sendo construído.

Além disso, golpistas aproveitaram a narrativa de grandes lucros para criar pirâmides financeiras. Lembrando que pirâmide não tem vínculo com cripto, apenas servem como um contexto de uma modalidade de investimento utilizado para enganar as vítimas, como nos casos do Boi Gordo, Telexfree e diversos outros.

Todos esses pontos criaram medo e insegurança em diversos investidores, leigos em tecnologia, governos e o mercado financeiro tradicional. Isso acabou criando fortes barreiras por alguns anos para esse mercado evoluir ainda mais e ter uma adoção corporativa mais rápida.

Por outro lado, o hype criado em torno das criptomoedas fez com que blockchain fosse amplamente discutido nos meios de comunicação, empresas de tecnologia e desenvolvedores, o que resultou em uma maior conscientização e despertou a curiosidade sobre a tecnologia de blockchain e seu potencial.

O outro ponto que contraria a frase dita no começo, é que a grande injeção financeira que o mercado teve por conta das criptomoedas fomentou de forma acelerada as novas versões, melhorias, novos projetos e toda aquela evolução vista em startups que estão com caixa cheio de dinheiro.

Assim se criam dois cenários, o atual que tivemos criptomoedas como o primeiro caso de uso e o hipotético em que o blockchain fosse inicialmente usado para outra função, como, por exemplo, a de um banco de dados mais seguro e rastreável.

Portanto, concluímos que, se o primeiro caso de uso do blockchain não tivesse sido as criptomoedas, mas sim somente a tecnologia pura de uma nova opção de banco de dados com melhorias na confiança e rastreabilidade, provavelmente teríamos uma tecnologia com adoção corporativa com menos barreiras e preconceitos.

Por outro lado, a evolução seria orgânica e sem hype, com menos investimentos, pouco conhecimento do público e pouco espaço na mídia. Provavelmente levando muito mais tempo para se consolidar ou mudar o padrão atual.

Então apesar da especulação, hype e algumas barreiras criadas no mercado tradicional, o caso de uso de criptomoedas para blockchain foi o melhor caso inicial para o desenvolvimento da tecnologia. Provavelmente eu não estaria escrevendo textos sobre isso e desenvolvendo produtos incríveis para o mercado financeiro dentro do maior banco de investimentos da América Latina caso contrário.

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