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CEO da Circle elogia inovação no mercado brasileiro e vê BC mais avançado que Fed em cripto

Em entrevista à EXAME, líder da empresa responsável pela stablecoin USDC falou sobre abertura de operações da companhia no Brasil

Circle, emissora da USDC, vai expandir operações no Brasil
João Pedro Malar

Repórter do Future of Money

Publicado em 29 de maio de 2024 às 16h41.

Última atualização em 29 de maio de 2024 às 16h55.

A Circle, uma das principais empresas do mercado cripto e responsável pela stablecoin USDC, acredita que chegou ao Brasil no "momento certo", em meio a uma grande inovação no sistema financeiro brasileiro e com um cenário propício para a expansão da sua moeda digital pareada ao dólar. É o que avalia o CEO da companhia, Jeremy Allaire, em entrevista exclusiva à EXAME.

O anúncio da vinda das operações da empresa no Brasil envolveu a visita de Allaire no país e a oficialização de uma parceria com o BTG Pactual, que será responsável pela distribuição e liquidez da USDC no mercado brasileiro. Para o executivo, esse movimento se encaixa em um esforço da Circle para atender à demanda global por stablecoins.

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Há, ainda, um cenário favorável para a vinda ao Brasil devido à posição dos reguladores do mercado brasileiro em relação ao setor. Allaire destaca que o Banco Central tem mostrado estar mais avançado no tema dos criptoativos que o próprio Federal Reserve , o banco central dos Estados Unidos. Por isso, o executivo acredita que o momento é o melhor possível para a Circle.

Parceria com o BTG e chegada ao Brasil

Allaire afirma que a parceria com o BTG Pactual surgiu de uma necessidade mútua das empresas, mas originada em um desejo de expansão das operações da Circle. "Nós começamos a USDC nos Estados Unidos, garantindo que as instituições possam usar a USDC como um novo trilho para suas operações. E descobrimos que a demanda por dólares digitais é altamente global, especialmente em mercados emergentes", comenta.

"Ao mesmo tempo, ficou claro que, se quiséssemos expandir a adoção da USDC em um mercado da América Latina como o Brasil, precisaríamos ter a mesma qualidade de infraestrutura que temos nos Estados Unidos. Se uma instituição financeira, fintech ou empresa quer usar esse dólar digital, ela precisa poder trabalhar com empresas locais de alta qualidade e confiáveis", explica o executivo.

Nesse sentido,Allaire diz que o BTG Pactual é um "parceiro óbvio" para atender a esses requisitos, com um encontro entre as empresas em um "momento excelente para olhar para esse mercado. Ficou claro que o BTG tem uma infraestrutura incrível, um compromisso forte com o mercado e é uma das instituições financeiras mais bem-sucedidas do Brasil".

"Estamos no começo [ da parceria ], mas muito animados. Para a Circle, temos agora um parceiro gigante e com uma liquidez tremenda com o BTG Pactual. Com isso, conseguimos trazer nossas capacidades para cá e crescer significativamente a adoção comercial e institucional da USDC", ressalta Allaire.

Também em entrevista à EXAME, André Portilho, head de ativos digitais do BTG, destaca que "o mercado demanda o dólar digital. Os produtos estão indo para o blockchain e aí precisa ter o dólar nessas redes. Quando lançamos nossa stablecoin, a visão por trás era essa. E a parceria com a Circle ocorreu porque eles precisam se um parceiro local e nós precisamos de um parceiro global forte, com a mesma governança, requisitos e cumprimento de regulação. Foi um encontro natural".

Portilho avalia que esse encontro tambémocorreu em um momento único para o Brasil: "É a primeira vez que o mercado brasileiro não está atrasado em relação aos Estados Unidos, não vemos uma liderança nessa inovação financeira como vimos em outros casos. Os Estados Unidos tendem a compensar o tempo perdido, mas é uma janela de oportunidade para o Brasil aproveitar , até para atrair a economia global para cá".

Na mesma linha, Allaire avalia que "a dinâmica de inovação vai ocorrer mais rapidamente no Brasil que em muitos países. É atraente pensar nesse futuro das finanças. Há uma demanda crescente por dólares digitais, com uso em transações internacionais. O Brasil tem tido um papel internacional maior, o que demanda uma nova infraestrutura internacional de liquidação".

Regulação

Sobre a regulação de criptomoedas, Allaire avalia que as principais economias do mundo têm convergido em alguns temas, como registros para as empresas do setor, regulação mais dura contra lavagem de dinheiro e leis para stablecoins já aprovadas ou em elaboração, trazendo em geral mais clareza para o setor.

Apesar de os Estados Unidos terem sido associados a um atraso nesse aspecto, o CEO da Circle comenta que o país não está tão atrás assim na área. Ele foi um dos primeiros, por exemplo, a ter regras mais duras contra lavagem de dinheiro. Além disso, está próximo de finalizar uma legislação sobre stablecoins.

Por outro lado, Allaire diz que "minha impressão é que o Banco Central brasileiro está olhando mais para o futuro, está mais focado na inovação, que o Federal Reserve. O Brasil está com discussões junto às lideranças de regulação sobre contratos inteligentes, dinheiro programável. Isso não está ocorrendo nos Estados Unidos".

"O foco nos Estados Unidos está em mitigar riscos , não em pensar na inovação e suas oportunidades. Isso está começando a mudar, estamos vendo essa mudança. Vejo como um pêndulo, e estamos tendo um retorno ao centro, e aí consegue ficar mais positivo sobre inovação. É uma mudança de visão política , balanceando inovação e contenção de riscos", afirma.

IPO e futuro das stablecoins

Já Portilho pontua que "a indústria cripto já percebeu que não tem futuro sem regulação. As stablecoins dependem de um efeito de rede, quanto mais pessoas usarem, mais valor vão ter. Mas o próprio dinheiro é assim. Se o que estamos esperando se confirmar, o mercado vai virar de cabeça para baixo, e a Circle está melhor posicionada para ocupar um espaço maior no mercado".

A visão converge com a de Allaire, que destaca que é preciso olhar além para a dinâmica atual do mercado de stablecoins, ainda dominado pela USDT e pela USDC . "Vimos grandes empresas lançarem projetos de stablecoins que não conseguiram crescer. As stablecoins precisam ter aspectos de liquidez, desenvolvimento, integração, casos de uso", ressalta.

"Historicamente, nós ficamos muito focados em ter um produto regulado, com forte infraestrutura bancária, os melhores parceiros. Agora, somos vistos como os mais mainstream de uma perspectiva de varejo e atacado. Esse uso institucional é um resultado. Fomos capazes de criar parcerias com grandes instituições globais, como o BTG, BNY Mellon, BlackRock, Visa, Mastercard, o que dá uma forte vantagem competitiva nessa conexão com finanças e pagamentos tradicionais", diz Allaire.

O executivo acredita que a regulação deverá trazer uma "mudança na estrutura do mercado cripto", favorecendo projetos já adaptados e em cumprimento com novas leis e regras. Ele cita como exemplo a Europa, que adotou uma regulação para stablecoins que torna projetos que não as cumprirem ilegais.

"As dinâmicas de competição atuais vão ser totalmente diferentes daqui a cinco, dez anos. Para chegarmos à escala global, precisa ser regulado, trabalhar no framework de bancos centrais e se tornar utilizável por entidades tradicionais e negociada como uma forma legal de dinheiro. E no mercado de hoje estamos melhor posicionados para esse futuro, mesmo que tenhamos competidores maiores", defende o executivo.

Também nesse sentido, Allaire, que não pode comentar detalhes sobre um possível pedido de IPO da empresa nos EUA, pontua que "há muito tempo planejamos ter ações na bolsa e sermos publicamente regulados. É a direção que escolhemos como empresa e acreditamos ser importante para continuar construindo a confiança e transparência e a qualidade de governança que o mundo demanda".

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