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Soluções contra a mudança climática nem sempre são as melhores para a biodiversidade

É preciso ter cuidado com "falsas boas ideias", que aliviam um problema mas podem causar efeitos prejudiciais em outro, alerta o coletivo de ONGs Ação Climática.

"Às vezes, ao tentar encontrar uma solução para um problema, corremos o risco de causar danos em outro lugar", explica Anne Larigauderie, secretária-executiva da IPBES (Germano Lüders/Exame)
AFP

Agência de notícias

Publicado em 16 de outubro de 2024 às 11h43.

As soluções contra os efeitos da mudança climática podem ter um impacto contraproducente na biodiversidade e vice-versa, destacam especialistas, que pedem uma abordagem global.

"Às vezes, ao tentar encontrar uma solução para um problema, corremos o risco de causar danos em outro lugar", explica Anne Larigauderie, secretária-executiva da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, sigla em inglês).

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Um exemplo entre muitos: no Reino Unido, para reforçar os sumidouros de carbono, foram plantadas muitas árvores... em zonas úmidas, que também são grandes reservas de carbono. Estas árvores acabaram por secar progressivamente estas áreas, libertando o CO2 que armazenavam.

"No final, plantar estas árvores gerou emissões adicionais, em vez de as eliminar da atmosfera", resume Rick Stafford, presidente do Comitê Político da Sociedade Ecológica Britânica.

Já em 2021, um grupo de trabalho conjunto entre o IPBES e o IPCC, seu homólogo climático na ONU, alertou que abordar o clima e a biodiversidade separadamente poderia, "no pior dos casos, levar a ações que, inadvertidamente, impedem a resolução do problema de um ou de outro", ou mesmo de ambos.

Efeitos prejudiciais

É preciso ter cuidado com "falsas boas ideias", que aliviam um problema mas podem causar efeitos prejudiciais em outro, alerta o coletivo de ONGs Ação Climática.

Depositar ferro nos oceanos para cultivar fitoplâncton, que é uma grande reserva de carbono, pode parecer eficaz à primeira vista.

Porém, poderia causar "danos intensos" aos peixes ou favorecer o desenvolvimento de espécies de plâncton que emitem outros gases com efeito de estufa, como o óxido nitroso, "tudo isso por um benefício climático incerto", diz Alison Smith, professora da Universidade de Oxford.

"As medidas tomadas para mitigar a mudança climática devem ser avaliadas com base em seus benefícios e riscos globais, e não apenas em seu balanço de carbono", explicou a Fundação para a Investigação da Biodiversidade (FRB, sigla em francês) em 2022.

O desenvolvimento da energia eólica para substituir o gás e o carvão reduz as emissões de CO2... mas também pode aumentar a mortalidade de aves migratórias e morcegos.

Da mesma forma, a construção de barragens para energia hidroelétrica ou armazenamento de água doce bloqueia a migração dos peixes.

Soluções de emergência

A geoengenharia, que inclui técnicas de manipulação do clima, como limpar nuvens marinhas com aerossóis para que reflitam melhor os raios solares, "pode gerar grandes danos colaterais", alerta Tom Oliver, da Universidade de Reading, que fala em "soluções de emergência".

Para encontrar soluções, "precisamos de uma abordagem geral" e não concentrada apenas na mudança climática, mas também na biodiversidade e najustiça social, afirma Alison Smith.

Como ela, muitos especialistas promovem soluções baseadas na natureza, com "benefícios combinados para a biodiversidade, o clima e as populações".

Um estudo de 2020 publicado na Global Change Biology concluiu que "as intervenções baseadas na natureza são, na maioria dos casos, tão eficazes, ou até mais eficazes", em 59% dos casos, "do que outras intervenções para combater os efeitos da mudança climática".

Por Delphine Paysant

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