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Trabalho escravo na pecuária é foco de novo relatório

Documento identificou mais de uma dúzia de casos em que grandes produtoras como JBS e Minerva abateram gado que poderia ter vindo de fazendas ligadas à exploração de trabalhadores

Pecuária: pesquisa identifica relação entre abatedores e grandes empresas frigoríficas e trabalho escravo (Germano Lüders/Exame)
MC

Maria Clara Dias

Publicado em 4 de janeiro de 2021 às 16h05.

Última atualização em 4 de janeiro de 2021 às 16h25.

Certos pecuaristas que fornecem para alguns dos maiores produtores de carne bovina do Brasil foram acusados de trabalho escravo, de acordo com um novo relatório, o que aumenta a urgência em relação às promessas do governo e de empresas de rastrear a cadeia de abastecimento de carne.

A Repórter Brasil, um grupo de pesquisa independente focado em questões ambientais e trabalhistas, disse que identificou mais de uma dúzia de casos em que JBS, Minerva e quatro pequenos produtores abateram gado que poderia ter sido originado em fazendas acusadas de explorar trabalhadores nos últimos anos.

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Essas fazendas representam uma pequena fração das centenas de milhares de fornecedores diretos e indiretos da JBS e da Minerva. No caso da JBS, as compras foram feitas antes que os infratores fossem incluídos na chamada “Lista Suja”, um banco de dados contínuo do governo que a empresa verifica diariamente para se certificar de que não está violando os compromissos trabalhistas. E o gado que pode ter chegado a uma unidade de abate da Minerva passou de uma fazenda para outra primeiro, o que dificultou o rastreamento dos animais.

Ainda assim, o relatório é outro exemplo da pressão crescente que a indústria de carne bovina enfrenta à medida que investidores e consumidores exigem cadeias de abastecimento mais sustentáveis. Isso também aumenta evidências de que reguladores no Brasil, com restrições de orçamento, podem não estar controlando de perto uma extensa rede de fazendas também acusadas de desmatamento.

No Brasil, a maioria do gado é alimentada a pasto, e pecuaristas que recorrem a práticas irregulares costumam limpar pastagens com queimadas e desmatamento na Amazônia e no Cerrado. Historicamente, o trabalho escravo na pecuária brasileira costuma estar vinculado às queimadas, e não sempre à própria criação de gado.

Segundo a Repórter Brasil, que participou da elaboração dopacto de 2005com empresas como a JBS para abolir a escravidão moderna, fiscais federais que investigaram propriedades acusadas de exploração de trabalhadores encontraram alguns morando em barracos feitos com galhos de árvores, muitas vezes sem acesso a banheiros, cozinhas ou água potável para beber e tomar banho.

A JBS afirmou em comunicado que cumpre rigorosamente todos os seus compromissos de combate ao trabalho escravo e ao desmatamento por meio do monitoramento de fornecedores diretos. Nos casos mencionados, excluiu fazendas assim que apareciam na Lista Suja do governo. A Minerva disse por e-mail que nunca teve relações comerciais com um fornecedor indireto mencionado pela Repórter Brasil e que os dados que “legalmente estão disponíveis para uso oficial” não permitem à empresa encontrar irregularidades no processo de fornecimento de gado.

Embora os três maiores produtores de carne bovina do Brasil - JBS, Marfrig Global Foods SA e Minerva - monitorem os fornecedores diretos de gado para abate, as empresas dizem que não têm como rastrear com precisão de quem essas fazendas compram seus animais. JBS e Marfrig prometeram resolver o problema usando a tecnologia blockchain.

Marcel Gomes, secretário-executivo da Repórter Brasil, disse que não há mecanismo de rastreamento de fornecedores. A maioria das violações, segundo ele, acontece em propriedades que transferem para outras propriedades.

A Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia disse que não pode comentar especificamente os casos porque não teve acesso ao relatório da Repórter Brasil.

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