An Eco Electric car is re-charged from city street power point. (Martin Pickard/Getty Images)
AFP
Publicado em 8 de julho de 2021 às 12h14.
Última atualização em 8 de julho de 2021 às 15h45.
A União Europeia (UE) apresenta nesta quinta-feira, 8, uma proposta para reduzir a zero, na próxima década, as emissões de CO2 dos veículos, um passo que indica um possível capítulo final para os carros com motores de combustão interna.
Durante quase um século, a Europa, berço de algumas das marcas mais prestigiadas do mundo, desempenhou um papel central na inovação automobilística, principalmente com seus motores, considerados entre os mais eficientes.
Mas o automóvel se tornou o centro de muitas críticas por suas emissões de gases de efeito estufa.
Em 2020, a UE aumentou suas metas de redução de emissões e visa à neutralidade de carbono até 2050.
E agora quer propor novos regulamentos para atingir esse objetivo. Segundo diferentes fontes, estaria considerando a eliminação completa das emissões dos automóveis até 2035.
Como os veículos elétricos a bateria são, de fato, os únicos que vão conseguir cumprir essa meta, passarão a ser os únicos autorizados no novo mercado.
A Europa já impôs aos fabricantes um limite de 95 gramas de CO2 por quilômetro a partir de 2020 e pode reduzir esse limite em outros 37,5% até 2030.
Os números finais são objeto de discussão, mas, em qualquer cenário, representariam uma imensa limitação para uma indústria que, a partir de 2027, terá de conviver com um significativo endurecimento das medidas antipoluição.
Enquanto o mercado de automóveis está saindo enfraquecido da pandemia, os carros elétricos estão ganhando terreno de forma constante.
Os carros elétricos foram responsáveis por quase 8% dos novos registros na Europa Ocidental nos primeiros cinco meses deste ano, totalizando 356.000 veículos, "mais do que em todo ano de 2019", observou o analista alemão Matthias Schmidt.
Os novos regulamentos irão impulsionar ainda mais esses veículos e ajudarão a abandonar os modelos híbridos, ou recarregáveis, que combinam motor e bateria.
"Estamos abertos a novas reduções de CO2 em 2030", disse recentemente o presidente da Associação Europeia de Fabricantes (ACEA), Oliver Zipse.
Mas o setor, que há muito luta para desacelerar a transição, está profundamente dividido.
A maioria de seus membros acredita que a eletrificação muito rápida aumentaria o preço dos veículos, destruiria empregos e promoveria a competitividade da China, especialmente no segmento estratégico de baterias.
O gigante alemão Volkswagen, que responde por uma em cada quatro vendas na Europa, terá um papel central e se juntou à Tesla na promoção de modelos 100% elétricos depois de se ver envolvida no escândalo dos motores fraudulentos — o chamado "Dieselgate".
"Há um grande conflito dentro da ACEA. Graças ao 'Dieselgate', a Volkswagen se inclinou para o elétrico para melhorar sua imagem. O grupo fez grandes investimentos e agora tem todos os produtos para cumprir a futura legislação", disse Schmidt.
Em junho, a marca anunciou que deixaria de vender motores de combustão na Europa entre 2033 e 2035.
"Um carro costuma ficar em atividade por 15 anos. Se quisermos ter um transporte totalmente livre de carbono até 2050, o último carro com motor a combustão deve ser vendido até 2035", explicou a diretora na França da ONG Transport and Environment, Diane Strauss.
O fim dos motores de combustão em 2035 "é um compromisso adequado entre 2030, muito cedo em um nível industrial e social, e 2040, muito tarde em um nível climático", disse Pascal Canfin, presidente da Comissão de Meio Ambiente do Parlamento Europeu.
Canfin defende, no entanto, a criação de um fundo de "alguns bilhões de euros" para apoiar as centenas de pequenas e médias empresas do setor, ameaçadas pelas mudanças tecnológicas.