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As finanças descentralizadas passam bem

O alarde em torno dos hacks envolvendo os protocolos DeFi não diminui o poder de transformação que as plataformas estão trazendo para o mercado

As finanças descentralizadas oferecem produtos e serviços descentralizados e sem o intermédio de bancos (putilich/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 23 de abril de 2022 às 10h00.

Última atualização em 25 de abril de 2022 às 17h45.

Por Felippe Percigo*

Em menos de um mês, três protocolos DeFi foram atacados por hackers, que se aproveitam das vulnerabilidades das plataformas para inflar seus bolsos e, de quebra, seus egos - não necessariamente nesta ordem. É de fato incontestável que as finanças descentralizadas trouxeram uma quebra de paradigma na história do mercado financeiro e, merecidamente, estão sendo promovidas ao mainstream. E, como tudo que ruma ao topo, fica altamente exposto, tanto a críticas quanto a aproveitadores.

A grande vulnerabilidade desses protocolos tem a ver com seu código aberto, que de forma transparente - uma prerrogativa dos ambientes descentralizados - fica escancarado nas blockchains. As aplicações são criadas e disponibilizadas pelos desenvolvedores a quem se interessar e podem ser usadas sem permissão, algo raro de se imaginar, especialmente no universo das finanças, que sempre se manteve de difícil alcance até mesmo para os próprios investidores.

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Medimos o tamanho do ecossistema DeFi por meio de um indicador que se chama Total Value Locked (TVL), em português Valor Total Bloqueado. Isso significa que se leva em consideração na métrica o valor total alocado nas aplicações descentralizadas existentes no mercado. Só para se ter ideia do tamanho do pé do gigante - porque até conseguirmos ver o gigante inteiro ainda vai levar um tempo -, entre janeiro de 2021 e abril de 2022, esse TVL saltou de US$ 18 bilhões para quase US$ 214 bilhões, um avanço de mais de mil por cento, de acordo com dados da plataforma Defi Llama. Sendo assim, é difícil tirar os olhos desse mercado: nisso, só nisso, os hackers têm razão.

-(Mynt/Divulgação)

Enquanto a tecnologia amadurece e vai sendo testada, diversas fragilidades ficam evidentes e quem conhece os meandros, como esses “piratas” da blockchain, pode se fartar caso encontre um ponto fraco em alguma rede. Foi o que aconteceu em 23 de março com o ataque à Ronin Brigde, que dá suporte ao Axie Infinity, o jogo da categoria play-to-earn (jogue-para-ganhar) mais bem-sucedido até aqui. O invasor conseguiu roubar cerca de 650 milhões USD, o equivalente a mais de 3 bilhões de reais, considerado o maior hack da história DeFi.

Mas isso não é exclusividade das finanças descentralizadas. Desde lá atrás, do Bitcoin, abrem-se camadas experimentais, e experimentos implicam em riscos. Tudo bem que hoje já existe um pouco mais de maturidade no mercado, mas ainda estamos em fase de testes, e isso custa tempo. Quando se fala em protocolo, se fala em programação, em escrever smart contracts, que são a base do DeFi. Deduzimos, obviamente, que se requer conhecimento específico.

Acontece que, quando vamos investir em finanças descentralizadas, nos fica distante a ideia de que alguém como nós, um indivíduo falível, escreveu aquele código e, como somos leigos, não conseguimos nos certificar se ele foi bem escrito ou não. Muitas vezes, o programador deixa passar alguma coisa, por desatenção ou mesmo por simples inexperiência.

É aí que são abertas as brechas para os chamados “exploits”, ou seja, algum ser mal intencionado consegue se beneficiar do código mal feito para desviar fundos. Existem invasores com técnicas apuradíssimas e com propósitos diversos. O aproveitador mais recente, que profanou a plataforma Beanstalk esta semana, até pegou uma parte dos 182 milhões USD em criptomoedas que roubou e doou para a Ucrânia, bem ao estilo Robin Hood.

Agora, como a gente pode se proteger disso? Bom, quem entra no jogo do risco já sabe que pode ser penalizado. Acredito que o investidor DeFi precisa ser, acima de tudo, um destemido. Mas é possível reduzir a chance de perder o seu rico dinheirinho? Sim, é possível, investindo em projetos grandes e sólidos. Existe muita furada no ambiente das finanças descentralizadas, com a promessa de percentagens extravagantes de retorno. Você já deve começar a desconfiar daí.

O que não é possível é ter 100% de certeza de que o protocolo foi bem feito. No entanto, existem iniciativas robustas e que têm se provado no mercado, mostrando, de uma certa forma, que estão sendo bem geridas. Eu citaria MakerDAO, Waves e Compound.

Também existem recursos que permitem inspirar um pouco mais de confiança nos investidores, como as auditorias que são feitas para validar a segurança dos smart contracts (contratos inteligentes).

Outro mecanismo é o “bug bounty”, um programa de recompensas para “hackers do bem”, que são selecionados profissionalmente para explorar as plataformas e encontrar os erros. Os cachês para esses programadores podem variar de mil USD a 10 mil dólares, mas há também os casos extremos. No ano passado, um hacker embolsou o equivalente a R$ 8 milhões, em estimativa da época, ao encontrar uma falha séria no protocolo ArmorFi.

Se você for vítima de uma exploração, em geral, não tem muito o que fazer, salvo alguns projetos que já usam seguradoras e, para aderir, se deve pagar uma taxa, que varia de protocolo a protocolo. Para prevenir que seja lesado, em qualquer situação, estude, é a melhor receita.

O resumo da ópera é: o investimento em DeFi é bem “alternativo”, eu classificaria assim, está sujeito a intempéries, mas também pode ser muito lucrativo se soubermos usar. Os hackers sempre vão existir, vão insistir em quebrar as regras e os sistemas e, eventualmente, vão vencer. Mas, tirando um ou outro caso alardeado, eles não estão tendo muito sucesso até aqui. E isso significa que o setor DeFi está se saindo muito bem.

*Felippe Percigo é um investidor especializado na área de criptoativos, professor de MBA em Finanças Digitais e educa diariamente, por meio da sua plataforma e redes sociais, mais de 100.000 pessoas a investirem no universo cripto com segurança.

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