Rachel Conlan é a atual CMO da Binance (Binance/Divulgação/Divulgação)
Repórter do Future of Money
Publicado em 21 de agosto de 2024 às 09h00.
Última atualização em 21 de agosto de 2024 às 11h25.
O Brasil pode se tornar uma das referências globais com relação à adoção de criptomoedas, e por isso deve atrair mais investimentos de gigantes da indústria cripto. É o que avalia Rachel Conlan, CMO da Binance, em uma entrevista exclusiva à EXAME sobre o futuro da comunicação entre o mercado cripto e o público.
Conlan destaca que "o Brasil tem uma penetração de cripto equivalente a 8% da população, o que é três pontos superior à média global. Fizemos um estudo recente e ficamos fascinados pelo uso de produtos por brasileiros. O Brasil é o segundo país com mais uso de copytrading na Binance, o que mostra que o brasileiro é um usuário mais sofisticado.
"A população brasileira está realmente curiosa em relação às criptomoedas e com vontade de se engajar. E isso é um indício sobre a capacidade de cripto se tornar parte da vida diária aqui. É uma base de testes incrível, pensando em quais aprendizados podem ser necessários para outros países. Acho que precisamos investir mais em mercados como o Brasil, o Vietnã, que podem ser referências globais e criar novos padrões", afirma.
Na visão de Conlan, a dificuldade que o mercado cripto tem em termos de comunicação com o público é a necessidade de "ter que atender aos diferentes tipos de usuários. Algumas pessoas, como os primeiros usuários, estão obcecadas com a tecnologia e a descentralização, e para chegar a esse público a empresa precisa se aprofundar, mas para a minha irmã, a mãe, elas não têm o interesse pra isso, é uma perspectiva mais narcisista até, porque elas só querem entender como são beneficiadas".
Nesse sentido, a executiva acredita que é preciso que as empresas trabalhem com "mensagens que ressoem de forma personalizada". Ao mesmo tempo, é preciso que as empresas respeitem o papel importante desempenhado pelos chamados "early adopters", os primeiros usuários, das criptomoedas.
"Eles construíram a indústria e não podemos tirar isso deles. Eles são a base e os embaixadores mais importantes do mercado, eles que atraem os novos investidores, não importa quanto marketing a indústria faça. Mas é preciso entender os novos públicos e como agradá-los. Nesse sentido, as redes sociais são muito importantes, servem como um combustível para a indústria", diz.
Há, ainda, o papel de influenciadores, que atuam na estratégia de marketing da Binance para "aproximar as pessoas de cripto. Eles conseguem fazer com que os usuários se identifiquem com eles, gerando uma conexão". A estratégia da Binance possui, ainda, um investimento em celebridades e atletas, como o cantor The Weeknd e o jogador Cristiano Ronaldo.
Conlan avalia que "os fãs originais de cripto também amam esportes, então esses parceiros permitem entrar no ponto de paixão de um usuário em potencial, conectar-se com ele além da necessidade financeira. A capacidade de gerar awareness é um dos canais de crescimento mais importantes que temos".
"O importante nesse caso é saber ter os parceiros certos. A indústria cripto, algumas empresas, fizeram um péssimo trabalho quanto a isso, escolhendo os parceiros errados, apenas colocando o nome da empresa em um estádio. É a maneira errada porque não está criando uma conexão. Mas estamos avaliando muitos possíveis parceiros no momento", comenta.
A CMO da corretora de criptomoedas lembra que a meta do mercado cripto é chegar à marca de 1 bilhão de usuários. No momento, a Binance conta com 200 milhões de usuários. No caso da exchange, a executiva reconhece que "os erros foram muitos" quando a empresa pensa na sua estratégia de comunicação, mas que um dos principais acertos é a "obsessão com o usuário".
Ela se reflete no foco em imaginar como suas mudanças, novidades e produtos serão recebidos pelos usuários e quais vantagens efetivas elas poderiam trazer. E essa prioridade se reflete em outra atual da exchange: melhor tanto a interface dos usuários (UI, na sigla em inglês) quanto a experiência (UX, na sigla em inglês).
"Os melhores produtos são aqueles com o melhor UX e UI. Atingir isso significa que vencemos no mercado, mas ainda é um bloqueio para a adoção em larga escala", afirma Conlan. A executiva cita, ainda, uma necessidade de investir ainda mais em educação sobre cripto, inclusive em "diferentes formatos e meios".
Outra prioridade da Binance no momento é ter uma capacidade de "regionalizar" sua comunicação. "O usuário brasileiro é muito diferente do usuário de Gana, por exemplo. Nós temos uma referência geral mais forte, mas precisamos ter a capacidade de fazer com que os usuários sintam que realmente são entendidos por nós. O e-commerce é um bom exemplo nesse caso", avalia.
Por fim, Conlan cita a necessidade da empresa continuar "pecando pelo excesso" em investimentos de segurança e cumprimento de leis. "A regulação é o futuro da indústria cripto, é a parte mais importante para trazermos mais usuários, porque as pessoas estão acostumadas com produtos regulados. Criptomoedas ainda são muito associadas a golpes, não é vista como segura, mas a regulação e a educação podem mudar isso", afirma.
"O conhecimento sobre o tema é essencial. A educação é essencial. A aprovação de ETFs [de bitcoin e de ether] nos colocou nas manchetes dos jornais de forma positiva, isso atrai mais interesse. Nos primeiro 3 meses do ano, o bitcoin foi o termo mais pesquisado no Google, o que mostra que existe um destaque positivo após 18 meses de negatividade. A adoção institucional mostra que os ativos digitais vieram para ficar, e agora os fatos positivos precisam ser capitalizados", defende.