Solução para problema do lixo está em designers conscientes, diz estudo
Guia da Fundação Ellen MacArthur indica que solução para a poluição global por plástico vem das etapas iniciais de produção
Maria Clara Dias
Publicado em 30 de novembro de 2020 às 11h48.
Última atualização em 30 de novembro de 2020 às 16h03.
Criado em 2018, o Compromisso Global por uma Nova Economia do Plástico incentiva mais de 500 empresas a se comprometerem para, de forma gradual, empregarem plásticos reutilizados ou compostáveis em 100% das suas embalagens até 2025.
Entre as companhias brasileiras a assumirem o compromisso sustentável está a Natura, que já atingiu 56% da meta em 2019, e a Ambev, que anunciou ter alcançado 30% da meta total ainda em 2020.
Segundo estudo global da fundação Ellen MacArthur, instituição sem fins lucrativos que desenvolve e promove a economia circular em empresas, amenizar o impacto ambiental causado pela produção e descarte de itens plásticos depende da capacitação de profissionais envolvidos no processo de produção. De acordo com o estudo, chamado de “Inovação na Origem: um guia de soluções para embalagens”, designers, profissionais de marketing e engenheiros são as figuras centrais em uma nova lógica de inovação sustentável.
Thaís Vojvodic, gerente da nova economia do plástico na Fundação Ellen MacArthur, diz que trazer mais inovação na origem é alterar o início da cadeia de produção. “Focar os esforços na origem significa, antes de mais nada, evitar que os resíduos sejam criados”, afirma. “Em vez de limitá-los a esforços no fim da cadeia como a reciclagem - as empresas podem evitar a geração de resíduos”, diz.
A mentalidade inovação nas empresas deve estar aplicada a três estratégias da economia circular: eliminação, reuso e circulação de materiais. O estudo aponta as principais tendências para eliminação de plástico. Entre elas está a remoção de embalagens, filmes plásticos e lacres desnecessários. Apoiado por estudos de caso de todo o mundo, o guia aponta empresas que têm destacado com projetos inovadores de economia circular nessas três frentes.
O Walmart foi uma das empresas a remover filmes plásticos de seus produtos. O estudo aponta que a rede varejista tem deixado de usar o material transparente para embalar produtos de cuidados pessoais. Ao final do 2022, a estimativa é de que a iniciativa terá eliminado mais de 8 toneladas de plástico.
A Samsung também é citada como exemplo de eliminação do material. A empresa de eletrônicos extinguiu o plástico que envolve os carregadores de smartphones, substituindo o brilho das peças por um material fosco que dispensa proteção plástica.
Sob o ponto de vista do reuso, a Fundação Ellen MacArthur destaca o investimento de 500 milhões de dólares da Cola-Cola América Latina para colocar em andamento o seu projeto de garrafa PET universal. O design do produto pode ser compartilhado entre diferentes marcas de refrigerante, reduzindo até 47% das emissões dos gases de efeito estufa, quando comparadas às garrafas PET de uso único.
Inovação na prática
Para Thaís, para trazer a inovação para a cadeia de produção do Brasil, é preciso que empresas passem a enxergar a oportunidade de criarem produtos duráveis. “Hoje, a maior parte dos produtos são pensados para ter uma vida única. A solução para isso é que companhias passem a olhar para um produto pensando no que ele pode se tornar no futuro”, diz. Segundo ela, apesar de ter um contexto diferente do que é visto globalmente, sobretudo na Europa, o Brasil tem iniciativas positivas, tal como cooperativas de grande porte - e também pode se destacar em inovação no setor. “Existem várias formas de inovação, mas elas acabam sendo consequência de um processo de produção consciente”, diz.