Argentina multa Worldcoin, de Sam Altman, em R$ 1 milhão por práticas "abusivas"
Projeto busca criar identidade digital global, mas está sendo investigado por diversos países
Repórter do Future of Money
Publicado em 29 de julho de 2024 às 11h21.
Última atualização em 18 de novembro de 2024 às 16h19.
A província de Buenos Aires, na Argentina , anunciou na última semana a aplicação de uma multa de 194 milhões de pesos (pouco mais de R$ 1 milhão, na cotação atual) contra a Worldcoin , projeto comandado por Alex Blania e Sam Altman , atual CEO da OpenAI, a dona do ChatGPT.
Em um comunicado, autoridades da província afirmaram que a medida busca "garantir o cumprimento dos direitos dos consumidores" e envolve ainda a exigência para a empresa eliminar "as cláusulas abusivas contidas em seus contratos" de adesão para novos usuários.
A investigação sobre a Worldcoin teve início neste ano e identificou cláusulas abusivas e também "contradições entre o conteúdo dos contratos e o que foi reportado formalmente pela empresa e as fiscalizações presenciais realizadas em diversos locais da província de Buenos Aires".
"A empresa apelou aos consumidores para fornecerem dados biométricos pessoais e privados – por meio da digitalização da íris do olho e do rosto, com um dispositivo tecnológico chamado Orb – em troca da instalação do aplicativo World App Finance no seu telefone e do recebimento de criptomoedas da empresa Worldcoin", destaca o comunicado.
Segundo as autoridades, as investigações apontaram que a empresa não solicitava documentos para verificação de identidade e não exibia sinalização de requisito de que os usuários tivessem mais de 18 anos, o que poderia resultar no registro de "dados pessoais sensíveis" de menores de idade.
"Entre as diversas cláusulas abusivas detectadas estão aquelas que permitem à empresa interromper o serviço sem qualquer tipo de reparação ou reembolso. E também aquelas que obrigam os usuários a renunciar a reclamações coletivas e estabelecem que as normas aplicáveis, para residentes na Argentina, são leis estrangeiras", diz o comunicado.
A Worldcoin estabelecia ainda que qualquer ação judicial aberta por clientes só seria resolvida com arbitragem nos Estados Unidos, o que é proibido pelas leis da Argentina.
Em nota enviada à EXAME, a Worldcoin disse que "está surpresa com a recente multa imposta pela Diretoria Provincial de Defesa dos Direitos do Consumidor de Buenos Aires e a rejeita. A Fundação acredita que há um mal-entendido fundamental dos fatos e do marco legal e irá recorrer dessa decisão, confiante em sua posição e nos precedentes estabelecidos por tribunais competentes".
"A Fundação Worldcoin continua comprometida em manter práticas transparentes e justas na Argentina, e continuará a manter os mais altos padrões de proteção de privacidade de dados em conformidade com todas as leis e regulamentos aplicáveis nos mercados onde o Worldcoin opera", afirma.
Worldcoin na Argentina
Ariel Aguilar, subsecretário de desenvolvimento comercial e promoção da inovação na província de Buenos Aires, disse que "por um lado, a empresa diz que os dados pessoais são mantidos no Orb e destruídos, e por outro lado, no contrato, diz que são armazenados em outros países".
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De acordo com a autoridade, foi solicitado que a Worldcoin esclarecesse esse ponto, mas o projeto ainda não informou onde os dados biométricos pessoais dos residentes de Buenos Aires são armazenados.
Além das autoridades da província, o projeto também é investigado pelo governo federal da Argentina desde 2023 . Ao mesmo tempo, a iniciativa tem sido um sucesso no país, atraindo milhares de argentinos interessados em obter criptomoedas gratuitas em troca da captura dos dados de íris, chegando inclusive a formar longas filas para o escaneamento .
*A reportagem foi atualizada com a informação correta sobre o valor da multa aplicada contra a Worldcoin